EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Governo precisa encontrar um local para depositar lixo radioativo de Angra

Governo precisa encontrar um local para depositar lixo radioativo de Angra

As piscinas que resfriam o combustível só suportam mais material até 2021. Cronograma para a construção de depósitos não deve ser cumprido.

Procuram-se, em algum canto brasileiro, cidades interessadas em receber definitivamente — por séculos a fio — 578,6 toneladas de combustível altamente radioativo, usado pelas usinas nucleares Angra 1 e Angra 2 para gerar energia. A busca inclui municípios dispostos a acolher também 7,4 mil tambores abarrotados de papéis, vestimentas, filtros e resinas contaminados por índices baixos e médios de radioatividade. O tempo é curto para as candidatas se manifestarem e serem selecionadas. As piscinas que resfriam o combustível usado em Angra 1 e 2 suportam mais material radioativo somente até 2021. No galpão da mais antiga usina nuclear brasileira, Angra 1, só resta 16,7% de espaço. O lixo atômico terá de ir para algum lugar. Só não se sabe, até agora, para onde. Reportagem de Vinicius Sassine, no Correio Braziliense.

O funcionamento dos dois reatores nucleares, que contribuem com 1,9% da energia gerada no país, causou, ao longo das últimas três décadas, um problema incômodo, que desafia as autoridades responsáveis pela energia nuclear no Brasil. Os rejeitos radioativos estão abrigados no espaço físico de Angra 1 e Angra 2 desde o início das atividades das usinas.

Os primeiros 59 tambores com lixo atômico de Angra 1 foram gerados em 1982. Angra 2 produziu 38 tonéis em 2002 e não parou mais. Mas a principal preocupação é com o combustível usado e descartado dos reatores direto às piscinas de resfriamento. À base de urânio enriquecido, o material tem alto nível de radioatividade e longo tempo de duração. Esses restos devem ficar pelo menos 10 anos nos tanques. Em Angra 1, estão depositados há quase 30 anos.

Tanto os resíduos de baixa e média atividade quanto o combustível precisam deixar o complexo de Angra dos Reis (RJ). A comissão responsável pelo programa nuclear brasileiro definiu um cronograma para a construção dos depósitos definitivos e o apresentou ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2008. O cronograma trazia datas para a construção dos depósitos. O espaço para os rejeitos de baixa e média atividade deveria começar a ser edificado em 2014. Já as obras do depósito de combustível usado deveriam ter início em 2019. A cidade que vai acolher esse material, conforme o cronograma, precisaria ser selecionada três anos antes.

Prorrogação
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), responsável pela destinação final dos rejeitos, admitiu ao Correio que o cronograma não será cumprido. Será necessário prorrogar prazos, o que deve gerar um impasse. Mesmo se o cronograma previsto fosse cumprido, a Eletrobras Eletronuclear — a quem cabe administrar as usinas — ficaria cinco anos sem ter como depositar o combustível usado, caso os reatores continuem a funcionar. “Se os depósitos não forem construídos, será necessário parar as usinas”, afirma o coordenador de Comunicação e Segurança da Eletronuclear, José Manuel Diaz.

As piscinas de Angra 1 e 2 têm capacidade para abrigar combustível usado até 2021. O depósito definitivo, pelo cronograma original, deveria começar a receber o rejeito em 2026. “O problema no mundo inteiro é o combustível usado. A gente nem pensou ainda nas cidades (que vão abrigar os rejeitos). É necessário primeiro achar um sítio geológico adequado”, diz o presidente da Cnen, Odair Gonçalves. “O sítio das usinas não vai ser descomissionado (quando ocorre a desativação) nos próximos 50 anos. Temos tempo para isso.”

Diante da indefinição sobre um depósito definitivo, a Eletronuclear planeja construir uma terceira piscina de resfriamento em Angra. Uma possibilidade para reduzir o volume de rejeitos é a incineração. Não há qualquer previsão oficial de reciclar o combustível — que ainda guarda 40% de energia —, a exemplo do que fazem Japão e países da Europa.

Compensações
Três municípios já se dispuseram a receber os rejeitos de baixa e média atividade, em troca de royalties e outras compensações financeiras, mas a Cnen não diz quais são as cidades, nem as regiões. Quando um dos depósitos de Angra 1 esteve próximo de ficar lotado, com 94% de ocupação, a Eletronuclear precisou fazer uma supercompactação dos resíduos para obter mais espaço para o lixo. No caso do combustível usado, não faltará espaço, afirma José Manuel Diaz, da Eletronuclear. “Está tudo dentro das normas e convenções internacionais.” O problema principal é a piscina de resfriamento de Angra 2. Funcionando há menos de 10 anos, já teve 35% do espaço ocupado. A dificuldade na destinação dos rejeitos é um dos aspectos que será verificado in loco por uma comissão de senadores. A visita a Angra dos Reis está prevista para quarta-feira.

EcoDebate, 28/03/2011

[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Alexa

3 thoughts on “Governo precisa encontrar um local para depositar lixo radioativo de Angra

  • Na década de 1980 a Alemanha estava “exportando” para o Brasil o “lixo atòmico” de suas usinas nucleares para ser “enterrado” no poço que se encontra na Base Militar da Serra do Cachimbo e que tinha sido aberto para “experiéncias para os motores nucleares dos submarinos brasileiros”. Em troca a Siemens vendia para o Brasil os equipamentos das usinas nucleares da Angra dos Reis ( equipamentos das primas geraçoes , e portanto jà “obsoletos”). Presidente do Brasil daquela época era José Sarney. Vamos ver se o Estado do Parà ou o Ministério do Exército vao propor que seja reaberto o “poço” da Serra do Cachimbo onde ainda poderia haver lugar, apesar da àrea ser o berço de nascentes da bacia do rio Xingu, jà massacrado pelas barragens planejadas e pela contaminaçao por dioxinas. Faltaria sò agora também a radioatividade. Padre Angelo Pansa- Delegado ICEF (Internacional Court of the Environment Foundation)

  • Oi mana,

    Veja o que chamam de energia limpa, o que pode gerar!!!!
    O problema é que o ser humano não visualiza em seus projetos científicos se os riscos compensam os benefícios. Tenho pensado muito sobre isso!!!!!

    Bjsssssssssssssss

  • Conheci um viajante de uma terra antiga que disse: “Duas imensas pernas de pedra, sem tronco, jazem no deserto. Junto a elas, parcialmente afundado na areia, um rosto depedaçado, com o lábio franzido e enrugado em um sorriso escarnecedor de frio poder, demonstra que o escultor bem intuiu tais paixões, que ainda sobrevivem, estampadas naquelas coisas sem vida. A mão que as forjou e o coração que as alimentou; no pedestal há a seguinte inscrição: ‘Meu nome é Ozimandias, rei dos reis: Olhem para os meus feitos pujantes e desesperem-se!’ Nada resta além disso. Ao redor daquela ruína colossal, ilimitada e desnuda as areias solitárias e planas espalham-se ao longe.” (Ozimandias, por Percy Bysshe Shelley, 1817 in GIAMOND, Jared, 2005)

Fechado para comentários.