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Guatemala: impactos ecológicos e sociais das plantações de dendezeiros, artigo de Carlos Salvatierra

Monocultura de palma (dendezeiro)
Monocultura de palma (dendezeiro)

Comparado com outras latitudes, a Guatemala é um país relativamente pequeno mas com uma grande riqueza em biodiversidade. O país está na região mesoamericana, centro de origem de espécies como o milho, feijão e vários tipos de abóboras, entre outras.

O fato de estar localizado entre dois grandes oceanos, com uma diferença de altitude desde o nível do mar até os 4.220 metros de altura no cume do vulcão Tajumulco e sua condição de grande ponte continental tem gerado muita riqueza biológica que se manifesta em uma grande variedade de ecossistemas e espécies animais e vegetais, muitas delas usadas pelas comunidades locais para sua subsistência.

Grande parte dessa riqueza natural tem se perdido em ritmo acelerado devido a uma mudança no uso dos solos e ao mau manejo do território influenciado por interesses econômicos e políticos. O modelo agroindustrial manifestado em plantações e monoculturas de produtos não voltados para a alimentação da população e sim para a exportação deixou seu sinal na natureza e nas comunidades humanas, ocasionando graves impactos ecológicos e sociais.

O modelo de agro- exportação e monoculturas em grande escala, que há alguns anos se concentrava principalmente na região do litoral sul, transladou-se para os departamentos do norte do país, onde além da cana-de-açúcar estão as plantações de dendezeiros. A expansão desenvolvida pelas empresas dendeicultoras ocorre em um contexto de despejos e compras forçadas da terra a comunidades empobrecidas que devem migrar a outros locais.

As áreas mais afetadas pelas monoculturas de dendezeiros são: a região de Izabal, especificamente nas proximidades do Refúgio de Vida Silvestre Bocas del Polochic, que, aliás, é um sítio Ramsar, e na região de La Franja Transversal del Norte, no Ixcan e ao sul de Petén.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, no ano 2003, havia 49 estabelecimentos dedicados à produção de dendezeiros em uma superfície total de 31.185 hectares e com uma produção de mais de 320 mil toneladas é destinada fundamentalmente à elaboração de óleos essenciais e gorduras para a indústria de alimentos e de sabões.

A enquete agropecuária de 2007 apontou que o número de estabelecimentos destinados a esse produto tinha aumentado a 1049 nesse ano, e a superfície plantada com dendezeiro tinha se estendido a 65.340 hectares; o que significa que a plantação tinha dobrado de tamanho nos últimos 4 anos. Os cálculos contidos no relatório da Action Aid, realizados em junho de 2008, mostram um total estimado de 83.385 hectares plantados ou prestes a ser plantados com dendezeiros e destinados à produção de biodiesel.

Apesar das violações dos direitos humanos e dos danos ecológicos ocasionados pelas plantações de dendezeiros, a questão na Guatemala ainda não chegou ao espaço e ao debate público nacional. Atualmente, os impactos incluem perda de terras para a agricultura, compras forçadas de terras, deslocamentos e migrações forçadas que abrangem até as áreas protegidas. Em alguns casos, as comunidades são apontadas como “invasoras” e como destruidoras do patrimônio natural, mas nunca são mencionadas as causas nem a origem desses fatos. A isso acrescenta-se o uso abusivo das fontes de água, a concorrência pela água entre as vastas extensões de dendezeiros e cana-de-açúcar e as comunidades rurais.

Em muitos lugares, para produzirem óleos e açúcar já foram destruídas florestas e ecossistemas naturais que são transformados em monoculturas e que assim acarretam um forte impacto na natureza, a conectividade dos ecossistemas e as pessoas.

Com as atividades agroindustriais e as plantações nosso país perde muito mais do que biodiversidade, perde a possibilidade de oferecer condições de vida mais justas e dignas para as gerações atuais e futuras.

Por Carlos Salvatierra, SAVIA / Guatemala, correio eletrônico: salvatierraleal@gmail.com , com informação citada e contida no documento “Las Plantaciones para Agrocombustibles y la pérdida de tierras para la producción de alimentos en Guatemala”, da Action Aid

Boletim número 142 do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais

Boletim Mensal do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais
Este boletim também está disponível em francês, espanhol e inglês
Editor: Ricardo Carrere

[EcoDebate, 25/05/2009]

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