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A luta contra a miséria e contra a fome no leste maranhense, artigo de Mayron Régis

 

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[Territórios Livres do Baixo Parnaíba] Aos olhos de muitos a Chapada quase não se move ou talvez se mova de forma quase imperceptível. As floradas dos bacurizeiros espantam pela leveza do formato e pela intensidade das cores. Elas valem a atenção mais do que um mero instante. Dizem que a variedade branca da flor do bacurizeiro dificilmente se encontra no Maranhão. Por certo que a variedade avermelhada predomina sobre as Chapadas, mas se fossem consultadas em sua imobilidade ou quase imobilidade, elas divergiriam de imediato e apontariam as Chapadas de Santa Quitéria como prova que a variedade branca também pode ser vista por lá. Um pouco antes de deparar-se com o rio Gengibre que compõe a bacia do rio Buriti e um pouco antes de encostar-se ao povoado Vertentes. Quando o Francisco soube das investidas por dentro do município de Santa Quitéria e qual era o destino logo reforçou a importância desse trecho. Ele nunca perdera os vínculos com seu município de origem e, em seu serviço, relacionara-se com um rapaz proveniente da região de Vertentes e de Santa Luzia. Perguntara pelo rio Gengibre, se havia secado, o que o colega respondera que não. O fato de não ter secado e de manter suas águas límpidas dependia da Chapada continuar imóvel ou quase imóvel. Os mais de cinco mil hectares que a Suzano quer desmatar.

O senhor Antonio João preside a associação do povoado Vertentes. Nada indica que ele exulte sobre esse fato. Ele entregaria o cargo desde que houvesse alguém para substituí-lo. Com relação aos demais moradores de Vertentes, somente o irmão do senhor Antonio João se incomoda com sua autoridade e essa rixa chegou ao seu ponto alto no instante em que contratou um pistoleiro para assassiná-lo. Depois da tentativa, os dois não se falam mais mesmo morando lado a lado. Receava-se que por puro descuido topar-se-ia com o mandante depois de bater à sua porta. Felizmente, acertou-se a casa do senhor Antonio. Guardar-se-ia os pintos no galinheiro recém construído no quintal da sua casa. Para construir o galinheiro dentro das especificações, o senhor Antonio e mais dois moradores de Vertentes tocaram para o Baixão da Coceira. O Baixão da Coceira e o Coceira, povoados do Pólo Coceira, são reconhecidos como os primeiros, no município de Santa Quitéria, a construir os galinheiros dentro de uma proposta apresentada pelo Fórum Carajás de planejar atividades de geração de renda e de segurança alimentar com comunidades em conflito direto com a Suzano Papel e Celulose.

A presença da Suzano Papel e Celulose nas comunidades causava aos seus moradores apreensão sobre o que o futuro lhes reservava. Em muitos casos, a empresa desmatou sem que as comunidades opusessem qualquer resistência aos seus tratores, mas outras, em menor número, enfrentaram a Suzano ao mesmo tempo em que enfrentavam suas apreensões. Esse enfretamento deu resultados como no caso do polo Coceira e do Bracinho. A apreensão sobre a regularização fundiária se desfez; outras apreensões persistem.

Os galinheiros rústicos apareceram em um ambiente de total colapso das atividades de geração de renda e de segurança alimentar por parte da agricultura familiar. As famílias do interior do Baixo Parnaíba se devotam mais e mais a compra de produtos industrializados. A aquisição desse tipo de produtos raspa a parca renda obtida pelos agricultores familiares que impossibilitados de poupar não investem em suas atividades produtivas. As atividades produtivas dos agricultores familiares se desassemelham de quaisquer atividades produtivas dentro do sistema capitalista. Essa dessemelhança se estende porque a agricultura familiar trabalha com produtos em estado bruto só havendo uma modificação aqui e acolá que não compromete o conteúdo e o agronegócio trabalha em cima de alterações do produto para que deixe a sua pureza inicial e dê lugar a uma impureza final.

No povoado de Vertentes não há grandes extensões de babaçual. Quem quiser azeite de babaçu tem que se voltar para as comunidades de Roça Velha e Barra da Onça. Avistam-se grandes extensões de babaçual em Chapadinha, Mata Roma, Buriti de Inácia Vaz e Brejo. Os babaçuais de Santa Quitéria, por serem em menor número, dificilmente disputariam economicamente com outros do Baixo Parnaíba maranhense.

Se fosse pelos dividendos econômicos, a cultura da quebra do coco e da extração do azeite de babaçu já teria morrido sem choro, sem vela e sem caixão. A luta contra a fome e a miséria impulsiona a quebra do coco e a retirada do azeite no baixões do leste maranhense.

* Mayron Régis, Articulista do EcoDebate, é Jornalista e Assessor do Fórum Carajás e atua no Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Fórum Carajás, SMDH, CCN e FDBPM).

** Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado no blogue Territórios Livres do Baixo Parnaíba.

EcoDebate, 10/09/2012

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