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Artigo

O paradoxo europeu, artigo de Aroldo Cangussu

 

[EcoDebate] Estive viajando pela Europa no último mês e anotei algumas observações, tanto do ponto de vista ambiental como o geral. Passei por três países – Espanha, França e Portugal – e, sobrevoando-os, observei atentamente a paisagem – e fotografei.

Em todos eles constatei a total inexistência de florestas, matas ou qualquer vegetação mais densa. Viajando, por terra, pelo interior de Portugal verifiquei que todas as árvores são de reflorestamento, majoritariamente eucalipto. A paisagem da Espanha também é árida e quase não se vê adensamento de árvores assim como na região francesa que eu tive a oportunidade de presenciar.

Entretanto, e é aí que eu estou chamando de paradoxo: os rios são caudalosos e aparentemente limpos. Diferentemente do Brasil, onde quase todos os rios infelizmente estão virando esgoto. Aqui bradamos pela recuperação e manutenção das matas ciliares, porém descuidamos da qualidade das águas. É fácil concluir que estamos atrasadíssimos na questão do saneamento básico, na coleta e, principalmente, no tratamento do esgoto doméstico e industrial.

Lá ouvi algumas reclamações, notadamente em Portugal, sobre o lançamento de efluentes de algumas indústrias em determinados rios da região, inclusive o Rio Douro. Mas, ao contrário dos rios urbanos do nosso país, a aparência das águas na Europa é a melhor possível, de forma especial o Rio Tejo em Lisboa e o Rio Sena em Paris. Bem diferente de um Rio Arrudas em Belo Horizonte e o Tietê em São Paulo.

Pode se constatar que, na ausência de matas ciliares, os europeus investiram pesadamente, para a conservação dos seus rios, em um tipo refinado de tratamento de efluentes, na interceptação de esgotos, no constante monitoramento da qualidade das águas e na preservação da vida aquática. Eu mesmo verifiquei pessoalmente pessoas pescando nos rios das cidades do Porto, Lisboa e Paris. E vi peixes mesmo.

Aí fica a pergunta que não pode ser calada: de que adianta o Brasil ter a maior parcela de água doce do mundo e florestas exuberantes se atiramos nossos dejetos nos rios? É necessário combater este problema com vontade política e muita determinação, incluindo aí a participação da população dando a sua colaboração e cobrando veementemente das autoridades.

* Aroldo Cangussu é engenheiro e ex-secretário de meio ambiente de Janaúba e diretor da ARC EMPREENDIMENTOS AMBIENTAIS LTDA.

EcoDebate, 06/10/2011

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3 thoughts on “O paradoxo europeu, artigo de Aroldo Cangussu

  • Sobre o paradoxo apontado, faltou incluir uma informação: o lixo da europa está sendo importado para os países, hoje chamados de, emergentes ou terceiro mundo, vide as constatações de containers depositados em portos brasileiros e a ilha de dejetos flutuantes nos oceanos.

  • Debora Wanderley

    Uma situação não pode ser excludente da outra. Temos que preservar as florestas e as águas. A vida no planeta depende de ambos.

  • José Carlos M. B.

    Eu concordo com o que a Telma disse, essa semana mesmo eu vi uma reportagem mostrando um conteiner cheio de lixo hospitalar que vei da Espanha para o Brasil.

Fechado para comentários.