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Transposições de Pirro, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

 

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O pânico da irrigação do vale do São Francisco

[EcoDebate] A transposição de águas do Tocantins para o São Francisco tomou conta da mídia de Juazeiro e Petrolina por esses dias. Juntos, autoridades e empresários do setor pedem imediata transposição para salvar seus projetos irrigados.

O pedido chegou a ser feito diretamente pelo prefeito da cidade à presidenta Dilma quando ela veio inaugurar mais unidades do “Minha Casa, Minha Vida” aqui em Juazeiro.

A presidenta respondeu que uma obra como essa demanda “bilhões e bilhões”. Será que o obreireismo da presidenta tomou algum juízo?

Na semana seguinte Dilma inaugurou simbolicamente o Eixo Norte da Transposição do rio São Francisco para regiões do Ceará e Rio Grande do Norte. Nem o governo, nem Dilma, nem a mídia do São Francisco fizeram qualquer vinculação entre as transposições e o assassinato do Velho Chico.

O fato é que o São Francisco está com apenas 900 m3/s no lugar que mais tem água, isto é, à jusante de Sobradinho em direção à Itaparica. Quando o governo discutia conosco a Transposição do São Francisco para o Nordeste Setentrional, nos garantia que a vazão segura a partir de Sobradinho era de 1800 m3/s.

Portanto, a água garantida pelas autoridades e corporações técnicas simplesmente não existe mais.

O debate dos irrigantes na região é que, se não chover até Setembro, alguns projetos de irrigação terão seu acesso à água interrompido por absoluta falta dela nas áreas de captação. Assim, o projeto Nilo Coelho em Petrolina, com 12 núcleos, teria que fazer um flutuante de cerca de 4 km para captar água no lago de Sobradinho. O custo está orçado em mais de 60 milhões de reais.

O Maniçoba, em Juazeiro, que capta no leito do rio abaixo de Juazeiro, teria que fazer um flutuante para captar no meio do rio. A derrubada do barranco, com máquinas, para aproximar a tomada de água, não surtiu efeito.

Então, duas cidades montadas em torno da irrigação, de repente veem seus projetos ameaçados de irem para o balaio exatamente por falta de água. Daí o desespero de pedir a transposição do Tocantins para o São Francisco.

Há uma tremenda ilusão a esse respeito, já que apenas expande o modelo predador. Uma obra dessas leva décadas e custa bilhões. Segundo, é o atestado de óbito do São Francisco. É como dizer: “o São Francisco não tem salvação, agora a salvação é transpor o Tocantins para cá”.

A região é o exemplo do modelo insustentável de desenvolvimento. A expansão da demanda de água ilimitada agora mostra seus limites. Como sempre dissemos, a inflexão só viria com os impasses. E eles se fazem cada vez mais assombrosos também para o setor econômico.

Só para lembrar, a transposição do São Francisco para o Setentrional nem começou. Portanto, se falta água hoje até para os projetos de irrigação de Juazeiro e Petrolina, onde vão achar água para expandir o modelo baseado na irrigação para outros estados?

Esse poço não tem fundo, mas o São Francisco tem.

Roberto Malvezzi (Gogó), Articulista do Portal EcoDebate, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

 

in EcoDebate, 02/09/2015

[cite]


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One thought on “Transposições de Pirro, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

  • Paulo Afonso da Mata Machado

    Malvezzi aborda um assunto importante: o uso de água para agricultura.
    Ontem Lemos neste blog notícia de um relatório da ÔNU abordando a questão do reuso da água na agricultura.
    Enquanto o Estado de Israel promove a irrigação de sua agricultura com uma vazão total de apenas 40 m3/S, o São Francisco se dá ao luxo de fornecer 48 m3/S para um único projeto de irrigação.
    Quando ainda se debatia se o São francisco teria água para a transposição, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) contabilizou outorgas que já haviam sido concedidas nos rios da bacia do São Francisco de 335 m3/s. Trata-se de um absurdo tão grande que o comitê da bacia resolveu cobrar por essas outorgas e muitas delas foram canceladas.
    Portanto, não vamos culpar São Pedro porque a vazão a jusante de Sobradinho teve que ser reduzida à metade. A culpa está muito mais nos pivôs centrais e em outros métodos obsoletos de irrigação ainda usados na bacia.

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