EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Geoquímica Urbana: Poeira Doméstica, artigo de Carlos Augusto de Medeiros Filho

 

 

[EcoDebate] Comentei em outro artigo (EcoDebate, 2017) a desagradável sensação de verificar poeiras acumuladas nas cortinas das janelas da casa. Já em uma recente conversa, um amigo relatou o incômodo de constante deposição de poeiras no seu lar, trazidas pelo vento e decorrentes, principalmente, de rejeitos mineiros localizados nas proximidades.

A “poeira doméstica” é um componente da geoquímica urbana com crescente incremento na pesquisa acadêmica. Torres-Sanchez et al. (2017) discutiram anomalias geoquímicas de elementos associados a sulfetos (Cu, As e Cd) derivados de atividades industriais e identificados em poeiras domésticas na cidade de Huelva, no SW da Espanha. Na introdução desse trabalho, os autores traçaram um cenário das pesquisas desenvolvidas sobre esse importante e instigante assunto dentro da geoquímica urbana. Uma síntese dessa introdução é transcrita a seguir.

A qualidade do ar no interior de domicílios é uma questão de crescente interesse nas últimas décadas em ambientes urbanos. Estima-se que os adultos gastem perto de 90% de sua vida dentro de casas, incluindo lares e locais de trabalho, expostas à poeira doméstica (US EPA, 1997). Cerca de 1/5 do pó suspenso no ar pode entrar no sistema respiratório, representando um potencial risco para a saúde, dependendo da sua composição química (Lu et al., 2014).

Uma fonte principal que contribui para a poeira doméstica é a poeira de rua, que é originária de partículas atmosféricas (PM) (Finalisson-Pitts and Pitts, 2000). As complexas composições químicas orgânicas e inorgânicas das PM são referidas como “coquetel químico” por alguns autores (Moreno et al., 2006). PM podem conter diversos elementos tóxicos, incluindo metais e metaloides (p.ex., Cd, Pb, As, Cu e Cr) que são prejudiciais para saúde humana (Fontúrbel et al., 2011; Zheng et al., 2013; Turner and Simmonds, 2006). Alguns estudos mostram que a poeira de rua contribui de 20-95% para poeira doméstica (Meyer et al., 1999; Rasmussen et al., 2001). Consequentemente, casas próximas a áreas industriais podem ter uma concentração de metal mais alta do que casas longe delas. Da mesma forma, casas nos arredores podem ter menor concentração de metal do que casas no centro da cidade, especialmente se eles estão rodeados por jardins ou parques (Rasmussen et al., 2013).

Além da poeira da rua, outras fontes que contribuem à formação e à composição química da poeira doméstica são sistemas de ventilação ineficientes, a idade e material da casa e o tipo do telhado (Kim and Fergusson, 1993; Darus et al., 2012). Existem também fontes interiores, como por exemplo, combustão doméstica, fumaça de cigarro e tintas de parede (Hassan, 2012; Lucas et al., 2014).

Poucos estudos existem sobre a composição química da poeira doméstica em cidades afetadas por atividades metalúrgicas (Fontúrbel et al., 2011). Nesse sentido, Torres-Sanchez et al. (2017) procuraram estudar a composição geoquímica da poeira doméstica de Huelva (sudoeste de Espanha), uma cidade cercada por grandes instalações industriais com vários tipos de atividades (por exemplo, fundição de cobre, fábrica de ácido fosfórico e refinaria de petróleo), afetando sua qualidade do ar.

Os estudos e discussões sobre a química e fontes das poeiras domésticas, com suas implicações para a saúde humana são, portanto, comprovações da importância e complexidade dessa matéria dentro da ciência da geoquímica urbana.

Referências Bibliográficas

Darus, F.M., Nasir, R.A., Sumari, S.M., Ismail, S., Omar, N.A., 2012. Heavy metals composition of indoor dust in nursery schools building. Porcedia Soc. Behav. Sci. 38, 169–175.
Finalisson-Pitts, B.J., Pitts Jr., J.N., 2000. Chemistry of the Upper and Lower Atmosphere. Academic Press, San Diego (969 pp).

Fontúrbel, F.E., Barbieri, E., Herbas, C., Barbiera, F.L., Gardon, J., 2011. Indoor metallic pollution related to mining activity in the Bolivian Altiplano. Environ. Pollut. 159, 2870–2875.

Hassan, S.K.M., 2012. Metal concentrations and distribution in the household, stairs and entryway dust of some Egyptian homes. Atmos. Environ. 54, 207–215.

Kim, N., Fergusson, J., 1993. Concentrations and sources of cadmium, copper, lead and zinc in house dust in Christchurch, New Zealand. Sci. Total Environ. 138, 1–21.

Lu, X., Zhang, X., Li, L.Y., Chen, H., 2014. Asessment of metals pollution and health risk in dust from nursery schools in Xi’an, China. Environ. Res. 128, 27–34.

Lucas, J.P., Bellanger, L., Le Strat, Y., Le Tertre, Al., Glorennec, P., Le Bot, B., Etchevers, A., Mandin, C., Sèbille, V., 2014. Source contributions of lead in residential floor dust and within-home variability of dust lead loading. Sci. Total Environ. 470-471, 768–779.

Medeiros Filho, C.A. 2017. Cortina e Poluição Urbana. in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/02/2017.

Meyer, I., Heinrich, J., Lippold, U., 1999. Factors affecting lead and cadmiumlevels in house dust in industrial areas of eastern Germany. Sci. Total Environ. 234, 25–36.

Moreno, T., Querol, X., Alastuey, A., Viana, M., Salvador, P., Sánchez de la Campa, A.M., Artiñano, B., de la Rosa, J., Gibbons, W., 2006. Variations in atmospheric PM trace metal content in Spanish towns: illustrating the chemical complexity of the inorganic urban aerosol cocktail. Atmos. Environ. 40, 6791–6803.

Rasmussen, P.E., Subramanian, K.S., Jessiman, B.J., 2001. A Multi-element Profile of Housedust in Relation to Exterior Dust and Soils in the City of Ottawa, Canada. 267 pp. 125–140.

Rasmussen, P.E., Levesque, C., Chènier, M., Gardner, H.D., Jones-Otazo, H., Petrovic, S., 2013. Canadian House Dust Study: Population-based Concentrations, Loads and Loading Rates of Arsenic, Cadmium, Chromium, Copper, Nickel, Lead, and Zinc Inside Urban Homes. 443 pp. 520–529.

Torres-Sanchéz, R.; De la Campa, A.M.S.; Sánchez-Rodas, M.B.D.; Rosa, J.D. 2017. Geochemical anomalies of household dust in an industrialized city (Huelva, SW Spain). Science of the Total Environment 587–588, 473–481.

Turner, A., Simmonds, L., 2006. Elemental concentrations and metal bioaccessibilllity in UK household dust. Sci. Total Environ. 371, 74–81.

US EPA, 1997. Exposure Factors Handbook. EPA/600/P-95/002Fa-c. U.S. EPA National Center for Environmental Assessment, Office of Research and Development, Washington, DC.

Zheng, J., Chen, K., Yan, X., Chen, S.J., Hu, G.C., Peng, X.W., Yuan, J., Mai, B.X., Yang, Z.Y., 2013. Heavy metals in food, house dust, and water from an e-waste recycling area in South China and the potential risk to human health. Ecotoxicol. Environ. Saf. 96, 205–2012.

Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 30 anos em Pesquisa Mineral.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/05/2017

[cite]

 

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394,

Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para newsletter_ecodebate+unsubscribe@googlegroups.com ou ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.