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Cresce derrubada da Amazônia, diz Inpe

Imagens do último trimestre indicam que pressão da soja sobre a floresta recrudesce em Mato Grosso. Por Marta Salomon, da Folha de S. Paulo, 18/01/2008

Um novo alerta sobre desmatamento na Amazônia será divulgado hoje pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) com base em imagens captadas por satélites no último trimestre do ano passado e que indicam a derrubada de matas em ritmo acelerado, numa média de mais de 1.000 quilômetros quadrados por mês.

“Estamos preocupados”, disse Gilberto Câmara, diretor do instituto, que ontem conferia os números do resultado da ação dos desmatadores.
Em informes parciais encaminhados a representantes da área ambiental do governo, o Inpe já vinha sinalizando nova pressão de desmatamento no Mato Grosso, que havia perdido para o Pará a liderança no ranking dos Estados da Amazônia que mais abatem árvores. Nessa lista, Rondônia aparece na seqüência.

O governo estima que o desmatamento na Amazônia Legal não apenas parou de cair, como pode aumentar 10% no próximo levantamento consolidado, a ser divulgado no final do ano. Entre julho de 2006 e julho de 2007 foram derrubados 11,2 mil quilômetros quadrados de floresta, o equivalente a mais de sete vezes a cidade de São Paulo. Foi o melhor desempenho desde 1991.

Em Mato Grosso, novos focos de desmatamento estariam próximos a áreas de cultivo da soja, grão que registrou aumento de preços no ano passado. No Pará, a derrubada de floresta seria associada à expansão da pecuária. Em Rondônia, não há sinais claros de que o avanço do desmatamento tenha relação com a futura construção da hidrelétrica de Santo Antônio, a primeira do rio Madeira.

O diretor do Inpe avalia que o futuro da Amazônia vai depender do controle da expansão da pecuária no Pará, Estado que registrou o maior crescimento do rebanho no país. “A gente sente nitidamente a falta de engajamento, um “corpo mole” do Ministério da Agricultura”, criticou Câmara, sobre as dificuldades de rastreamento da origem do gado criado na região. As culturas de soja e cana-de-açúcar teriam papel importante, porém indireto no desmatamento, ao ocuparem áreas de pasto e empurrarem a pecuária para a Amazônia, disse.

Os dados que sustentam o novo alerta são estimativas feitas pelo Inpe com base em sistema que capta o desmatamento em tempo real, o Deter. Os resultados são mais rápidos, porém mais imprecisos. Nos últimos meses, os números poderiam ter sido superdimensionados por um volume menor de nuvens do que a média.

Em outubro, o Inpe divulgou um primeiro alerta, com uma estimativa de aumento do desmatamento em 8% no período entre julho e setembro. Só em Rondônia, em um único mês, o ritmo das motosserras teria aumentado em mais de 600%.

Esse primeiro alerta sugeria que o país teria dificuldade para manter a queda na taxa de desmate vista desde 2004. Na ocasião, a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) afirmou que a Amazônia passaria por um “teste de fogo”, em decorrência do aumento do preço de commodities e da proximidade das eleições municipais.