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A democracia da água, entrevista com Vandana Shiva


Vandana Shiva, em Colônia, Alemanha, 2007

“Enquanto estamos falando ao telefone, milhões de pessoas na minha terra estão em fuga, expulsos de suas casas pela violência dos ciclones. E, no mesmo instante, em outros lugares do mundo, milhões de seres humanos sofrem pela estiagem que acabará por impelir muitos deles para a via do êxodo, em busca de um lugar no qual o clima permita sobreviver”, afirma Vandana Shiva, física e ambientalista indiana, em entrevista publicada pelo jornal La Repubblica, 11-09-2008.

Eis a entrevista.

As previsões do IPCC, a força tarefa das Nações Unidas sobre o aquecimento global, estão se confirmando. E o ritmo da mudança é ainda superior às expectativas.

De fato, a tendência tem sido por diversas vezes corrigida, considerando dois novos dados que continuam fazendo crescer o alarme. A lista dos furacões a temer se amplia, tanto que por vezes se acaba exaurindo a lista dos nomes à disposição.

Até agora, no entanto, a atenção se focalizara sobre a dupla: clima – energia, ou seja, sobre a necessidade de intervir nas emissões de anidrido carbônico. Agora a carência de água está se tornando um tema central.

Na realidade, era central há muito tempo. Também porque a alteração climática é somente um dos dois principais responsáveis pelo problema. O outro é a loucura da assim chamada revolução verde, que introduziu a agricultura intensiva com alto consumo de pesticidas e com altíssimo consumo hídrico: a demanda de água segundo a paridade do produto, cresceu dez vezes. Uma escolha irresponsável.

Na época, muitos retinham que a Terra pudesse oferecer recursos sempre mais abundantes e que todos os problemas pudessem ser resolvidos pelo aperfeiçoamento das tecnologias.

E o resultado é o que vemos desfilar sob nossos olhos toda vez que olhamos um telejornal: aluviões e estiagem, estiagem e aluviões. E pensar que os ditos populares indianos já haviam intuído tudo. Nas nossas campanhas se diz: “Pouca água ou demasiada água, é sempre um grande problema”.

A senhora sempre ligou suas batalhas ecologistas às raízes da cultura indiana. Agora um dos símbolos desta cultura está sendo ameaçado: o Ganges corre o risco de secar pela retirada dos glaciais do Himalaia.

É terrível, porque água é vida. Na Índia os assentamentos humanos são chamados abades, que significa ‘fundados sobre a água’. No início da estação destinada à lavoura, os camponeses recolhem um pouco de água do Ganges num vaso, que depois é conservado como sinal de bom auspício. E agora, ao desastre climático somam-se intervenções extremamente danosas, como a construção do dique de Theri, que será o quinto mais alto do mundo e submergirá uma das planícies mais férteis da região.

Uma Carta da água poderá ajudar?

Estabelecer o princípio da ‘water democracy’ é fundamental. E urgente: milhares de agricultores se tiraram a vida pelos erros cometidos por outros em campo hídrico.

(www.EcoDebate.com.br, 26/09/2008) entrevista publicada pelo IHU On-line, 25/09/2008 [IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

Vandana Shiva
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Vandana Shiva (Dehradun, 5 de novembro de 1952) é uma física, ecofeminista e ativista ambiental da Índia.

Na década de 1970, participou daquele que ficou conhecido como o Movimento das Mulheres de Chipko, formado em sua maioria por mulheres que adotaram a tática de se amarrar às árvores para impedir sua derrubada e o despejo de lixo atômico na região. Uma das líderes do International Forum on Globalization, Shiva ganhou o Right Livelihood Award em 1993, considerado uma versão alternativa do Prêmio Nobel da Paz.

Ela é diretora da Research Foundation for Science, Technology, and Ecology, em Nova Déli, segundo ela “um nome muito longo para um objetivo muito humilde, que é o de colocar a pesquisa efetivamente a serviço dos movimentos populares e rurais, e não apenas fazer de conta que estamos ajudando-os”. Shiva é autora de inúmeros livros, entre os quais The Violence of the Green Revolution (1992), Stolen Harvest: The Hijacking of the Global Food Supply (2000), Biopirataria: a pilhagem da natureza e do conhecimento (Vozes, 2001), Protect or Plunder? Understanding Intellectual Property Rights (2002), Monoculturas da mente (Global, 2004), Guerras por água (Radical Livros, 2006).

Shiva é figura de destaque no movimento anti-globalização e consultora para questões ambientais da Third World Network. Entre suas atividades mais recentes, incluem-se iniciativas de ampla divulgação para a preservação das florestas da Índia, luta em favor das sementes como patrimônio da humanidade e programas sobre biodiversidade dirigidos a diferentes coletividades, além de pesquisas para o desenvolvimento de uma nova estrutura legal para os direitos de propriedade coletivos, como alternativa para os sistemas de direitos de propriedade intelectual atualmente em vigor.

Antes de se dedicar integralmente ao ativismo político, às causas feministas e à defesa do meio ambiente, Shiva foi uma das principais físicas da Índia.