EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Nota Pública da CPT: ‘Terra sem lei’ e de ‘vale tudo’

 

nota pública

 

A Diretoria e a Coordenação Executiva Nacional da Comissão Pastoral da Terra – CPT vêm a público denunciar o quadro de deterioração do ambiente político e social no país e suas agravadas consequências. Medidas políticas e judiciais de flexibilização e subtração de salvaguardas sociais e ambientais são impostas, num retrocesso que traz sofridas lembranças do tempo da Ditatura Civil-Militar. Parece que quase nada avançamos desde então, a não ser para mais fundo no reino da hipocrisia e da indigência moral dos discursos e coberturas da mídia.

No campo, este cenário conturbado da política nacional tem propiciado um ar pestilento de “terra sem lei” e de “vale tudo”.

* Madeireiros, fazendeiros e outros agentes do agronegócio avançam sobre a Amazônia e o Cerrado numa sofreguidão há tempos não vista. Dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostram que a região perdeu 972 km² de florestas em junho de 2016. Um aumento de 97% se comparado a junho de 2015. Situação denunciada, semana passada, pelas CPTs da Amazônia.

* Assiste-se a um crescimento assustador da violência contra homens e mulheres no campo, sobretudo contra indígenas e quilombolas num ódio etnocida, ao modo do Brasil Colônia. Se, em 2015, o Centro de Documentação Dom Tomás Balduino da CPT (CEDOC) registrou o assassinato de 50 pessoas em conflitos no campo, este ano o quadro é ainda pior. Até meados de agosto, em dados parciais, já se registram 40 mortes de trabalhadores e seus defensores, 33% a mais do que em igual período de 2015, quando houve o registro de 30 assassinatos. Também cresceu em 58% o número de tentativas de assassinato, 43 até agosto de 2016, 28 em igual período de 2015 e em 96% o número de famílias expulsas do campo por ação de pistoleiros e jagunços, 764. Em igual período de 2015, 389 famílias foram expulsas. A CPT do Tocantins denunciou, em julho, a ocorrência de cinco ações violentas de expulsão, em apenas três meses.

* O Judiciário tem agido inescrupulosamente como braço do capital e dos interesses do agronegócio. Caso emblemático acontece na Bahia, onde decisão judicial nega o direito de quase 400 famílias que vivem há mais de 100 anos em terras públicas de “fundo de pasto” em Areia Grande, município de Casa Nova. O estado de Goiás está servindo de laboratório para a repressão e criminalização dos movimentos sociais. Foi decretada a prisão de quatro lideranças do MST, enquadradas na lei 12.850/2013, que caracteriza o movimento como “organização criminosa”. Duas destas lideranças estão presas e outras duas se exilaram. Em junho, outro líder sem-terra também foi preso enquadrado na mesma lei. Os pedidos de habeas corpus, com excelente fundamentação jurídica, foram sistematicamente negados.

Esta explosão de violência e agressões, ao que tudo indica, tem tudo a ver com o golpe parlamentar, judicial e midiático que está sendo perpetrado contra a vontade popular, na deposição da Presidenta da República. Se aprovado seu impedimento pelo Senado, ainda que cumpridos ritos legais, estará consumado um golpe de Estado, já mostrado a que veio pelo acelerado processo de desmonte de direitos sociais das classes trabalhadoras, tramado às claras e aplicado sem cerimônia pelo governo interino ilegítimo, a serviço explícito do capital, tanto nacional quanto internacional. A proposta de liberar a venda de terras aos estrangeiros é uma prova cabal desse serviço, que junto a uma ampla concessão de títulos de terra aos assentados visa tornar o campo ainda mais concentrado e conflituoso.

Para cercear a ação dos movimentos sociais, há poucos dias, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, criaram força-tarefa para monitorar ações do MST e movimentos contrários ao governo ainda interino.

