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Cana-de-açúcar na Amazônia: Não haverá novos plantios, mas a área ocupada com usinas já instaladas poderá ser mantida


Nenhum novo projeto de plantio ou instalação de usina de cana-de-açúcar no Bioma Amazônia será autorizado pelo governo daqui para frente. Este é um dos principais resultados da reunião entre os ministros do Meio Ambiente, Carlos Minc, e da Agricultura, Reinhold Stephanes, realizada nesta segunda-feira (4), no Ministério do Meio Ambiente. Por Gisele Teixeira, ASCOM MMA.

Eles discutiram o zoneamento agroecológico da expansão da cana-de-açúcar para produção de etanol. O Bioma Pantanal foi excluído parcialmente. A decisão final depende agora do Palácio do Planalto.

De acordo com Minc, o levantamento que está sendo executado pela Embrapa, em parceria com instituições do Consórcio ZEE-Brasil como o IBGE e o Inpe, retira as áreas sem aptidão de solo, clima e declividade de 12%, e ainda as com vegetação nativa. No caso do Bioma Amazônia, exclui a possibilidade de qualquer novo projeto, mas mantém as usinas já licenciadas, em número de três.

No caso do Pantanal, o zoneamento exclui totalmente a planície pantaneira, porém mantém a possibilidade de cultivo no planalto, onde já existem áreas consolidadas de produção há mais de dez anos. Nesse caso, a determinação é que migrem para o sistema de plantio direto, menos agressivo ao solo. “Ao preservar a Amazônia e o Pantanal, neste último caso definindo claramente as zonas de plantio, e não quebrando a produção já existente, me parece que o acordo é bom para todo mundo”, disse Minc.

De acordo com o zoneamento, há áreas mais que suficientes para expansão da produção em outros biomas sem que seja necessário derrubar nenhuma árvore. É estimada em 30 milhões de hectares a área que poderá ser destinada para o plantio da cana exclusivamente para produção de etanol.

Para dobrar a produção atual de etanol, que hoje é de 20 bilhões de litros/ano, são necessários 7 milhões de hectares, o que garante uma margem confortável para o aumento da produção.

Nota do Ecodebate

Os ministros optaram pelo óbvio: manter o que já está e impedir a expansão de novas usinas. O problema será resolver quem dirá ao presidente Luiz Inácio da Silva que há cana-de-açúcar na Amazônia, que existem usinas funcionando normalmente…

O presidente sempre negou a existência de canaviais na Amazônia e, em junho durante a reunião da FAO , pressionado pela comunidade internacional , o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil não vai plantar cana-de-açúcar na região amazônica, como acusam Organizações Não-Governamentais (ONGs) estrangeiras, porque não é necessário.

Ao ser indagado sobre o porquê do Brasil simplesmente não proibir que se plante cana-de-açúcar na Amazônia para interromper os boatos de destruição da floresta por conta do etanol brasileiro, Lula afirmou que essa não é a solução porque não basta proibir. “Estamos fazendo o zoneamento agroecológico exatamente para que a gente demarque claramente o que você pode plantar e onde. Não queremos plantar cana na Amazônia porque sabemos que a terra lá não é produtiva para cana. Então não adianta fazer investimento lá”, argumentou. “Mais que proibir, estamos dizendo que tem um jeito de fazer corretamente. Essa idéia de proibir não dá certo em lugar nenhum do mundo. É melhor ensinar como fazer e tirar resultado daquilo”, afirmou.

O reconhecimento da realidade, como corretamente fizeram os ministros Stephanes e Minc, com o zoneamento agroecológico, é um passo na direção certa, mas desmentem as afirmações internacionais do presidente e isto será mais um golpe na nossa combalida credibilidade ambiental.

Henrique Cortez, henriquecortez@ecodebate.com.br
coordenador do Ecodebate

[EcoDebate, 05/08/2008]