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Artigo

Crise do emprego, a geração perdida e a impopularidade do governo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

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[EcoDebate] As mobilizações de junho de 2013 que ocorreram nas principais capitais do Brasil e que agitaram principalmente os jovens, foram reflexos da crise econômica que se abateu sobre as regiões mais dinâmicas do país.

O mercado de trabalho vinha criando vagas e abrindo oportunidades para os jovens, em especial, os mais escolarizados. A taxa de ocupação (População economicamente ativa – PO/População em idade ativa – PIA) aumentou entre março de 2002 e dezembro de 2012 nas 6 regiões metropolitanas. O nível de ocupação sempre foi maior em Belo Horizonte (BH), São Paulo (SP) e Porto Alegre (PoA), do que em Salvador, Recife e Rio de Janeiro (RJ), segundo dados da PME do IBGE.

Mas de 2013 para a frente, os jovens sentiram o esfriamento do mercado de trabalho. A dimensão da crise não estava clara, mas os jovens na rua mostraram que existia algo errado. O governo Dilma Rousseff e os ideólogos do PT cometeram um erro grave de não perceber a real causa da insatisfação da juventude. O bloco governista considerou que as manifestações eram de direita e que existia que aquelas manifestações contra o governo eram sinais de um fascismo impregnado na sociedade brasileira. A esquerda governista não teve a humildade de perceber que as manifestações contrárias ao governo petista tinham bases reais e não reconheceram os erros cometidos nos anos anteriores.

O que já estava ruim em 2013 piorou muito em 2015 e 2016. A taxa de ocupação de jovens de 18 a 24 anos caiu em todas as 6 Regiões Metropolitanas. No Rio de Janeiro, Recife e Salvador a taxa ficou abaixo de 45% (isto quer dizer que 55% destes jovens não tinham emprego). Em Belo Horizonte a taxa de ocupação caiu de quase 70% para menos de 50%. Em São Paulo e Porto Alegre a taxa caiu mais ainda há mais jovens ocupados do que desocupados e fora da PEA.

O gráfico abaixo mostra que o número de jovens de 18 a 24 anos ocupado subiu de 3 milhões em março de 2002 (taxa de 52,4%) para 3,3 milhões (taxa de 62,5%) em dezembro de 2012, embora a PIA de 18 a 24 anos estivesse diminuindo. Porém, em dezembro de 2014 o número de jovens na PO tinha caído para 2,9 milhões e a taxa de ocupação abaixou para 58,5%. Mas a situação piorou muito com a estagflação de 2015, sendo que o número de jovens na PO caiu para 2,4 milhões em fevereiro de 2016, representando uma taxa de ocupação de 49,6%. Nunca, na série da PME, a taxa de ocupação de jovens de 18-24 anos foi tão baixa e nunca tinha ficado abaixo de 50%. A diminuição absoluta do número de jovens abriu uma janela de oportunidade para melhorar a taxa de ocupação e a qualidade do emprego e dos salários. Mas a crise jogou tudo por terra, parindo uma geração perdida.

 

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Essa crise no mercado de trabalho e a falta de perspectiva para os jovens é uma das causas da queda de popularidade da presidenta Dilma Rousseff. Na consulta à opinião pública em março de 2013, a Datafolha apurou um índice de ótimo e bom da avaliação do governo de 65%. A avaliação regular estava em 27% e o índice de ruim e péssimo estava em apenas 7%. Esta avaliação excepcional tinha sido poucas vezes atingida na história da República. Porém, em julho de 2013, os índices tinham passado para 30% de ótimo e bom; 43% de regular e 25% de ruim e péssimo. Ou seja, a estagnação do mercado de trabalho, especialmente para os jovens, explica grande parte desta queda de popularidade (nota-se de que a operação Lava-jato contra a corrupção foi lançada só em 2014). Após as manifestação, o governo começou a tomar uma série de medidas para estimular a economia e para ampliar as políticas sociais visando recuperar a popularidade e ganhar as eleições de 2014. De fato, os índices de ótimo e bom voltaram para a casa dos 40% no segundo semestre de 2014 e garantiram a reeleição.

