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Artigo

Para ler no café da manhã, artigo de Andy Jarvis

“O investimento mais importante que a sociedade pode fazer agora é se organizar para garantir que o acordo estabelecido em Copenhague preveja medidas efetivas para a redução de emissões”

[O Globo] Muitas pessoas consideram natural comprar comida, desde que tenham dinheiro. A realidade, no entanto, é mais complicada. Se analisássemos detalhadamente o tempo e a energia gastos na produção de frutas e cereais que consumimos no café da manhã, ficaríamos chocados com a complexidade do sistema global de produção e também com sua fragilidade. Mas, se tivéssemos que indicar os fatores mais importantes dos quais todos os outros elementos do sistema dependem, certamente seriam terras férteis e clima. Este último, atualmente, ameaçado.

Um bilhão de pessoas passam fome no mundo e esse número está aumentando. A luta dessas pessoas e de milhões de outras que estão sendo duramente atingidas pelas mudanças climáticas foi enfatizada no relatório publicado este mês pela Oxfam intitulado “Suffering the Science”. Nele fica claro como um clima instável, aliado a outras pressões, resulta em quebras de safra e aumento da fome em todos os países em desenvolvimento.

E num congresso científico realizado em Copenhague no começo do ano, perguntaram-me o que eu faria se tivesse US$ 1 milhão. Respondi, em tom de brincadeira, que subornaria alguns políticos para que se comprometessem a reduzir radicalmente as emissões de gases de efeito estufa quando se reunirem na mesma cidade, no fim do ano, para definir um acordo climático.

A verdade, porém, é que o investimento mais importante que a sociedade pode fazer agora é se organizar para garantir que o acordo estabelecido em Copenhague preveja medidas efetivas para a redução de emissões e ficarmos abaixo da “zona de segurança” de um aumento de temperatura de 2 graus centígrados. Não importa se serão necessários um milhão ou um bilhão de dólares. Um único dólar gasto hoje evitará prejuízos incalculáveis, e também um grande sofrimento humano, no futuro.

Na América Central, por exemplo, o café é a segunda maior fonte de renda rural para os cerca de 20 milhões de produtores. Analisamos no Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) a produção de café na região no intuito de identificar possíveis impactos das mudanças climáticas sobre essa cultura e ficamos impressionados.

Só a Nicarágua perderá metade da sua área de cultivo de café se a temperatura aumentar dois graus. Isso significa que uma grande parcela do PIB do país desaparecerá e 2,5 milhões de produtores rurais de café precisarão encontrar uma forma alternativa para alimentar seus filhos.

Diante dessa situação, que medidas podemos tomar? Em primeiro lugar, precisamos fazer lobby e campanhas em prol de reduções significativas de emissões quando os líderes mundiais se reunirem no fim do ano para discutir medidas de combate às mudanças climáticas.

Além disso, precisamos identificar os elementos mais vulneráveis do nosso sistema alimentar e trabalhar com agricultores no sentido de ajudá-los a se adaptar a mudanças que se aproximam. Como uma sociedade global, precisamos nos preparar para um futuro difícil.

Andy Jarvis é pesquisador do Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) e integrante da organização não governamental Oxfam International.

* Artigo originalmente publicado no O Globo, 08/07/2009.

[EcoDebate, 10/07/2009]

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