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Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008/09: Excesso de peso já atinge 50,1% da população masculina adulta

obesidade

Embora esteja em queda, desnutrição ainda persiste em crianças de até 5 anos

  • Crianças brasileiras entre 5 e 9 anos estão crescendo acima dos padrões internacionais
  • Quase 10% dos estudantes do 9º ano da rede privada sofrem de obesidade
  • Adolescentes que se acham gordas estão dentro do peso
  • Homens registram mais sobrepeso do que as mulheres

* Embora esteja em queda, desnutrição ainda persiste em crianças de até 5 anos

O Brasil ainda não conseguiu acabar com a desnutrição de crianças até 5 anos, embora o problema esteja diminuindo no país, destaca a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada hoje (27).

De acordo com o levantamento, que pesou e mediu moradores de 60 mil domicílios, o déficit de altura em crianças menores de cinco anos de idade, um dos indicadores da desnutrição, foi de 6,3% entre os meninos e de 5,7% entre as meninas, sendo maior no primeiro ano de vida.

O problema do déficit de altura está concentrado na Região Norte (8,5%) e Nordeste (5,9%) e em famílias com os menores rendimentos. Entre os grupos com renda igual ou inferior a um quarto de salário mínimo é de 8,2%, mas persiste em famílias com ganhos superiores a cinco salários (3,1%), onde é menor, e também nas regiões Sul (3,9%), Sudeste (6,1%) e Centro-Oeste (6,1%).

A pesquisa destaca, no entanto, que a desnutrição está em queda desde a década de 1980. O percentual de déficit de altura de crianças entre 5 a 9 anos é de 7,2% entre os meninos e de 6,3% entre as meninas, menor que os índices de 1974 e 1989, quando foram registrados 29,3% e 14,7%, respectivamente, entre os meninos. Entre as meninas, os índices eram de 26,7% e 12,6%.

Entre os adultos, chama atenção o percentual de 5,5% de déficit de peso de mulheres da região rural do Nordeste, de 8,3% entre as mulheres na faixa dos 20 a 24 anos, de 5,4% entre aquelas com mais de 75 anos e de 5,7% entre as de menor renda. Todos esses quadros também podem ser classificados como desnutrição.

“A questão da desnutrição vem se reduzindo. Mas está coerente com outros estudos feito no país, tanto em termos da análise de idade entre os pequenos, com menos de 5 anos, quanto em déficit de peso nas outras populações por faixa etária”, afirmou a pesquisadora do IBGE, Marcia Quinstlr.

Segundo o documento, a melhoria do quadro reflete incremento do poder aquisitivo das famílias de menor renda, da escolaridade das mães e da cobertura de serviços básico de saúde, conforme constatou a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

A pesquisa ainda chama atenção para o percentual de crianças entre 5 a 9 anos com excesso de peso ou obesas, 33,5% e 14,3% do total, respectivamente, que estão, em sua maioria, na Região Sudeste. O déficit de altura nessa idade é de 6,8% do total e o déficit de peso, de 4,1%.

Entre os jovens de 10 a 19 anos, o déficit de peso é de 3,4% e preocupa mais o percentual de excesso, 20,5%.

* Crianças brasileiras entre 5 e 9 anos estão crescendo acima dos padrões internacionais

A Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, que visitou cerca de 60 mil domicílios, mostra que cerca de 50% das crianças até 5 anos têm cerca de 1,12 metro. Tanto a evolução da altura quanto a do peso estão acima da curva mediana estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Esse padrão não corresponde a um número.

“Os dados mostram uma superação da curva da OMS e até uma superação nas faixas etárias mais jovens, mostrando que a população brasileira está com o crescimento compatível e até superior ao padrão internacional”, afirma a pesquisadora do IBGE, Marcia Quintslr.

Mesmo com o crescimento dentro do esperado, devido ao problema do excesso de peso e da obesidade no restante da população, a pesquisa alerta que a “evolução dos pesos medianos das crianças brasileiras sugere uma atenção especial com a alimentação”.

“Mas não é um cenário apenas positivo. Notamos redução do déficit de peso e altura, mas aumento do excesso de peso e obesidade”, destacou a pesquisadora, ao lembrar que o problemas atinge 34,8% das crianças entre 5 e 9 anos.

Em relação à altura, a pesquisa informa que os brasileiros até os 10 anos, independentemente do sexo, estão dentro do padrão. Já os adolescentes, principalmente os meninos com 15 anos, apresentam um déficit na comparação com a curva mediana internacional.

* Quase 10% dos estudantes do 9º ano da rede privada sofrem de obesidade

Os alunos das escolas particulares estão mais gordinhos que os demais, mostra a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgada hoje (27), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Realizada em 2009, a pesquisa avaliou o perfil nutricional de cerca de 60 mil estudantes do 9º ano do ensino fundamental nas capitais e no Distrito Federal. O levantamento detectou, como principal problema, o crescente excesso de peso entre os estudantes, fator de risco para saúde.

De acordo com o estudo, a prevalência de obesos nas escolas privadas é de 9,9%. Nas públicas, esse percentual é de 6,5%. Segundo a pesquisa, 23,2% dos estudantes estão com excesso de peso dos quais 7,2% sofrem de obesidade. O sobrepeso é maior em Porto Alegre (RS) e no Rio de Janeiro (RJ) onde as taxas são de 20,1% e 18,3%, respectivamente. Em Palmas (TO), o índice foi o menor, de 10,9%.

