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Artigo

A televisão que assistimos e os políticos que elegemos, artigo de Érica Daiane Costa

 

opinião

 

Duas coisas me inspiraram a escrever este texto: a revolta de um deputado baiano expressada no plenário da Assembleia Legislativa e as cenas do último capítulo da novela Império.

Cresce a cada dia o número de pessoas que reconhecem o poder da mídia, sua influência na vida das pessoas, muitas vezes moldando comportamentos, formando opiniões, direcionando o voto. A internet é um elemento bastante favorável a esta tomada de consciência, porém, há ainda muito o que avançar, pois ainda há também uma enorme parcela da população que nem se quer questiona este papel poderoso dos meios de comunicação, com forte destaque para a televisão.

Os telejornais, novelas, programas de humor e outros “entretenimentos” são campeões em disseminar gostos, modas, preconceitos, posições políticas, sejam de forma explícita ou embutida em seus conteúdos, sempre tão atrativos ao público que mantém fiel a audiência. Mesmo acessando internet, realizando tarefas domésticas, comendo em casa ou em um restaurante, conversando na sala em família ou com visitas, paralelo a isso sempre mantemos o aparelho de Tv ligado. Não é novidade que no Brasil a maior parte desta audiência vai para a Rede Globo de Televisão, grande aliada da Ditadura Militar. Sim, pois havia um objetivo em comum entre o Regime Militar e as empresas de comunicação: instigar o crescimento do sistema capitalista no Brasil. Para isso, era estratégico o aumento do consumo, de produtos e de ideias.

Para o Governo Militar, a Tv, principalmente, seria um meio para se criar uma desejada integração nacional, inclusive em combate a quem quisesse “desagregar” a sociedade com ideologias diferentes das do Regime Militar e do capitalismo. Isso vem junto com a expansão da energia elétrica nas zonas urbanas e rurais e com o aumento da produção dos aparelhos de televisão.

Bem, isso explica então o porquê de até hoje ser tão comum a falta de pluralidade da televisão brasileira. Apesar do capítulo V da Constituição Federal de 1988 (Art. 220 a 224) tratar da obrigatoriedade dos meios de comunicação darem preferência aos conteúdos educativos, artísticos, culturais, regionalizar a produção jornalística, divulgar a produção independente, etc, o que se vê é a imposição da ideologia de poucas famílias ou grupos empresariais que violam mais um item da Carta Magna e formam os monopólios e oligopólios da comunicação no Brasil.

E o que nosso voto tem a ver com isso? Tudo. Dois fatos me chamaram atenção essa semana. Li uma matéria acerca da postura do deputado baiano Adolfo Menezes (PSD) que fez seu pronunciamento na Assembleia Legislativa indignado com uma cena da novela global Império. Segundo ele, saiu da sala constrangido com a cena de um beijo entre dois homens em um dos capítulos da última semana e ainda disse que já viajou ao lado de um casal homossexual em um avião e precisou tomar calmante para dormir. Mas vendo partes do último capítulo de Império, me veio uma inquietação: será se o deputado fará pronunciamento sobre as cenas de violência da novela? No último dia houve sequestro, assassinato, e ao longo de toda a trama houve inúmeras situações de violência.

Falso moralismo. Infelizmente é essa a postura de muitos políticos com mandato e de muitos telespectadores. Não apenas com relação à homossexualidade, mas a outros tipos de desrespeito aos direitos humanos, à diversidade, às liberdades. E a reforma da mídia, será se o nobre deputado Adolfo Menezes sabe o que é? Qual será a posição dele? São poucos as/os parlamentares que levantam esta bandeira. Hoje se fala em reforma na comunicação, mas não é motivo pra gente se animar, não sem antes mudar nossas decisões nas urnas.

Hoje, a maior parte da Câmara dos deputados e do Senado é cria da Rede Globo, da Ditadura Militar e de outras estruturas de poder que não tem nenhum interesse numa mídia educativa, progressista, comprometida com a diversidade brasileira e pluralidade de ideias de todas e todos que fazem esta nação.

Por Érica Daiane Costa – jornalista

* Colaboração de Ruben Siqueira, Comissão Pastoral da Terra / Bahia – Articulação Popular São Francisco Vivo

Publicado no Portal EcoDebate, 16/03/2015


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One thought on “A televisão que assistimos e os políticos que elegemos, artigo de Érica Daiane Costa

  • Não assisto mais novelas há anos, e nem tenho ligação de TV em casa (tenho o aparelho, mas uso para assistir DVDs).

    Ainda assim, acho que só na grande ajuda que a Globo deu para a diminuição da taxa de natalidade brasileira, ela já conseguiu um carma bom que compensa quase todos seus males.

    Como assim? É simples. Novelas tendem a mostrar famílias pequenas, com 1 ou 2 filhos, pois fica mais fácil fazer o enredo com menos personagens. Tem famílias maiores em novelas, mas são exceção, e via de regra a família pobre e quebrada é grande, quando essa exceção existe. Muito mais raro os ricos e bem sucedidos serem de família grande, com 3 ou mais filhos.

    Mostra-se isso para a população por anos e anos. O meme de “famílias com dois filhos são boas” “dois filhos são suficientes” ” um filho está ok” é popularizado. Menos preconceito para se enfrentar.

    A escolha de menos filhos passa a ser válida. E em menos de quarenta anos, nossa taxa de natalidade no país despenca. Não foi o único fator, mas foi um dos.

    O deputado está dando chiliquinho porque a aceitação a homossexuais vai pelo mesmo caminho. E ele sabe disso. Não é que todos vão virar homossexuais (só quem teme isso é quem está no armário e não admite).

    Mas no dia em que as pessoas deixarem de se preocupar com o que adultos fazem com consentimento mútuo, o mundo vai ser um lugar melhor. E essa é a próxima mudança de valores que a Globo anda patrocinando.

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