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Planos Municipais de Saneamento, artigo de Roberto Naime

[EcoDebate] A questão ambiental resulta em variáveis econômicas e políticas de forma inevitável. É preciso, no entanto, ter um conhecimento técnico mínimo para poder consolidar sua própria concepção de percepção ambiental.

O planeta terra é formado pelos compartimentos físico e biológico. Todas as ações e empreendimentos humanos, representando o meio antrópico ou socioeconômico interagem com o meios físico e biológico.

Assim, uma estrada traz progresso para o escoamento da produção e o turismo, mas pode trazer impactos ao meio físico, desmatamento e expulsão de espécies da fauna e problemas para as atividades de pecuária e lavoura, além de propiciar eventual êxodo rural e eventuais rupturas sociais, com o aumento de criminalidade e prostituição.

A função da percepção ambiental e dos estudos de impacto ambiental, visa a compreender todas as realidades e relações estabelecidas entre os elementos dos meios físico, biológico e antrópico, dentro de uma concepção sistêmica e visão holística, de maneira a compatibilizar os empreendimentos, com as características dos meios em que a intervenção humana se insere.

Sempre atenuando, minimizando ou compensando os impactos ambientais, conforme prevê a legislação e determina o bom senso individual ou o senso comum coletivo. Ninguém é contra o progresso e o desenvolvimento ou a melhoria da qualidade de vida das populações, mas é necessário que as intervenções humanas sobre os meios físico e biológico sejam acompanhadas de amplos programas de compatibilização, monitorados permanentemente para que sejam medidas e determinadas a eficácia e a eficiência das medidas propostas e executadas.

A questão do saneamento básico municipal se insere nesta realidade. Filosoficamente podemos resumir como tudo que envolve a água em suas variadas dimensões. Na prática e na legislação, quer dizer fazer a potabilização da água e propiciar a distribuição de água potável, recolher e tratar o esgoto, fazer drenagem pluvial e cuidar da gestão municipal dos resíduos sólidos. Para que o lixo não contamine águas e não impeça drenagem pluvial, como frequentemente ocorre.

E é muito necessário também que haja uma potencialização planejada dos efeitos benéficos ou benefícios de cada intervenção humana sobre a natureza. Temos que percorrer o caminho que nos tira do espontaneísmo, que espera que as coisas funcionem por si próprias e nos leva até o planejamento sistematizado, onde as coisas que vão acontecer são cuidadosamente planejadas, medidas e mensuradas no tempo e no espaço.

Para a consecução destes objetivos, são importantes a percepção ambiental dos indivíduos, a educação ambiental propiciada por entidades de educação formal como escolas e informais como associações de bairro, igrejas e outras organizações da sociedade, as noções de avaliação de impactos ambientais que fazem parte do senso comum de uma determinada comunidade num momento de referência e a busca comum de equilíbrio na vida e melhoria geral das condições de vida e da qualidade ambiental.

A própria concepção de sustentabilidade se desenvolve a partir do princípio simples, singular e maternal da primeira ministra da Noruega no documento da ONU “Nosso futuro comum” em 1987, Gros Brundtland: “utilizar os recursos naturais sem comprometer as gerações futuras”.

Ou seja, usar os recursos naturais, tanto renováveis quanto não-renováveis de forma a que não venham faltar recursos para a qualidade de vida e o bem estar das gerações futuras. Por isto é tão importante reutilizar os materiais e reciclar os materiais. A diferença em reutilizar, é que neste conceito, os materiais são usados da forma em que se encontram, enquanto na reciclagem, os materiais são submetidos a um novo processo industrial de beneficiamento.

Dentro desta realidade, é fundamental a previsão e o planejamento do saneamento básico municipal, de todas as dimensões que a questão da água pode tomar desde a potabilidade, passando pelo tratamento de esgoto, drenagem pluvial e relações com resíduos sólidos.

Na prática, podemos afirmar que a questão do saneamento básico precede o conjunto da questão ambiental. As primeiras definições de qualidade ambiental podem ser extraídas dos conceitos de saneamento ambiental, que originalmente estão vinculados com a engenharia civil.

Portanto podemos simplificar o conceito de saneamento básico somo sendo um conjunto de procedimentos adotados numa determinada região que visa proporcionar uma situação higiênica saudável para os habitantes.

Implica em tratamento de água, canalização e tratamento de esgotos, limpeza pública de ruas e avenidas, drenagem pluvial, coleta, tratamento e disposição final de resíduos orgânicos (em aterros sanitários regularizados) e reutilização de materiais (através da reciclagem e compostagem).

