EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 7/7 (Final), artigo de Roberto Naime

 

artigo

 

A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 7/7 (Final), artigo de Roberto Naime

[EcoDebate] SILVA et al (1997) assinalam que apesar dos confrontos entre as diferentes correntes de pensamento atual, Fucks argumenta que as grandes questões ambientais parecem tender a um posicionamento consensual entre os atores.

De acordo com VIOLA & LEIS, ao final da década de 80, o movimento ambientalista possuía duas posições distintas.

Uma minoritária, que não assumia nem as características, nem as regras da dimensão política, enfatizando atitudes éticas e espirituais de tendência biocêntrica.

E outra majoritária, que assumia plenamente a dimensão política, sendo esta subdividida em uma subclasse minoritária, a qual achava necessária uma rápida e intensa disseminação de valores ecológicos, com redistribuição do poder político-econômico em níveis local e global.

E em uma subclasse majoritária, de caráter reformista, que apontava para a necessidade da adoção gradual de um novo modelo de desenvolvimento o qual, baseado na racionalidade científica, interiorizasse a sustentabilidade social e ambiental (VIOLA & LEIS, 1992).

SILVA et al (1997) assinalam que a ciência se move do conhecido para o desconhecido, tentando revelar as regularidades, as leis, os processos que se acham escondidos nas aparências, em que o método significa o caminho a ser seguido.

Atualmente, por meio das Ciências da Complexidade, buscam-se teorias que possibilitem decifrar a linguagem universal dos padrões evolutivos para os quais todos os sistemas se dirigem.

Partindo das descobertas da termodinâmica, da física quântica, transportando-as para a biologia evolucionária dos sistemas vivos, as ciências encontram seus limites onde a relação entre o particular e o universal continua um desafio em aberto.

Deste modo, a complexidade poderia ser útil para uma melhor compreensão da realidade social e ambiental que vivenciamos, indicando a necessária integração, mediante uma Ecologia Complexa.

O cartesianismo contribui para o fracionamento e a internalização, tanto nos indivíduos, quanto nas instituições, sendo preciso buscar alternativas metodológicas, técnico-científicas, político-institucionais, industriais e comportamentais, incorporando todos os setores envolvidos com as questões sociais e ambientais emergentes.

Para enfrentar tais desafios, se concorda com JONAS (1973) ao afirmar que não há uma receita única, mas somente muitos caminhos como compromissos que deverão hoje e sempre ser procurados em uma vigilância a cada instante.

Quanto à viabilização de uma nova prática para o desenvolvimento, Brüseke indica a necessidade de aprimoramento das teorias, considerando-se a pluridimensionalidade da sociedade global no seu contexto natural.

As propostas para um desenvolvimento sustentável, embora não consensual entre diversos autores, apontam nesta direção.

A introdução de elementos das discussões sobre sistemas dinâmicos não lineares parece oportuna e também foi realizada por Fernando Spilki e Roberto Naime no “Padrão de (des)ordem da natureza da editora da Universidade FEEVALE.

Há que se elaborar melhor a capacidade de interpretação, na tentativa de se preverem os riscos de fracasso de novas propostas de desenvolvimento, mesmo que estas levem em conta as limitações ecológicas e sociais em seu bojo (BRÜSEKE, 1993).

É necessário realizar previsões e tomar decisões num contexto de incertezas, de riscos tecnológicos, ambientais estruturais e de proporções globais, como determina a sociedade de risco de Ulbrich.

SILVA et al (1997) descreve que quanto aos desdobramentos futuros para a humanidade de questões como a desordem global da biosfera, podem-se vislumbrar alguns cenários possíveis, tais como, continuidade desequilibrante, eco-autoritarismo, centralismo ecológico global com auto-organização democrática local e auto-eco-organização global (VIOLA & LEIS, 1991).

Contudo, para evitar que os embates produzam decisões autoritárias, se faz necessária a construção de uma ética que possibilite orientar os rumos da tecnociência e da política em nível mundial.

Hottois propõe uma ética de solidariedade para a era da tecnociência, sendo baseada num diálogo aberto, que determina um confronto pluralista e interdisciplinar e também na ética reguladora.

Pragmatismo, não-exclusão de apropriações, ética da ambivalência, no sentido de ser esta uma escolha, e não uma conclusão lógica, ou um resultado mecânico, ética evolutiva e da reversibilidade dos princípios e ética da corresponsabilidade (HOTTOIS, 1994) são adequados para a situação contextual.

