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Sobre funcionalidades e serviços ecossistêmicos, artigo de Roberto Naime

 

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Sobre funcionalidades e serviços ecossistêmicos, artigo de Roberto Naime

[EcoDebate] No desenvolvimento de sistemas, o processo funcionalidade é definido como um comportamento ou uma ação para a qual possa ser determinado um início e um fim; isto é: algo passível de execução e que realize atividade e exerça influência, gerando consequências no sistema considerado. As execuções de funcionalidades podem ser identificadas em termos de entrada e saída de entidades específicas ou de atributos que sejam pertencentes a entidades específicas.

Funcionalidades podem ser levantadas pela análise do ciclo de vida de conjuntos e entidades, identificando as ações necessárias para a operação do conjunto. Por isso, entes isolados dos sistemas, não tem consciência da vitalidade e da importância da ação que exercem dentro do conjunto holístico e nem por isso são menos importantes. E menos ainda tem noção ou concepção o resultado final da autopoiese sistêmica. Nos ecossistemas é bem assim. Se uma bactéria desnitrificadora não exerce sua função adequadamente, não se desenvolve a planta e não ocorre fotossíntese e existe depleção para toda a cadeia alimentar.

Sistemas podem ser naturais ou artificiais, como uma empresa ou empreendimento. Em organizações empresariais, receber pedidos, emitir fatura, encerrar contrato, calcular saldo de conta são nomes de entidades cujas ocorrências são manipuladas durante a execução da atividade. Conta é um tipo de entidade com um atributo denominado saldo que é modificado pela atividade calcular saldo de conta.

A descrição de uma funcionalidade deve definir uma única execução sua instância, exprimindo o que ela faz e como ela o faz. Que organismo é responsável pela sua execução, o momento da operação e a forma como a função é exercida. É recomendável também apresentar na descrição o conjunto de pré-condições para uma execução da funcionalidade e as pós-condições que podem surgir dessa execução. Esta é quase uma definição de ecossistema.

A ecologia da paisagem permite analisar os principais ecossistemas. Por ser um campo integrador de estudo que une a teoria ecológica, que trata da troca de materiais bióticos e abióticos entre os ecossistemas, em conjunto com a investigação das ações humanas como respostas aos processos ecológicos, permite a inserção de parâmetros sociais que possam interferir na dinâmica ecossistêmica e com isso gerando construção integrada.

De acordo com Eugene Odum, no seu clássico “Ecologia”, os princípios e conceitos de ecologia da paisagem ajudam a fornecer o fundamento teórico e empírico para uma gama diversificada de ciências aplicadas, tais como a ecologia dos agrossistemas, o planejamento ambiental e o manejo dos recursos naturais. Deste modo este arranjo pode ser aplicado em análises voltadas a compreensão das interferências antrópicas na dinâmica da natureza.

A grande maioria dos sistemas constitui biomas heterogêneos, diretamente influenciados pela dinâmica de todos os seus elementos componentes. Ao longo do processo de ocupação dos territórios, os ecossistemas são alterados para a formação de pastos ou monoculturas, ou ainda pela intensa exploração madeireira. Este cenário sempre compromete a funcionalidade do bioma como um todo, considerando as suas particularidades ecossistêmicas, no concernente a ciclagem de nutrientes.

Sendo a paisagem entendida conforme BERTRAND (2004), como “o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução”. Desta forma, se observa que a paisagem contém uma dimensão física e temporal, o que permite a sua discretização no espaço geográfico por meio de técnicas de análise espacial, tais como a cartografia, o geoprocessamento e o sensoriamento remoto.

No âmbito desta apropriação, o uso de mapas é fundamental. Por meio dos mapas, podem-se observar as inter-relações, temporal e espacial, existentes entre os componentes da paisagem a partir de uma abordagem holística, que contempla tanto os aspectos sociais hierarquizados e a subordinação dos meios físicos e biológicos a estes arranjos. A tais conjuntos se denomina de “geobiossistemas”.

Na atualidade, diante da magnitude dos problemas ambientais, se precisa desenvolver métodos e técnicas de pesquisa que superem a abordagem quantitativa. E considerem as características dos processos em relação a sua natureza e funcionalidade.

Diante das possibilidades que a ecologia da paisagem apresenta, considera-se uma grande oportunidade operacional para a realização de análises integradas dos problemas socioambientais, substancial à concretização do desenvolvimento com sustentabilidade.

RAUDSEPP-HEARNE, et al (2010), descrevem as categorias dos serviços ecossistêmicos, como sendo serviços de provisão, regulação, culturais e de suporte. Argumentam que 60% desses serviços estão em declínio; o que ocorre na maioria dos serviços de regulação e suporte. Somente serviços de provisão estão em expansão. Também registram que, as funções exercidas pelo consumo de serviços ecossistêmicos, crescem em níveis próximos a 80%.

Neste contexto, RAUDSEPP-HEARNE, et al (2010) estabelecem o que consideram como paradoxo ambientalista. Como explicar a melhoria de qualidade de vida das pessoas se os serviços ecossistêmicos estão em declínio?

RAUDSEPP-HEARNE, et al (2010) asseveram algumas hipóteses para serem testadas. Ocorre uma mensuração inadequada do bem-estar humano. Ou os serviços de provisão são os mais importantes para o bem-estar humano. A hipótese compensatória do uso da tecnologia e inovação, desvincularam bem-estar humano dos serviços ecossistêmicos. Ou finalmente, existe um intervalo de tempo entre a degradação dos serviços ecossistêmicos e seus efeitos sobre o bem-estar humano.

Ocorre desejar que a espécie humana recupere seu protagonismo e imponha a compatibilização vivencial com as características da natureza. Para melhoria da qualidade ambiental e qualidade de vida de todas as populações.

Referências:

BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global. Esboço Metodológico. In: R. RA’ E GA .Editora UFPR, Curitiba, n. 8, 2004. (p.141-152).

HOMMA, A. K. O. Amazônia: como aproveitar os benefícios da destruição. In: ESTUDOS AVANÇADOS 19 (54), 2005

METZGER, J. P. O que é ecologia de paisagens?.In: Biota Neotropica, Campinas/SP, v1, n1, Dez. 2001. WU, J. Effects of changing scale on landscape pattern analysis: escaling relations. In: Landscape Ecology 19: 125-138, 2004.

RAUDSEPP-HEARNE, Ciara et al. Untangling the Environmentalist’s Paradox: Why Is Human Well Being Increasing as Ecosystem Services Degrade? BioScience, September 2010, Vol. 60 nº 8

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/05/2018

[cite]

 

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