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Maiores economias propõem limite de 2ºC para aquecimento mas não citam metas de cortes de emissões

Ao fim de uma reunião na Itália para tentar chegar a um acordo sobre cortes de emissões de gases que provocam o efeito estufa, líderes das 17 principais economias do mundo divulgaram nesta quinta-feira uma nota concordando sobre a necessidade de manter o aquecimento global médio em no máximo 2º em relação aos níveis pré-industriais.

“Como líderes das maiores economias do mundo, tanto desenvolvidas quanto em desenvolvimento, temos a intenção de reagir com vigor a este desafio, convencidos de que a mudança climática representa um perigo claro, que requer uma reação global extraordinária”, diz a nota.

O consenso entre a maior parte dos cientistas é de que a partir de um aquecimento de 2º, as consequências para o planeta passam a ser “imprevisíveis”. Reportagem de Rogerio Wassermann*, enviado especial da BBC Brasil a Áquila.

Apesar das palavras fortes, o comunicado não dá indicações de como esse objetivo deve ser atingido, já que não estabelece qualquer meta ou compromisso conjunto nem prevê financiamento para desenvolvimento limpo das economias mais pobres.

Por causa disso, a nota foi duramente criticada pelos principais grupos ambientalistas. O Greenpeace afirmou que “as esperanças de um resultado positivo” do encontro foram “torpedeadas pela falta de liderança demonstrada pelos líderes do G8 (Alemanha, Itália, Estados Unidos, França, Japão, Canadá, Grã-Bretanha e Rússia)”.

Já o WWF afirmou que os países ricos “precisam mostrar empatia de verdade, liderança real e compromissos financeiros sólidos e não declarações de consolo.”

‘Consenso histórico’

Por outro lado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, classificou o resultado como “um consenso histórico”. Obama disse que pela primeira vez os países ricos e os em desenvolvimento estão comprometidos com ações.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, também afirmou que o consenso já é um avanço em relação às negociações anteriores e também disse esperar que se chegue a um consenso sobre as medidas que devem ser tomadas para conseguir isso até a conferência de Copenhague.

Amorim disse que os países em desenvolvimento mantêm a posição de que os países ricos precisam se comprometer com metas de curto e médio prazo e defendeu a meta de 40% de corte nas emissões dos países desenvolvidos até 2020.

Segundo ele, os países em desenvolvimento já fizeram uma concessão “importante” nas negociações ao concordar com a redução no ritmo de crescimento de suas próprias emissões.

Em linhas gerais, o Fórum das Principais Economias (MEF, na sigla em inglês), propõe cooperações para reduzir emissões provocadas pordesmatamento, além de fixar o prazo de 15 de novembro para a apresentação de planos de ações, a serem propostos “por países interessados”, para uma economia de baixas emissões.

O coordenador do Painel Intergovernamental para Mudança Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), Rajenda Pachauri, criticou a falta de precisão do acordo, chamando-o de “desleixado, inepto e bem ridículo”.

Na quarta-feira, também no encontro em Áquila, na Itália, durante a reunião de cúpula anual do G8, o G5 (Brasil, China, Índia, África do Sul e México) já tinha feito um apelo ao G8 pela adoção de metas de redução de gases de 40% até 2020.

A ausência de metas intermediárias é um dos principais obstáculos para se chegar a um acordo que deve substituir o Tratado de Kyoto a partir de 2012, que será discutido em dezembro, em Copenhague.

Ainda na quarta-feira, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, também criticou a falta de um acordo sobre metas do G8 para 2020.

A reunião desta quinta-feira fez parte do Fórum das Grandes Economias sobre a Energia e o Clima, convocado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e cuja primeira reunião foi em abril, em Washington.

O objetivo do grupo é chegar a um consenso entre os 17 maiores emissores de gases do efeito estufa para facilitar um acordo global para o chamado Tratado pós-Kyoto, que será discutido em uma conferência em Copenhague, na Dinamarca, em dezembro.

Compromisso

O Tratado de Kyoto, firmado em 1997 e que vence em 2012, estabelecia metas para corte de emissões entre os países desenvolvidos, mas poupava os países em desenvolvimento, o que reduzia sua eficácia. Além disso, com a retirada dos Estados Unidos, maior emissor histórico de poluentes, seu alcance ficou limitado.

Com o novo tratado, a comunidade internacional espera conseguir um comprometimento de todos os países para limitar as emissões de modo a evitar um aumento médio das temperaturas globais acima de 2ºC em relação à era pré-industrial, ponto crítico após o qual se considera que as consequências do aquecimento global se tornariam irreversíveis.

Os 17 membros do Fórum das Grandes Economias, que além dos países do G8 e do G5 inclui Austrália, Coreia do Sul, Indonésia e Dinamarca, parecem concordar com a necessidade de evitar esse aumento de 2ºC na temperatura da Terra, mas a divergência aparece em relação à maneira de conseguir essa limitação.

Na quarta-feira, os países do G8 se propuseram a fazer um corte de 80% em suas emissões até 2050, desde que o restante do mundo se comprometa a um corte de 50% nesse mesmo período.

Além disso, em uma reunião paralela do G5, o grupo dos países emergentes pediu que as nações ricas façam mais para controlar o aquecimento global e que estabeleçam um mecanismo de compensação financeira por eventuais cortes de emissões realizados pelos países mais pobres.

O argumento dos países em desenvolvimento é que o problema do aquecimento global foi causado historicamente pelas emissões dos países ricos em seu processo de desenvolvimento e que agora as nações mais pobres não podem pagar a conta com medidas que limitem seu próprio desenvolvimento.

A posição da China é considerada essencial para o sucesso de um acordo, já que o país superou recentemente os Estados Unidos como o maior emissor mundial de gases do efeito estufa.

* Colaborou Eric Brücher Camara, de Londres

[EcoDebate, 10/07/2009]

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