Para FERRY (1994), é além do cartesianismo e do utilitarismo, assim como da ecologia fundamentalista, que se deve elaborar uma teoria dos deveres com a natureza, sendo importante realizar uma fenomenologia dos sinais do humano na natureza para se ter acesso à consciência clara do que pode e deve ser valorizado.

A partir disto e impondo limites ao intervencionismo da tecnociência, é que a ecologia democrática poderia responder aos desafios lançados.

A sorte está lançada, é preciso criar uma nova autopoiese sistêmica para a civilização humana, sem apelos ideológicos inúteis e o uso de apanágios científicos inovadores ou não, mas meramente camufladores.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

Nota da Redação: Sugerimos que leia, também, as partes anteriores desta série de artigos:

A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 1/7

A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 2/7

A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 3/7

A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 4/7

A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 5/7

A questão ambiental entre a ciência e a ideologia, Parte 6/7

 

Referências:

ACOT, P., 1990. História da Ecologia. Rio de Janeiro: Campos.

ANDERSON, T. L. & LEAL, D., 1992. Ecologia de Livre Mercado. Rio de Janeiro/Porto Alegre: Expressão e Cultura/Instituto Liberal.

BERTALANFFY, L. V., 1977. Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Vozes.

BORNHEIM, G., 1989. Tecnologia e política. In: Anais do Seminário Universidade e Meio Ambiente: Documentos Básicos, pp. 165-167, Brasília: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ­ IBAMA.

BRUNDTLAND, G.H., 1991. Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.

BRÜSEKE, F. J., 1993. Para uma teoria não-linear e pluri-dimensional do desenvolvimento. In: As Ciências Sociais e a Questão Ambiental Rumo à Interdisciplinaridade (P. F. Vieira & D. Maimon, orgs.), pp. 189-216, Rio de Janeiro/Belém: Associação de Pesquisa e Ensino em Ecologia e Desenvolvimento ­ APED/Universidade Federal do Pará ­ UFPA.

CHÂTELET, F., 1994. Uma História da Razão: Entrevistas com Emile Noël. Rio de Janeiro: Zahar.

COMUNE, A. E., 1994. Meio ambiente, economia e economistas. Uma breve discussão. In: Valorando a Natureza (P. H. May & R. S. da Motta, orgs.), pp. 45-58, Rio de Janeiro: Campus.

COSTA, W. M., 1989. Bases epistemológicas da questão ambiental: determinações, mediações e contradições. In: Anais do Seminário Universidade e Meio Ambiente: Documentos Básicos, pp. 99-105, Brasília: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis/IBAMA.

COUTINHO, M., 1992. Ecologia e Pensamento Ambientalista. Uma Reflexão acerca do Tráfego de Idéias e Conceitos. Tese de Doutorado, São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais, Universidade de São Paulo.

CRAMER, J. & VAN DEN DAELE, W., 1985. Ecology an “alternative” natural science? Synthese, 65:347-400.

DESCARTES, R., 1966. Discours de la Méthode. Paris: Garnier-Flammarion.

DUPUY, J. P., 1980. Introdução à Crítica da Ecologia Política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

EDMUNDS, S. & LETEY, J., 1975. Ordenación y Gestion del Medio Ambiente. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local.

FERNANDEZ, M. I. T., 1995. Acerca del Ver, Pensar, Actuar y Salud. Tese de Doutorado, Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz.

FERRY, L., 1994. A Nova Ordem Ecológica: A Árvore, o Animal e o Homem. São Paulo: Ensaio.

FUCKS, M., 1992. Natureza e meio ambiente: a caminho da construção de um consenso social. In: Ecologia, Ciência e Política (M. Goldenberg, coord.), pp. 121-134, Rio de Janeiro: Revan.

HABERMAS, J., 1983. Textos Escolhidos. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural.

HOTTOIS, G., 1994. Vérité objective, puissance et système, solidarité. (D’ une étique pour l’age technoscientifique). Revue Transdisciplinaires en Santé, 1:69-84.

JONAS, H., 1973. Philosophical Essays: From Ancient Creed to Technological Man. Chicago/Londres: The University of Chicago Press

LADRIÈRE, J., (s/data). Ética e Pensamento Científico: Abordagem Filosófica da Problemática Ética. São Paulo: Letras & Letras.

LAGO, A. & PÁDUA, J. A., 1985. O que é Ecologia? São Paulo: Brasiliense.

LEOPOLD, A., 1949. A Sand Country Almanac and Sketches Here and There. New York: Oxford University Press.