 

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Houve um colapso do emprego a partir de dezembro de 2014, logo após as eleições presidenciais. Junto com a perda de vagas caiu também os indicadores de avaliação da presidenta Dilma. O índice de ruim e péssimo, que estava em 20% na época das eleições subiu para 62% em março de 2015 e 71% em agosto de 2015. O índice de ótimo e bom que estava em 40% na época das eleições caiu para 8% em agosto de 2015. Toda a sociedade brasileira sentiu que houve um golpe chamado estelionato eleitoral.

Como consequência, e reforçando os efeitos da crise e da queda da popularidade da presidenta Dilma Rousseff, as manifestações de rua do dia 13 de março de 2016 foram as maiores da história do Brasil. Estima-se em mais de 6 milhões de pessoas nas ruas de todas as capitais das UFs e de centenas de cidade pelo Brasil afora. O destino do governo foi selado nas ruas.

 

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Existem muitas teorias conspirativas para explicar a queda da presidenta Dilma Rousseff que deixou o Palácio do Planalto no dia 12 de maio de 2016. Muitos estudos precisam ser feitos para descrever com detalhes este período histórico. Mas sem dúvida a crise no mercado de trabalho e a falta de perspectiva para a juventude brasileira foi um fator decisivo para o que ocorreu no Brasil.

O gráfico abaixo mostra a taxa de ocupação (PO/PIA) dos jovens de 18-24 anos, segundo a PME, e o índice de ótimo/bom da pesquisa de avaliação do governo Dilma Rousseff. Nota-se que existe uma relação entre as duas curvas. De 2011 a dezembro de 2012 a taxa de ocupação dos jovens cresce e também a avaliação positiva do governo. Mas no primeiro semestre de 2013 a taxa de ocupação cai e também o índice de aprovação do governo. No segundo semestre de 2013 ambos se recuperam. O mesmo acontece em 2014 com ambos os indicadores caindo no primeiro semestre e se recuperando no segundo semestre. Em 2015 existe um colapso na taxa de ocupação dos jovens e um colapso na popularidade da presidenta Dilma.

 

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Os jovens são o futuro do Brasil. Jovens sem futuro significa Brasil sem futuro. Jovens sem oportunidades no mercado de trabalho significa uma economia capenga, falta de mobilidade social ascendente e carência de força de trabalho para financiar as contribuições à previdência social e para garantir a qualidade de vida dos idosos. Não dar opções para uma geração perdida é fazer com que o Brasil também fique perdido.

O novo governo precisa aprender a lição dos últimos anos e dar esperança para essa geração perdida. Senão quem vai estar perdido é o novo governo e os governantes que não conseguirem dar alento para os filhos da população brasileira. Mas a juventude pode envelhecer antes de ficar adulta e o Brasil pode ficar decrépito precocemente.

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

in EcoDebate, 20/05/2016

[cite]

 

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3 thoughts on “Crise do emprego, a geração perdida e a impopularidade do governo, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

  • A atual taxa de desemprego de 10% é totalmente falsa, porque simplesmente a população brasileira que recebe o “Bolsa Família” não é considerada população economicamente ativa e assim não constam das estatísticas de desemprego. São entre 20 a 25 milhões de brasileiros que usufruem do “Bolsa Família” e estão desempregados, mas não constam estatisticamente como tal.
    Em qualquer país desenvolvido, estão obrigatoriamente inscritos nos centros de emprego confirmando seu estatuto de desempregados, para poderem usufruir de uma ajuda econômica tipo “Bolsa Família”.

  • E quando a taxa de desemprego, no planeta, atingir 100%?

    Será que o Michel Teló vai resolver?

  • lincoln gambier

    É muito triste e grave esta situação no tocante aos nossos jovens, sem trabalho e perspectivas de crescimento.
    Isto tudo é o contrário do que sempre foi alardeado pelos governos petistas, que se consideravam os salvadores da patria.

    Quanta mentira e patifaria criminosa!

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