Por outro lado, também ficou constatado déficit de peso em 2,9% da amostra. O problema aparece com maior frequência em Salvador, atingindo 4,4% dos estudantes pesquisados e 1,1% das crianças entrevistadas em Porto Alegre. A maior parte dos estudantes (74%) foi considerada saudável.

Em relação ao tipo de estabelecimento, os estudantes abaixo do peso ideal foram identificados nas escolas públicas. Principalmente, nas de São Luís (MA) cuja taxa de baixo peso foi de 4,5%.

* Adolescentes que se acham gordas estão dentro do peso

Mais de três a cada dez meninas (35,8%) do 9º ano do ensino fundamental que se acham gordinhas estão dentro do peso adequado. É o que revela a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

O levantamento feito com 60 mil alunos mostra que as estudantes estão mais preocupadas com as medidas que os rapazes. Em relação aos rapazes que se acham gordos, 21,5% estavam dentro das medidas adequadas para idade e altura.

A pesquisa também revela que entre as crianças que fizeram alguma coisa para reduzir as medidas, 51,5% das meninas estão dentro do estado nutricional assim como 29,8% dos meninos.

A psicóloga Rachel Moreno alerta que a mídia e os pais são responsáveis por impor um padrão de beleza às meninas, que tentam atingi-lo a todo custo, o que dá origem a uma série de distúrbios, como a anorexia e a bulimia.

“Há a difusão desse modelo em que as mulheres estão cada vez mais magras, loiras, brancas e de cabelo liso. As meninas são bombardeadas com essas imagens o tempo todo e isso influencia no que elas querem ser”, afirma Moreno, autora do livro Beleza Impossível.

Do lado dos estudantes que nada fizeram para ganhar ou perder medidas, 14,4% dos meninos estavam gordinhos e 12%, gordinhas.

“Esta percepção da imagem corporal que o adolescente tem de si mesmo, em muitos casos, é permeada de distorções e insatisfações. Isto pode ser um fator de risco à saúde em virtude das atitudes tomadas em relação ao corpo, à alimentação e à atividade física”, alerta o texto.

Um extrato da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 divulgada hoje constatou que 8,3% das mulheres entre 20 e 24 anos estão desnutridas no país, enquanto 48% têm excesso de peso.

“O problema do Brasil é uma combinação de obesidade precoce, afinal de contas, as crianças ficam na frente da televisão comendo alimentos altamente calóricos como biscoitos, e a imposição de um modelo que acentua a magreza. São dois extremos”, destacou a psicóloga.

* Homens registram mais sobrepeso do que as mulheres

Mais homens estão acima do peso que mulheres. É o que constata a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que avaliou as medidas de 188 mil pessoas no país. A pesquisa mostra que 50,1% dos homens estão com excesso de peso, enquanto entre as mulheres o percentual é de 48%.

Fator de risco para a saúde, o problema tem aumentado entre os adultos desde a década de 1970, quando o índice de sobrepeso era de 18,5% para os homens e 28,7% para as mulheres. Isso também se reflete na obesidade. De acordo com o dados, 12,5% dos homens sofre de obesidade e 16,9% das mulheres.

Tanto o excesso de peso quanto a obesidade foram constatados com maior frequência nas regiões Sul e Sudeste e nas mais elevadas faixas de renda. No caso dos homens, a prevalência de sobrepeso foi de 58,7% entre aqueles com ganhos entre dois e cinco salários mínimos e de 63,2% a partir de cinco salários. Entre as mulheres, a prevalência é nas classes intermediárias de renda.

“No caso dos homens, o excesso de peso e a obesidade mostram uma relação direta com a renda”, destaca a pesquisadora do IBGE Marcia Quintslr. “Já com as mulheres, observamos que independentemente da classe de renda, os níveis de excesso de peso ficam bastante parecidos.”

O excesso de peso é maior entre os homens entre 35 e 64 anos, sendo que tende a diminuir a partir dessa idade. Já entre as mulheres, o ganho foi notificado a partir dos 45 até os 74 anos.

Entre as crianças de 5 a 9 anos, o percentual daquelas com excesso de peso é de 34,8%. Entre os jovens que estão na faixa dos 10 aos 19 anos, o percentual é de 20,5%. A maior prevalência em ambos os casos foi identificada nas regiões Sul e Sudeste, mas ocorre em todas as regiões do país. “É um fenômeno que se mostra crescente na população e aparece de forma generalizada nas faixas etárias, nas categorias diversas de rendimento e nas grandes regiões”, reforça a pesquisadora do IBGE.

O documento indica que o problema reflete mudanças na alimentação e no hábito de praticar atividades físicas, já que o excesso de peso expressa um desequilíbrio no aproveitamento de calorias pelo corpo. “Pesquisas realizadas até 2002-2003 revelam a tendência crescente de substituição de alimentos tradicionais (arroz, feijão e hortaliças) por industrializados (refrigerantes, biscoitos, carne processada e comida pronta)”, afirma o texto.

O documento do IBGE também lembra que o aproveitamento de energia está ligado à prática de exercícios físicos, que ainda não fazem parte do hábito dos brasileiros, em geral. A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) mostra que uma a cada dez pessoas com 14 anos ou mais de idade fazem exercícios ou praticam algum tipo de esporte regularmente no país.

Reportagem de Isabela Vieira, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 30/08/2010

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