MCCORMICK, J., 1992. Rumo ao Paraíso: A História do Movimento Ambientalista. Rio de Janeiro: Relume-Dumará.

MEADOWS, D. H., 1978. Limites do Crescimento.Um Relatório para o Projeto do Clube de Roma sobre o Dilema da Humanidade. Coleção Debates. São Paulo: Perspectiva.

MORI, M., 1994. L’ambiente nel dibattito etico contemporaneo. In: Costituzioni, Razionalità, Ambiente, (S. Scamuzzi, org.), pp. 91-127, Torino: Bollati-Boringhieri.

MORIN, E., 1977. O Método I: A Natureza da Natureza. Portugal: Europa-América.

MOSCOVICI, S., 1977. A Sociedade contra Natureza. Lisboa: Bertrand.

NAESS, A., 1973. The shallow and the deep, long-range ecology movement. Inquiry, 16:95-100.

ODUM, E. P., 1971. Fundamentals of Ecology. 3a ed., Filadélfia: W. B. Saunders Company.

ODUM, E. P., 1986. Ecologia. Rio de Janeiro: Ed.Guanabara.

PIAGET, J. & GARCIA, R., 1987. Psicogênese e História das Ciências. Lisboa: Dom Quixote.

PRIGOGINE, I. & STENGERS, I., 1992. Entre o Tempo e a Eternidade. São Paulo: Companhia das Letras.

RIBEIRO, G. L., 1992. Ambientalismo e desenvolvimento sustentado: nova ideologia/utopia do desenvolvimento. In: Meio Ambiente, Desenvolvimento e Reprodução ­ Versões da ECO 92 pp. 5-36, Rio de Janeiro: Instituto de Estudos da Religião.

ROSSET, C., 1989. A Anti-Natureza: Elementos para uma Filosofia Trágica. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo.

SCHMIDHEINY, S., 1992. Mudando de Rumo: Uma Perspectiva Empresarial Global sobre o Desenvolvimento e o Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.

SCHRAMM, F. R., 1992. Ética e ecologia: algumas reflexões comuns. In: Saúde, Ambiente e Desenvolvimento: Uma Análise Interdisciplinar (M. C. Leal; P. C. Sabroza; R. H. Rodriguez & P. M. Buss, orgs.), pp. 207-216, São Paulo: Hucitec/Rio de Janeiro: Abrasco.

SCHWARZ, W. & SCHWARZ, D., 1990. Ecologia: Alternativa para o Futuro. São Paulo: Paz e Terra.

SINGER, P., 1994. Ética Prática. São Paulo: Martins Fontes.

TAUK-TORNISIELO, S. M.1995. Análise ambiental: os princípios da interdisciplinaridade. In: Análise Ambiental. Estratégias e Ações (S. M. Tauk-Tornisiello; N. Gobbi; C. Foresti & S. T. Lima, orgs.), pp. 9-17, São Paulo: T. A. Queiroz/Editora da Universidade Estadual Paulista.

THOMAS, K., 1989. O Homem e o Mundo Natural. Mudanças de Atitudes em Relação às Plantas e aos Animais (1500-1800). São Paulo: Companhia das Letras.

VIOLA, E. 1992. O movimento ambientalista no Brasil (1971-1991): da denúncia e conscientização pública para a institucionalização e o desenvolvimento sustentável. In: Ecologia, Ciência e Política (M. Goldenberg, coord.), pp. 49-75, Rio de Janeiro: Revan.

VIOLA, E. J. & LEIS, H. R., 1991. Desordem global da Biosfera e a nova ordem internacional: o papel organizador do ecologismo. In: Ecologia e Política Mundial (H. R. Leis, org.), pp. 23-50. Rio de Janeiro: Vozes.

VIOLA, E. J. & LEIS, H. R., 1995. O ambientalismo multissetorial no Brasil para além da Rio-92: o desafio de uma estratégia globalista viável. In: Meio Ambiente, Desenvolvimento e Cidadania: Desafios para as Ciências Sociais (UFSC, ed.), pp. 134-160, São Paulo: Cortez/Florianópolis: Editora da Universidade Federal de Santa Catarina.

SILVA, Elmo Rodrigues, SCHRAMM, Fermin Roland, A questão ecológica: entre a ciência e a ideologia/utopia de uma época, Cad. Saúde Pública vol. 13 n. 3 Rio de Janeiro Jul./Sep. 1997, http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X1997000300002

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 09/08/2018

[cite]

 

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394,

Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para newsletter_ecodebate+unsubscribe@googlegroups.com ou ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.