EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

A História continua, artigo de Montserrat Martins

[EcoDebate] Há duas décadas, com as quedas do império soviético e do Muro de Berlim, um teórico neoliberal (Fukuyama) profetizou o “fim da História”, quer dizer, que nada mais aconteceria de significativo na evolução social. Só que em 2008, na crise financeira internacional, as grandes corporações recorreram à ajuda dos governos para sobreviver – praticando o oposto do que pregavam, a não-intervenção do Estado no mercado.

Economistas e cientístas políticos e sociais tem explicações diversas para a crise atual, mas algumas questões básicas parecem claras. A História não acabou, pelo menos não naqueles moldes da propaganda do “Estado mínimo”. O Estado tem um papel destacado a desempenhar, sim, e são relevantes – por mais repetitivos e chatos que possam se tornar – todos os debates a respeito desse protagonismo.

Paul Singer, um dos economistas aos quais devemos o bom desempenho do Brasil durante a crise financeira de 2008, fez algumas declarações sobre aquela época que merecem ser comentadas. Como é o caso da importância das medidas “anticíclicas” – investimentos do governo que aquecem a economia e o emprego, por exemplo o PAC e o Minha Casa, Minha Vida. Em entrevista a Marcos Palhares, revelou que “além do PAC, que o Obama está tentando fazer ao seu modo, o Brasil graças a Deus tem a sorte de ter cerca de 50% dos seus bancos públicos. São bancos que priorizam o investimento e os empréstimos para fazer crescer a economia real – e não a especulação pura e simples”.

Ouvimos muita propaganda todos os dias sobre a suposta incompetência dos governos em gerir a economia, que deveria ser deixada a cargo dos “mercados” – tese em alta desde o início dos anos 70, quatro décadas após a crise capitalista de 1929, quando suas lições haviam sido esquecidas. A revelação de que temos 50% de bancos públicos e que esse é um dos fatores de proteção contra crises parece desmentir tudo que vem nos “ensinando” nos últimos quarenta anos. Isso não significa que uma sociedade dominada pelo Estado, no molde chinês por exemplo (que Singer descreve como um “Capitalismo de Estado”, em que os burocratas são os novos patrões), seja um exemplo de qualidade de vida, na medida em que, apesar do crescimento econômico do país, os seus trabalhadores não tem direitos básicos assegurados. O sucesso da China não se transformou ainda em melhoria na qualidade de vida para seu povo que, espartanamente, se submete à disciplina do Estado e parece disposto a seguir fazendo “o bolo crescer” antes de repartí-lo, como quem se sente orgulhoso por pertencer a uma nação tão próspera, mesmo vivendo modestamente.

O significado a ser compreendido nesse momento é o de que a História continua. Se é verdade que os modelos estatizantes totalitários não seduzem mais, também precisa ser dito que o mercado não é um “Deus” naturalmente equilibrado e confiável, como seus profetas apregoavam. Pois, se a História está viva, o futuro ainda não tem donos. Por isso mesmo, questões como a do combate à corrupção na máquina púbica se tornam ainda mais importantes.

Montserrat Martins, colunista do EcoDebate, é Psiquiatra

EcoDebate, 12/08/2011

[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Alexa

One thought on “A História continua, artigo de Montserrat Martins

  • Marcio Araujo de Almeida Braga

    Divulgar textos do M. Martins para muitas pessoas se faz necessário.
    Com ampla visão e nenhum sectarismo, ele apresenta com simplicidade análises sobre fenômenos econômicos complexos, coisa que nem os economistas conseguem fazer.

Fechado para comentários.