Sérias suspeitas já pesam sobre os rumos da operação Lava Jato que galvanizou a opinião pública enojada de tanta corrupção política, mas cada dia parece menos propensa a cumprir o que prometera: “passar o Brasil a limpo”. Teria cumprido seu inconfessável intento?

Diante deste quadro se preveem fortes reações populares, que serão reprimidas com a violência que se anuncia e já se pratica, podendo levar o país à convulsão social. As campanhas eleitorais municipais iniciadas poderão até atenuar ou adiar este quadro sinistro, mas não o deterão, se não for restabelecida a normalidade democrática.

O Deus da Vida que “ama quem pratica a justiça e não abandona os seus fiéis, mas a descendência dos ímpios vai exterminar” (Salmo 37,28), nos fortaleça na busca da paz. Como a palavra do Mestre nos ensina é das periferias do mundo que virá a libertação. É nossa fé.

Goiânia, 22 de agosto de 2016.

Diretoria e Coordenação Executiva Nacional da CPT

 

in EcoDebate, 23/08/2016

 

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para newsletter_ecodebate+unsubscribe@googlegroups.com ou ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.

3 thoughts on “Nota Pública da CPT: ‘Terra sem lei’ e de ‘vale tudo’

  • Prof. José de Castro Silva

    Sou católico convicto e confesso, mas não é esta a verdade evangélica que li, aprendi e formei minhas convicções.
    Há muito o CPT e MST cheiram e exalam PT e suas mazelas, com podridão, corrupção e tudo o que é mais abominável. Chega de hipocrisias e falar de Deus em vão.
    A visão messiânica é de paz e justiça, segundo os ditames do Evangelho.
    Pelo amor ás causas de Deus: não misturem o PT com o CPT e MST, dizendo que a justiça se faz a qualquer custo, em nome dos interesses de vilões e espertos, como todos os outros, outrora inimigos, o fizeram?
    Até mesmo, Lula, tão idolatrado por vocês, penitenciou-se ao dizer que o PT não era nem melhor nem pior aos semelhantes. Eram iguais. De um currículo policial comprovado. Como os demais. Nem mais ou menos.
    Não somos iguais e queremos justiça. Que o CPT e MST sejam porta-vozes dos pobres e humilhados, sem políticagem, sem oportunismos. Ser contra tudo e contra todos não é o caminho certo.

    Estaremos todos errados?

  • lincoln gambier

    Caro Professor José,

    Não estamos errados não em desejar para nosso país um governo integro e competente. Estes comunistas do PT e caterva, delapidaram de forma quase inacreditável a nossa economia, resultando com certeza, em mais e mais sofrimentos, principalmente, para aquelas parcelas mais humildes e necessitadas!

    Temos de lutar e denunciar estas entidades criminosas com CPT, MST, etc, etc, que não representam os verdadeiros trabalhadores da Nação.

  • Prof. José de Castro Silva

    Concordo com o amigo Lincoln que as ideologias nem sempre se confundem com as pessoas que as representam. Basta ver o que leem, pregam e o que fazem.
    Não queremos julgar pessoas e não temos este direito. Que os comunistas abomináveis do PT sejam riscados da história . Que as boas obras sejam preservadas e precisamos de um país mais justo ,mas humano e mais fraterno.
    A Igreja Católica precisa extirpar este joio e esta cizânia que enoja a todos,inclusive os não católicos. A Bíblia utilizada por estes camaradas deve ter impressão diferente, traduzida por fundamentalistas. Utilizam e se se escudam na nossa religião para preservar o poder e manter os privilégios e abusar da corrupção deslavada que prejudica os mais pobres e necessitados.
    A Igreja Católica não pode misturar-se a esse bando. A Comissão Pastoral da Terra e o Movimento dos Trabalhadores sem Terra terão o apoio da sociedade quando utilizarem meios mais civilizados para colocar em prática suas reivindicações. Contem conosco.

Fechado para comentários.