EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

O Semiárido mudou, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

Roberto Malvezzi (Gogó)
Roberto Malvezzi (Gogó)

[EcoDebate] Já não ouvimos mais falar em saques, frentes de emergência, intensas migrações, gado morrendo e outras tragédias nordestinas. O que mudou: o clima ou a realidade?

O clima não mudou e, se mudou, está mudando para pior. O semiárido está ficando mais quente, portanto, com mais evaporação de águas. As chuvas estão cada vez mais concentradas, caindo de forma diluviana, como os 400 milímetros em Alagoas e Pernambuco. O processo de desertificação está aumentando, embora seja controlável com políticas adequadas.

Esses dias, um técnico cearense disse que “esse ano choveu menos que na seca de 58 no Ceará”. Só ficamos sabendo por que ele nos contou. Entretanto, não foi preciso fazer “campos de concentração de migrantes”, como o Ceará fez na seca de 1932, para que os famélicos não invadissem Fortaleza.

O que mudou é fruto da sociedade civil, que desenvolveu a convivência com o semiárido. As simples cisternas para captar água de chuva para beber, para produzir, a agroecologia, a criação de pequenos animais mais adaptados ao clima, a criação de abelhas, as forrageiras para os animais. Até mesmo a conquista da terra é importante. Se ainda não chegamos ao ponto possível – talvez tenhamos feito uns 5% do necessário -, pelo menos descobrimos o caminho.

Outras políticas governamentais contribuíram, como o salário mínimo dos aposentados – fruto da luta social -, o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, até mesmo o Bolsa Família. As tecnologias também – celular, internet, eletro-eletrônicos, etc. -, se expandiram com mais difusão da energia elétrica no meio rural. Sinal que, com um pouco de boa vontade, com políticas acertadas, a fome, a sede e a miséria podem ficar definitivamente para trás, mesmo com a piora das mudanças climáticas.

Falta disseminar para todos essas tecnologias simples e eficazes. Falta implementar as adutoras do Atlas do Nordeste, agora refinado para 1800 municípios. Falta uma reforma agrária adequada à região. Se quisermos sair para um desenvolvimento mais efetivo, falta uma educação contextualizada, o desenvolvimento das poderosas matrizes energéticas limpas da região – solar e eólica -, a preservação da caatinga, o combate à desertificação.

De fato, como disse Washington Novaes, a velha política não mudou, nem melhorou a situação do povo nordestino. Mas, essas políticas simples, sim.

Definitivamente, nossos problemas não estão no clima. Senão, a essas alturas já haveria uma multidão saqueando novamente os armazéns do Nordeste.

Roberto Malvezzi (Gogó), Assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT, é colunista do EcoDebate

EcoDebate, 17/08/2010

[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

2 thoughts on “O Semiárido mudou, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

  • Paulo Afonso da Mata Machado

    O meu amigo Gogó faz algumas considerações importantes. De fato, os habitantes do semi-árido aprenderam a conviver com a seca após a ajuda governamental (o salário mínimo dos aposentados, o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar e o Bolsa Família).
    O grande problema é que o semi-árido não deve ficar eternamente na dependência de ações governamentais. O nordestino pode e deve prover sua própria subsistência. Nesse caso, algumas iniciativas como a apicultura, a criação de pequenos animais e outras são muito bem vindas. Entretanto, elas esbarram num problema crucial: a falta de água.
    Como o Gogó disse, as cisternas captam água para beber, mas apenas para isso. Não são suficientes para uma atividade agrícola mais intensa e todas elas – até mesmo a apicultura – demandam consumo de água.
    O Gogó cita as obras do Atlas Nordeste como se fossem a salvação para o semi-árido. Ocorre que o Atlas Nordeste se preocupa exclusivamente com o abastecimento das sedes municipais com população superior a 5.000 habitantes. Por incrível que pareça, ainda há muitas sedes municipais populosas no semi-árido que sequer têm água potável encanada, que dirá água para consumo agrícola ou consumo industrial. Desenvolvimento sem água suficiente é balela.
    É verdade que já não existem as frentes de serviço e as grandes migrações, embora os saques e a morte dos animais em períodos de seca ainda seja uma realidade (em recente pesquisa realizada no país, os habitantes do Nordeste, que abrange grande parte do semi-árido, foram os que demonstraram maior receio de saques).
    No entanto, a persistir a convivência com a falta de água crônica, o Nordeste jamais poderá seguir o ciclo de desenvolvimento que esperamos para o restante do país.
    Como disse o Prof. Manoel Bonfim, o semi-árido é uma ilha cercada de água doce por todos os lados. Será possível que não temos condições de fazer chegar a essa ilha água doce suficiente para libertar seu povo do atraso secular em que vive? Ou será que esse povo está condenado a viver eternamente das benesses do governo?

