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Ambientalistas concordam com Marina Silva e criticam Stephanes

Ambientalistas que atuam na defesa da Amazônia deram razão à ministra Marina Silva sobre os motivos do aumento do desmatamento e reagiram com surpresa às declarações de Reinhold Stephanes. Segundo o coordenador da Campanha Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário, Stephanes não pode garantir que a alta do desmatamento nos últimos cinco meses não está ligada à expansão do cultivo de soja. Ele lembrou que o grão só é plantado três anos após a derrubada das árvores: – É um ciclo natural. Após desmatar e queimar, o fazendeiro cria gado no primeiro ano, planta arroz no segundo, para corrigir o solo, e só leva a soja no terceiro. Por isso, o governo não pode afirmar com segurança quem foi responsável pelos últimos desmatamentos. Por Bernardo Mello Franco, O Globo, 25/01/2008

Para ambientalistas, pacote do governo está atrasado

Para Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, o discurso de Stephanes demonstra uma tentativa do Ministério da Agricultura de se eximir da responsabilidade pelo desmatamento da floresta:

– A agricultura ainda não vê o desmatamento como um problema, mas como um meio de aumentar a produção. Enquanto o setor não assumir sua culpa, a floresta continuará em risco.

Os ambientalistas avaliaram também que o pacote anunciado ontem pelo governo para frear o desmatamento na região está atrasado e contém medidas cuja aplicação vem sendo sucessivamente adiada nos últimos anos. O diretor da ONG Amigos da Terra, Roberto Smeraldi, lembrou que itens como a restrição do financiamento a produtores que devastam e a obrigatoriedade de cadastramento das terras no Incra já estavam previstos em lei, mas não eram cumpridos:

– Não me parecem medidas novas. Os bancos oficiais já deviam checar a situação dos produtores com os órgãos ambientais desde 2002.

A promessa de cortar os recursos do Banco da Amazônia (Basa) para fazendeiros que desmatam ilegalmente foi reiterada em junho de 2003 pela ministra Marina, num seminário que discutiu alternativas para a floresta em Belém. Adário criticou as autoridades por terem se declarado surpresas com a nova alta das derrubadas:

– O governo não pode dizer que foi pego de surpresa. Estamos alertando para um novo aumento no desmatamento desde maio do ano passado.

Os novos números oficiais sobre a devastação da floresta reativaram uma polêmica que marcou a relação entre ambientalistas e governo nos últimos três anos. Para os ativistas, as quedas no desmatamento registradas entre 2005 e 2007 devem-se mais ao preço baixo das commodities no período do que às ações de fiscalização.

– As operações da PF e do Ibama foram importantes, mas, diferentemente do que diz o governo, a queda está mais ligada ao preço da soja e da carne – disse Adário.

“Já sabemos que não haverá redução este ano”

Os ambientalistas também manifestaram pouca confiança na possibilidade de que o próximo balanço anual das derrubadas na região, que será concluído em julho, mantenha a queda registrada nos últimos anos. Essa foi a meta anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião emergencial de ontem, no Palácio do Planalto.

– Já sabemos que não haverá redução este ano. Agora o objetivo deve ser a redução do estrago – disse Adriana Ramos, especialista em Amazônia do Instituto Socioambiental.

Para o coordenador do Greenpeace, o governo enfrentará grandes dificuldades para, em ano de eleições municipais, executar as novas medidas que punem as cidades que mais desmatam .

– Daqui a dois meses, os prefeitos aliados vão ligar para Brasília dizendo que têm 20 fazendeiros na porta, ameaçando demitir todos os lavradores – disse Adário.