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Gilberto Câmara diz que o Deter não mede corte raso, mas as alterações florestais

Sistema é usado para alertar Ibama e evitar desmate total de determinada área – Na última sexta-feira (29/2), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) organizou uma mesa-redonda para discutir o desmatamento da Amazônia e os resultados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Gilberto Câmara (Diretor do Inpe), Carlos Nobre (pesquisador titular do Inpe) e Adalberto Val (Diretor do Inpa e vice-presidente regional da ABC para a Amazônia) fizeram parte da mesa.

No evento, o presidente da ABC, Jacob Palis Junior, ressaltou a importância, seriedade e, sobretudo, a competência do Inpe como órgão monitorador de desmatamento da floresta amazônica. Em seguida, Palis passou a palavra para o diretor do Inpe.

Gilberto Câmara abriu o debate falando sobre os diferentes processos de desmatamento. De acordo com ele, há várias formas de desmatar: “O corte raso e a degradação progressiva são apenas algumas formas de desmatamento da Amazônia. A primeira usa o corte intensivo e rápido, sendo este o mais usado na região. Ao final deste processo, o pasto se compõe de gramínea africana, resistente ao fogo. Já a segunda forma é mais lenta, podendo durar de dois a três anos. No início deste processo a madeira é retirada, depois há a queima total. No último estágio, é feito o corte raso”, conta.

Segundo Câmara, depois do processo de retirada da madeira, queimada, há o processo de corte raso que, para ele, é o processo final de desmatamento. Ele diz que, com base na forma do processo de desmatamento, o Inpe, no passado, teve que fazer algumas escolhas: “quando começamos a monitorar o desflorestamento na Região Norte, o Inpe optou por medir o que era mais objetivo e fácil, o corte raso, que é o fim do processo de desmatamento”.

“Como a maior parte do desmatamento na Amazônia se dava por corte e queima, não havia a previsão sobre o corte rápido, algo comum na região. Mas, a partir do momento que o objetivo passa a ser o de medir o que acontecia antes do corte raso, começa a se usar o sistema Deter”, diz o diretor do Inpe.

O Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real) é um sistema que usa imagens de resolução moderada, capturadas a cada três dias. Além disso, de 15 em 15 dias, a equipe do Programa de Monitoramento Ambiental da Amazônia faz um inventário sobre o que parece ser desmatamento novo e envia para o Ibama.

“Além de entregarmos os resultados para o Ibama, nós sintetizamos tudo o que está acontecendo na floresta e colocamos na Internet (http://www.obt.inpe.br/deter/). O que fazemos é um mapeamento contínuo sobre alterações da cobertura florestal, que podem indicar alguma coisa que esteja acontecendo e que seja interessante para o Ibama verificar”, explica Dalton de Morisson, coordenador do Programa de Monitoramento Ambiental da Amazônia.

Gilberto Câmara diz que o Deter não mede corte raso. Essa função é do Prodes. “A idéia do Deter é medir o que foi alterado na floresta, mandar um alerta para o Ibama para que se monte um projeto de prevenção antes que aconteça o processo de desmatamento final, o corte raso”.

O diretor do Inpe explica que o único erro do Inpe foi, em 2007, contar duas vezes uma área que já havia sido detectada, mas foi corrigido. “Com relação a detecção do Deter, nós estamos tranqüilos e enquanto não houver o corte raso, o Deter vai dizer que houve alteração”, afirma ele.

Quanto aos planos futuros do Inpe, Câmara conta que incluem novos satélites, os Cbers 3 e 4, e o Amazônia 1. Os Cbers 3 e 4 são uma evolução dos satélites Cbers-1 e 2, já lançados. Tendo a mesma órbita dos satélites anteriores, os Cbers 3 e 4 utilizarão quatro câmaras no módulo carga útil. A previsão de lançamento do primeiro é em 2009 e do segundo em 2011. Já o Amazônia 1, complementará o monitoramento da Floresta Amazônica, pois capta a imagem do planeta inteiro. Através de um sensor, o Amazônia 1 deverá trabalhar junto ao Cbers-3.

Esta mesa-redonda foi a primeira de uma série de debates que a ABC fará este ano. Segundo o presidente da instituição, Jacob Palis, dentre os temas dos próximos encontros estarão alimentos transgênicos e mudanças climáticas. (Vanessa Ramos e Clara Gondin).

Publicado pelo Jornal da Ciência, SBPC, JC e-mail 3461, de 03 de Março de 2008.