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Artigo

Cidade em Movimento, por Claudia Visoni

 

Pesquisa sobre os transportes em São Paulo, eventos e opiniões de especialistas mostram uma revolução em curso. Ao que parece, a Carrocracia está com os dias contados.

A Semana da Mobilidade começa hoje (16/9, segunda feira) e vai até domingo. Trata-se de um evento internacional que tem por objetivo repensar os sistemas urbanos de transporte em prol de melhor qualidade de vida para as pessoas. Muita coisa está acontecendo (http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/semanadamobilidade) e tudo culmina com o Dia Mundial Sem Carro (22/9, domingo). A atividade  mais especial para mim será “A Rua é das Crianças no dia Mundial Sem Carro”, que estou ajudando a organizar e vai acontecer no Alto de Pinheiros. Todo mundo convidado: https://www.facebook.com/events/1410904819131737/.

Cheguei há pouco da apresentação e debate em torno da pesquisa que a Rede Nossa São Paulo encomendou ao Ibope. Abaixo um resumo, com meus comentários. Dados completos aqui: https://www.facebook.com/events/606105722766287/

  • Os paulistanos que usam automóvel diariamente (ou quase diariamente) para se locomover são apenas 27%. E basta uma olhada para os espaços públicos para constatar que a paisagem foi totalmente dominada por essa minoria (da qual ainda faço parte).
  • Contando deslocamento por deslocamento, o meio de transporte mais comum é a caminhada (54%) seguida por ônibus (24%), carro (14%), metrô (12%), lotação (9%), trem (8%), moto (3%) e bicicleta (2%).
  • Cerca de 50% das residências paulistanas contam com carro na garagem. Entre as famílias motorizadas, 80% possui apenas um veículo. 17% dois. Os multiveiculares são apenas 3%.
  • 47% dos paulistanos gasta entre 1 e 2 horas por dia para ir e voltar de sua atividade principal. A média chega a espantosos 2h15 se forem computados todos os deslocamentos.
  • Evangelina Vormittag, do Instituto Saúde e Sustentabilidade, lembrou que o modelo rodoviarista é o principal problema ambiental e de saúde de São Paulo. Além da poluição atmosférica (que mata mais do que cigarro por aqui), contribui para ilhas de calor, contaminação do solo, colisões e atropelamentos, sedentarismo forçado e poluição sonora. Para quem se interessa pelo assunto, um evento inteirinho sobre isso na próxima segunda-feira às 18h, na Câmara Municipal. (Inscrições aqui: http://viradadamobilidade.wordpress.com/programacao/palestras/inscricao-mobilidade-urbana-e-qualidade/)

A melhor notícia: o Império do Automóvel está com os dias contados.

  • 79% dos motorizados deixariam o carro em casa se tivessem uma boa alternativa de transporte público. Quanto a isso, tenho observado algo curioso: muitas pessoas que dizem essa frase nunca experimentam fazer seus trajetos cotidianos de ônibus ou metrô. Obviamente, a qualidade geral desse serviço é ruim na cidade. Mas existem horários e percursos muito bem servidos por transporte público e falo isso por experiência própria.
  • 93% são a favor da ampliação das faixas exclusivas de ônibus (86% entre os usuários freqüentes de automóvel). De acordo com Jilmar Tatto, Secretário Municipal dos Transportes, é para lá que vamos. Ele disse: “São Paulo tem hoje 120km de faixas exclusivas para ônibus e pretendemos implantar mais 150 km até 2016. O ideal seria chegar em 460km”. Analisando a fala completa do secretário,  percebi que, tecnicamente, transporte de larga escala seria atribuição do metrô, mas é quase impossível São Paulo chegar perto de Paris, que tem uma estação quase em cada esquina na região central. Vamos quebrar o galho com ônibus mesmo.  E os planos imediatos da prefeitura incluem uma reforma do sistema e até mesmo ações ousadas como um concurso para criação de aplicativos que ajudem o usuário a saber em tempo real quando chegam e para onde vão os ônibus que passam no ponto onde ele está .
  • 56% são favoráveis à proibição total de estacionar no centro expandido, 49% aprovariam o aumento do rodízio para 2 dias na semana e 45% aceitariam de bom grado um imposto sobre os combustíveis para financiar o transporte público.

Podemos comemorar o fato de que boa parte dos paulistanos pretende dar sua contribuição individual em prol de uma melhoria coletiva, não é? Mas a mudança de cultural ainda precisa avançar muito.

“Não dá para pensar em mobilidade sem pensar em habitação”, afirmou Maurício Lopes, promotor do Ministério Público. De acordo com ele, para reduzir a necessidade de deslocamento mais empregos são necessários na periferia e mais habitações populares no centro. Por outro lado, estou acompanhando algumas discussões do Plano Diretor em que associações de moradores de bairros residenciais resistem ao adensamento em torno de eixos de transporte proposto pela prefeitura. Concordo que o tema é polêmico e que as alterações nas normas de uso do solo precisam ser muito cuidadosas. Mas não dá para querer preservar a todo custo quarteirões canadenses em meio a um padrão africano de urbanização. Teremos que negociar, repensar, buscar a melhoria da cidade para todos, o que significa inclusive diminuir a desigualdade territorial.

“Uso bastante transporte público e cada vez mais eu acho de mau gosto sair de casa de carro. Compre seu carro, mas no dia-a-dia deixe na garagem. Melhor usar só no final de semana, para viajar ou em casos especiais”. Quem falou isso foi o próprio Jilmar Tatto.

Estamos ou não num mundo novo? Nem tanto… Enquanto escrevia sobre poluição, ilhas de calor e mudanças culturais, minha vizinha veio pedir que eu derrube uma árvore que está em meu terreno para que as folhas não caiam na casa dela.

Não resisto a acrescentar esse mapa de caminhadas feito pelo pessoal do Sampa a Pé. Vamos nessa, ocupar as ruas sem motores!

em São Paulo, vá a pé

 

Claudia Visoni é jornalista, paulistana e dirige a empresa Conectar Comunicação (www.conectar.com.br). Desde a adolescência, pesquisa assuntos ligados à ecologia e ao consumo, buscando alternativas para viver bem economizando os recursos naturais. Email claudia@conectar.com.br

* Análise enviada pela Autora e originalmente publicado no blogue Simplesmente.
EcoDebate, 20/09/2013


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One thought on “Cidade em Movimento, por Claudia Visoni

  • Valdeci Pedro da Silva

    A carroceria não está com os dias contados. Não será tão fácil assim.

Fechado para comentários.