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Artigo

Indonésia: plantações, direitos humanos e REDD, artigo de Chris Lang

Antes da chegada das plantações, os moradores em Teluk Kabung na província Riau em Sumatra cultivavam coco. Há alguns anos, milhares de hectares de floresta nos arredores do povoado foram cortados e substituídos por monoculturas de acácia para fornecer as operações maciças [celulose e papel] da Ásia Pulp and Paper. “Logo que eles cortaram as árvores nas florestas, as pestes pulularam, e devoraram nossos coqueiros,” disse um morador a Mitra Taj, um rádio-jornalista da Living on Earth. Dúzias de coqueiros mortos jazem no solo nas proximidades do povoado. A maior parte daquelas ainda em pé são só troncos, sem folhagem das palmeiras e sem cocos.

O desmatamento industrial tem destruído o habitat do tigre de Sumatra até o ponto de apenas haver aproximadamente 250 remanescentes. E para esses restou tão pouca floresta que eles vagueiam pelas plantações, povoados e lugares de corte. Os tigres que acostumavam viver na floresta, agora estão vindo para o povoado. Pelo menos dez pessoas foram mortas neste ano.

“Isso me dá vontade de gritar,” disse um dos moradores a Living on Earth. “O único motivo pelo qual não estou gritando é porque estou refreando a vontade. Nós não temos mais nada. Às vezes eu não posso sequer olhar para essa terra, porque não tenho esperança.”

Os moradores estão tentando encontrar uma solução e têm enviado cartas para o parlamento, o chefe e o governador, mas não receberam nenhuma resposta. Em primeiro lugar, os moradores querem uma compensação. Depois eles querem dinheiro para comprar pesticidas. Mas há outro problema. As plantações deixaram os moradores sem terras para a próxima geração.

Os moradores estão considerando agora plantar dendezeiro, já que eles esperam que irá resistir as pestes. Eles pediram para o repórter da Living on Earth entrar em contato com a APP e pedir ajuda deles. Em Jakarta, a Living on Earth encontrou Ainda Greenbury, diretor de sustentabilidade e compromisso com as partes. “Sim, claro, nós sempre estamos interessados em ajudar a comunidade”, ela disse. Greenbury falou a respeito da importância de deixar corredores florestais para providenciar habitat e deter os ataques de pestes e doenças. E, aparentemente, foi isso.

A APRIL é a outra gigante do papel e celulose que opera na província de Riau. Entre elas, a APP e a APRIL possuem aproximadamente um quarto da floresta remanescente na província. As atividades da APRIL na Península Kampar revelam outro impacto das plantações industriais de árvores. A madeira da APRIL é transportada em enormes barcos até a fábrica de celulose da companhia, PT Riau Andalan Pulp and Paper (RAPP).

“Antes de a RAPP entrar em nossa terra, nosso grupo de pescadores trabalhava pacificamente, nada nos incomodava enquanto eles estavam pescando,” Pat Akiat um pescador de Penyengat disse aos cineastas da LifeMosaic. “Agora a pesca com rede é muito dura. A maior parte de nossas redes são rasgadas pelos barcos. Em nosso grupo a maioria deixou de pescar, porque nós temos medo.”

A rede de pesca de Pak Akiat foi destruída há cerca de um ano. “Eu ainda quero a compensação da RAPP, minha rede de pesca está rasgada, “ ele disse. “Quero voltar a pescar. Esse é meu sustento, minha única esperança.”

A Península Kampar é abrigo dos povos indígenas Akit e Melayu. Agora eles dependem da ajuda alimentar do governo. “Com tantas companhias por tudo quanto é lado por que 95% de nosso povo é pobre? pergunta Anjianoro, um líder comunitário em Penyengat, na filme da Life Mosaic. “As companhias como a RAPP recrutam milhares de trabalhadores.Se nós nos beneficiássemos de alguma delas, não haveria pobreza aqui.”

Uma nova solução a todos esses problemas está sendo atraída nos encontros internacionais tais como as recentes negociações sobre o clima das Nações Unidas em Copenhague: Redução das Emissões do Desmatamento e Degradação (REDD). “Nós estivemos buscando uma oportunidade como essa durante décadas,” Joe Leitmann do Banco Mundial em Jakarta disse a Living on Earth. “Nós pensamos que com REDD é potencialmente uma iniciativa revolucionária”. Obviamente, Leitmann não disse nada a respeito do papel que o Banco Mundial teve no financiamento da destruição da floresta na Indonésia.

Com certeza, os problemas são sérios. Só na província de Riau, é provável que uma área de 1,6 milhões de hectares de turfeiras e florestas sejam queimadas neste ano. Mas exatamente como irá a REDD, essa iniciativa revolucionária, mudar alguma coisa na realidade? A APP e a APRIL esperam conseguir pagamentos REDD por não cortarem florestas em áreas onde eles já têm licença para cortar. Não há dúvidas que a APP pretenderá pagamento por seus “corredores florestais”. A APRIL planeja plantar um anel de 150.000 hectares de plantações de acácia ao redor da península Kampar e colocar uma moratória no clareamento do coração peninsular de 300.000 hectares. A APRIL antecipa grandes quantias de dinheiro do carbono. Mas a APRIL não diz nada sobre o sustento das populações locais. A companhia sequer perde seu tempo em explicar às comunidades locais da península Kampar a respeito de seus planos.

As pessoas que tiveram seu sustento perdido das plantações industriais de árvores têm algumas das menores pegadas de carbono no mundo. A APP e a APRIL são responsáveis pelas enormes emissões de gases de efeito estufa provenientes da destruição das florestas e da drenagem das turfeiras. Contudo REDD iria premiar a APP e a APRIL e não fará nada para deter o atropelamento dos direitos humanos básicos dos moradores.

Por Chris Lang, http://chrislang.org

O programa de rádio da Living on Earth, “Where the Forest Ends”, está disponível em: http://bit.ly/7hLN0j
O filme da LifeMosaic, “Eyes on the Kampar Peninsular”, está disponível em:
http://bit.ly/5BWH01

Artigo socializado pelo Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais e publicado pelo EcoDebate, 12/02/2010

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