Com estas medidas de saneamento básico, é possível garantir melhores condições de saúde para as pessoas, evitando a contaminação e proliferação de doenças. Ao mesmo tempo, garante-se a preservação do meio ambiente.

Saneamento portanto significam captar, tratar e distribuir a água potável para as populações, coletar e canalizar os esgotos domésticos para tratamento e disposição na rede hídrica superficial e implantar e manter sistemas eficientes de drenagens pluviais. E dispor de sistemas eficientes de gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos, também conhecidos como lixo doméstico.

A idéia é simples: a água é o solvente universal, veículo para carregar bactérias e vírus e se a água que estiver sendo consumida não tiver rigoroso tratamento pode se tornar um grande propagador de doenças. Da mesma forma os esgotos. Se não forem adequadamente tratados vão poluir o próprio sistema hídrico superficial, de onde nos abastecemos da água que será tratada e potabilizada para consumo humano. Se a água tiver condição original péssima, dificulta e encarece o tratamento, que pode nem ser eficiente o suficiente.

A seguir é preciso ter consciência de que as águas de drenagens pluviais precisam ter escoamento em sistemas eficientes, pois esta água pode ser um grande propagador de doenças através de vírus e bactérias que pode carregar.

Por último, de nada adianta potabilização de água e tratamento de esgoto, se as populações tiverem de conviver com resíduos sólidos de origem doméstica. O lixo doméstico contém sal, gorduras, uma condição variável de contaminação por metais pesados (que podem ser cancerígenos e teratogênicos – causam má formação de fetos durante a gravidez) e matéria orgânica (restos de alimentos) sofrendo putrefação.

Os índices de cobertura de água tratada são muito elevados em quase todo o país, mas as quantidades de esgoto recolhido e tratado são muito baixas.

Da mesma forma, são razoavelmente eficientes os índices públicos de coleta de resíduos sólidos urbanos doméstico. Mas o mesmo não pode ser dito da disposição final, ainda muito carente de usinas adequadas e projetadas para a reciclagem e o reaproveitamento e células adequadas para a disposição final, com normas adequadas de engenharia e respeitando parâmetros de proteção ambiental.

A questão do saneamento básico tem sido cada vez mais explorada por empreendedores privados, que se interessam pelas atividades vinculadas com a água e mesmo com as tarefas de coleta, reciclagem e disposição final de resíduos sólidos urbanos.

O poder público, principalmente através de prefeituras, tem sido o grande contratador destes serviços, que se tornou um dos melhores filões de mercado para as empreiteiras. Isto é adequado quando traz sustentabilildade para o meio ambiente e qualidade de vida para a sociedade em geral.

Dr. Roberto Naime, colunista do EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

EcoDebate, 12/08/2011

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Alexa

2 thoughts on “Planos Municipais de Saneamento, artigo de Roberto Naime

  • Em se tratando de ecologia, não há como não mencionar a briga da população de Florianópolis contra a implantação de duas grandes estações de tratamento de esgoto na ilha acompanhadas de dois gigantescos emissários submarinos- frutos do MODELO CENTRALIZADO de interesse da concessionária local- Casan- e Prefeitura de Dario Berger. O MODELO CENTRALIZADO de tratamento de esgotos é ultrapassado e antiecológico, parte integrante dos meios de arrecadação e financiamento de grandes obras.
    A luta pelo MODELO DESCENTRALIZADO de tratamento na ilha,por parte do movimento social local- MOSAL, respeita as microbacias e faz o tratamento de esgotamento sanitário de maneira ecológica, repeitando as características de cada região, devolvendo a água ao meio de onde foi coletada e economizando energia, além de ser gerador de renda- um horror às grandes empreiteiras e à gestão antidemocrática em voga.
    Para mais sugiro leituras no:
    http://gertschinkediscuteosaneamento.blogspot.com/
    http://mosal-movimentosaneamentoalternat.blogspot.com/
    e o imperdível de texto de Washington Novaes tb postado nesse blog: http://mosal-movimentosaneamentoalternat.blogspot.com/p/washington-novaes-pequeno-bonito-e-mais.html
    Raquel Macruz

  • valdir sakamoto

    Após ouvir e ler estas opiniões por muitos anos, larguei tudo e decidi me dedicar a um projeto ambiental. Aqui onde moro, Brasilândia, descem, diariamente, da Serra da Cantareira, um milhão de litros d’água, que são despejados em um afluente de esgoto do Tietê. Estou, há tempos, enviando emails a todos os órgãos públicos e privados,mas, até agora não consegui nenhum apoio. Dá prá criar um super parque aquático e iniciar milhares de crianças carentes desta região no melhor esporte para a saúde.

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