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Artigo

A suinocultura e o meio ambiente: um exemplo a ser seguido, artigo de Antonio Germano Gomes Pinto

Adital – Os especialistas vêm enfatizando de forma categórica ser a água um bem mineral finito que vem se esgotando de forma bastante acelerada na natureza, entretanto esta afirmação não representa a realidade. A água é a mesma, em massa e volume, desde que a crosta terrestre esfriou e tomou a estrutura geológica atual. O que varia, dependendo das condições climáticas, é o seu estado físico de sólido, liquido ou vapor. A distribuição da água na superfície da terra é que foi alterada pela ação do homem como conseqüência da agressão à natureza como desmatamento, irrigação, represamento, desvio de cursos d’água, contaminação, etc.

A sociedade se preocupa muito com o saneamento e tratamento d’água nos centros urbanos e se esquece da poluição, com pouco ou nenhum controle, causada, dentre muito outros agentes poluidores, pela suinocultura.

É preciso não se esquecer que um suíno gera dejetos por dez homens. Uma granja com três mil suínos, granja considerada de porte médio, produz contaminação ambiental equivalente a uma cidade de trinta mil habitantes.

Os suinocultores, habitualmente, constroem tanques naturais de terra batida para reter os dejetos suínos, sob uma cobertura de lona emborrachada que chamam de “biodigestor”, para reter o metano que é a seguir queimado, transformando o mesmo em gás carbônico que é finalmente liberado para atmosfera.

O resíduo pastoso, produto da decomposição dos dejetos, retido no “biodigestor” é aspergido com o auxilio de equipamentos apropriados nos pastos e lavouras.

As chuvas se encarregarão de arrastar toda a sujeira para corpos d’água provocando grande contaminação e prejuízos ao meio ambiente.

Aí está, em rápidas pinceladas, o quadro atual!

Um grupo de técnicos, apoiado financeiramente por Carlos Alberto Tostes, proprietário da Granja Serra Queimada, localizada em Cachoeira de Macacu, Estado do Rio de Janeiro, suinocultor, integramos tecnologias já existentes há mais de cem anos num só projeto de engenharia com excelentes resultados como será descrito a seguir.

a) A lâmina d’água, isto é, a água de lavagem da pocilga, é recolhida numa caixa desareadora para retirada dos resíduos sólidos, principalmente a areia solta das lajes de cimento devido ao pisoteio dos suínos;

b) O sobrenadante, água de lavagem e fezes, passa para um tanque de homogeneização, que transforma o material recolhido numa suspensão homogenia, forçando, com o passar dos dias, a decantação dos resíduos em suspensão. Esse material permanece neste ambiente mais ou menos por dez dias;

c) Ao final de dez dias, o resíduo decantado é esgotado para o biodigestor, construído em alvenarias, possuindo drenos para aproveitamento do gás natural e para escoamento do biofertilizante ali maturado por quarenta dias.

d) O sobrenadante, líquidos provenientes do tanque de homogeneização, ainda com alto índice de DBO, vai para um tanque anaeróbio, contendo meios filtrantes onde serão retidos materiais finos e ainda em suspensão. No final deste processo anaeróbio há uma grande queda do índice de DBO;

d) Toda essa água recolhida do tanque anaeróbio é esterilizada e aspergida no telhado da pocilga para refrigeração do mesmo, oxigenação e conseqüente “descoloração” da água. Nesta etapa há um tratamento aeróbio da água quando o telhado funciona como aerador;

e) Essa água vai, finalmente, para reuso e alimentação das lagoas de piscicultura;

f) O biofertilizante, substância negra e pastosa, retirada do biodigestor, é espalhada num pátio onde passa por uma pré secagem e, finalmente, é desidratado num secador alimentado por gás natural gerado no biodigestor e ensacado. Tem-se assim a vantagem de obtenção de um material absolutamente seco e estéril;

Esse tipo biofertilizante ou esterco de porco vem comprovando possuir alto teor de carbono e grande concentração de nitrogênio, fósforo, potássio e cálcio, além de outros nutrientes, com ausência total de metais pesados;

g) Na água que escorre da substância negra e pastosa, do biofertilizante, constatou-se grandes concentrações de sais nutrientes dissolvidos, por isso, após esterilização e filtragem, é envazada e utilizada em bioirrigação.

Resumindo:

Numa única estrutura integrada utilizando-se tecnologias já testadas e normatizadas há décadas, que eram utilizadas separadamente, “de forma estanque”, montou-se um reator capaz de tratar a água para reuso ou retorno aos corpos hidricos, gerar energia (recuperação do gás natural), recuperar nutrientes para o solo (biofertilizante e bioirrigação), utilizando para isso a própria natureza, ou seja, a força da gravidade, o oxigênio do ar, o calor e luz solar.

E-mail: aggpinto@hotmail.com ou ag.pinto@uol.com.br
* Bach. em Química. Químico industrial. Eng. químico, especialista em Rec. Nat./Geologia. Esp. em Tecn. e Gestão Amb. Professor univ. Autor de 2 patentes reg. no INPI e outros países

(www.ecodebate.com.br) artigo originalmente publicado pela Agência de Informação Frei Tito para a América Latina