  • MARIA JOSÉ DE ARAUJO

    Querido amigo, Gogó! Paz e Bem!

    Sua presença sempre nos deixa sensibilizados e apaixonados pela defesa ambiental de nosso querido sertão! Neste próximo ano de 2011, queremos dedicar o 2° semestre nas escolas para atuar neste campo especifico: MEIO AMBIENTE. Fizemos uams cartilhas para trabalhar em sala de aula e fora da escola. Por isso, queremos lhe convidar para no proximo ano assumir duas importantes ações:

    1ª Missão:
    SOCIALIZAÇÃO DOS EDUCADORES – Enfocar o 4 ciclo da cartilha retomando “A QUESTÃO AMBIENTAL”. Mas depois teremos tempo para planejar bem isso. As datas são:
    Dia 26/julho – SOCIALIZAÇÃO em Ibimirim
    Dia 27 e 28/julho – Socializaçaõ em Petrolandia.
    Dia 29 e 30/ julho – Socialização em Jatobá
    Dia 09 e 10/agosto – Socialização em Tacaratu
    Dia 11 e 12/agosto – Socialização em Floresta
    Dia 17/agosto – Socialização em Belém

    COMO?
    1° MOMENTO: Palestra com você e momento de perguntas e respostas.
    2° Momento – OFICINAS.
    3° Momento – PARTILHA DAS OFICINAS
    4° Momento – Amarração do assessor

    2ª MISSÃO:
    Promover MINI-FÓRUNS nos municicpios envolvidos no projeto, voltado para a questão da educação e da sociedade como responsável pelo futuro dos adolescentes, jovens… O tema ainda não ficou definido, decidiremos no inicio do 1° semestre.
    Nestes foruns queremos contar com a sua presença e de alguns assessores competentes nas áreas que vamos aprofundar.
    As datas serão:
    DIA 25/AGOSTO – MINI-FÓRUM EM JATOBÁ.
    DIA 20/SETEMBRO – MMINI-FÓRUM EM TACARATU
    DIA 21/SETEMBRO – MINI-FÓRUM EM IBIMIRIM
    DIA 22/SETEMBRO – MINI-FÓRUM EM FLORESTA

    QUEM PARTICIPA DO MINI-FORUM?
    Membros da Secretaria Municipal de Educação/ Ação Social e da saude nos fóruns, representantes da Sociedade Civil, Militar, Política…
    Secretaria Estadual de Direitos Humanos, de Educação, da Mulher, da Juventude…

    O nosso objetivo principal destes fóruns é fazer com que todos se sintam responsáveis pelo processo de formação humana das crianças, adolescentes e jovens de seu municipal; sejam capazes de discutirem os problemas emergentes e buscarem soluções que todos possam assumir em seu respectivo campo de trabalho; criar políticas públicas para serem implantadas no municipio; serem agentes construtores da Cultura de Paz Estrutural e a questão da preservação do meio ambiente.

    Esperamos poder contar com a sua participação.
    Obrigada.
    Maria José e Equipe de Articulação.

Fechado para comentários.