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As mudanças climáticas poderão aumentar a pobreza nos países em desenvolvimento

Populações expostas à pobreza nos países em desenvolvimento
Populações expostas à pobreza nos países em desenvolvimento. Para acessar a imagem no seu tamanho original clique aqui.

[Por Henrique Cortez, do EcoDebate, com Purdue University] Pesquisas recentes demonstram que o aquecimento global e as mudanças climáticas terão severos impactos na agricultura e na disponibilidade hídrica, o que, por sua vez, afetarão a segurança alimentar em escala global.

Nesta hipótese, os trabalhadores urbanos dos países em desenvolvimento seriam os mais afetados com a elevação dos custos dos alimentos, como ficou demonstrado na crise alimentar de 2008.

Agora, um novo estudo [Climate Volatility Deepens Poverty Vulnerability in Developing Countries] de pesquisadores da Purdue University, quantifica os efeitos do clima sobre as populações pobres do mundo.

Os pesquisadores examinaram a influência econômica potencial de eventos climáticos extremos, tais como ondas de calor, secas e chuvas intensas, sobre 16 países em desenvolvimento. De acordo com o estudo, os trabalhadores urbanos em Bangladesh, México e Zâmbia foram identificados como os que estão expostos ao maior risco potencial.

“Eventos climáticos extremos afetam a produtividade agrícola e podem aumentar o preço dos alimentos básicos, como grãos, que são importantes para as famílias pobres nos países em desenvolvimento”, diz Noah Diffenbaugh, o professor e diretor interino do Climate Change Research Center, da Purdue University. “Estudos mostraram que o aquecimento global irá provavelmente aumentar a freqüência e intensidade de ondas de calor, secas e inundações em muitas áreas. É importante compreender quais grupos sócio-econômicos e países poderão sofrer mudanças nos índices de pobreza, a fim de tomar decisões políticas”.

A equipe utilizou dados do final do século 20 e projeções para o final do século 21 para desenvolver uma estrutura que examinou o risco de eventos climáticos extremos e seus potenciais choques na produção de grãos, identificando o impacto sobre o número de pessoas pobres em cada país.

“A alimentação é uma despesa significativa para os pobres e, enquando aqueles que trabalham na agricultura até poderiam ter algum benefício com o aumento dos preços de grãos, os pobres urbanos só teriam os efeitos negativos”, diz Thomas Hertel, diretor executivo do Center for Global de Purdue Trade Analysis. “Este é um dado importante, uma vez que a ONU preve um contínuo aumento nos processos migratórios, da população das zonas rurais para áreas urbanas, em praticamente todos esses países em desenvolvimento.”

Com cerca de 1 bilhão de pobres que vivem no mundo com menos de 1 dólar por dia e os eventos extremos podem ter um impacto devastador sobre eles

“Bangladesh, México e Zâmbia apresentaram o maior percentual da população reduzida à pobreza, na sequência de uma seca extrema, com um adicional 1,4%, 1,8% e 4,6%, respectivamente. Isso se traduz em um adicional de 1,8 milhões de pessoas pobres em Bangladesh e no México e meio milhão de pessoas na Zâmbia”.

A equipe identificou a precipitação máxima, secas e ondas de calor para períodos de 30 anos, em 1971-2000 e 2071-2100 e, em seguida, compararam os valores máximos para os dois períodos de tempo. Os experimentos climáticas globais modelo desenvolvido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, ou IPCC, foram utilizados para as projeções futuras de eventos extremos.

De acordo com os pesquisadores, ondas de calor e secas no Mediterrâneo mostraram um potencial de 2.700% e 800%, respectivamente, de aumento na ocorrência e o aumento de precipitação extrema no sudeste da Ásia foi projetado para um aumento potencial de 900 %”.

Além disso, Sudeste da Ásia apresentou um aumento projetado de 40% na magnitude das piores chuvas; África Central, mostrou um aumento de 1.000% na magnitude da pior onda de calor e no Mediterrâneo a projeção indica um aumento de 60% na pior seca.

Grandes reduções de produtividade de grãos, devidas a eventos climáticos extremos, são suportadas por dados históricos. Em 1991, a produtividade de grãos no Malawi e na Zâmbia diminuiu cerca de 50% em razão de uma grave seca.

Os dados da pesquisa amplificam as questões expostas pela crise alimentar de 2008. A crise alimentar atual é causada pela conjunção de fatores associados: especulação agrofinanceira, aumento artificial do preço das commodities, fatores climáticos adversos, consumo e desperdício obscenos, agricultura intensiva e asfixia da agricultura familiar, entre outros.

O aumento dos preços dos alimentos, no início de 2008, chegou a desencadear motins e revoltas populares em vários países. Um relatório do Banco Mundial, em 2007, constatou que 74% dos pobres do mundo pertencem ao setor rural agrícola, que é muito dependente do clima, de terras marginais (áreas agrícolas subtilizadas ou de pequeno valor) e ameaçado por secas. É por isto que os elevados preços dos alimentos, combinado com as secas endêmicas, ameaçam a vida de centenas de milhões de pessoas, especialmente na África.[in Desertificação, a degradação dos solos e a seca ameaçam a produção de alimentos, aumentando a crise global da fome].

Em muitos países – em especial na África e na Ásia –, o potencial de crise é maximizado pelos “grandes interesses econômicos internacionais” (entenda-se os países economicamente desenvolvidos), que não têm o menor escrúpulo em especular, em manipular os preços das commodities e em incentivar a substituição da produção de alimentos pela de agrocombustíveis. Afinal, se os países economicamente desenvolvidos já não se importam com a fome de 800 milhões de indivíduos, porque se importariam com a fome de 1 bilhão e meio?

Esta e outras pesquisas sugerem que os sistemas agrícolas serão seriamente afetados pelo aquecimento global nas próximas décadas. Se nenhuma medida de adaptação for tomada, até 2030 o aumento das temperaturas e o declínio das chuvas em regiões do planeta que sofrem com a insegurança alimentar provavelmente reduzirão a produção de cultivos essenciais para as populações dessas áreas, o que pode diminuir ainda mais a disponibilidade de comida [in Mudanças climáticas podem reduzir disponibilidade de alimentos do mundo até 2030].

A insegurança alimentar é hoje a mais gritante, abjeta e desnecessária realidade mundial. Com as mudanças climáticas atingirá a escala de uma crise humanitária em escala global.

O artigo “Climate Volatility Deepens Poverty Vulnerability in Developing Countries”,de Syud A Ahmed, Noah S Diffenbaugh and Thomas W Hertel, foi publicado na Environmental Research Letters, Volume 4, Number 3, July-September 2009, doi: 10.1088/1748-9326/4/3/034004

O artigo está disponível para acesso integral nos formatos HTML e PDF.

EcoDebate, 27/08/2009, com informações do Purdue Climate Change Research Center e Purdue Center for Global Trade Analysis.

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