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Metade dos brasileiros sofre com sobrepeso ou obesidade ; Obesidade está mais relacionada ao consumo de carboidratos do que ao de gorduras

Pesquisa feita na Universidade de Oxford com dados de 900 mil pessoas conclui que cada 5 kg/m² a mais no índice de massa corporal resulta em aumento de um terço na mortalidade
Pesquisa feita na Universidade de Oxford com dados de 900 mil pessoas conclui que cada 5 kg/m² a mais no índice de massa corporal resulta em aumento de um terço na mortalidade

Mais da metade da população brasileira sofre com excesso de peso. O estudo Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), produzido pelo Ministério da Saúde e pela Universidade de São Paulo (USP), mostra que 43,3% da população estão com o peso acima dos níveis recomendados (sobrepeso) e 13% estão obesos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera com sobrepeso as pessoas que estão com Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou acima de 25, e obesas as que têm IMC a partir de 30.

“Temos uma tendência histórica de elevação no país e no mundo inteiro de sobrepeso e obesidade. Para reduzir esses níveis é fundamental que a gente avance tanto na prática de exercícios físicos regulares quanto na alimentação saudável”, avalia a coordenadora-geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do ministério, Deborah Malta. De acordo com ela, o aumento do consumo de frutas e hortaliças e a diminuição da ingestão de carnes com gorduras ainda não são suficientes para conter essa “epidemia”.

Para levantar os dados, adultos das 27 capitais foram entrevistados por telefone, entre junho e dezembro de 2008, sobre consumo de álcool e tabaco, padrão de alimentação, peso e altura, nível de atividade física, perfil sócio demográfico, atualização de exames preventivos e índices de doenças como hipertensão e diabetes.

“Um fator que nos traz preocupação é o aumento do consumo abusivo de álcool para essa tendência de crescimento da obesidade e do sobrepeso”, alerta o coordenador do Vigitel, Otaliba Libânio Neto, da Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério. A OMS considera consumo excessivo de álcool a ingestão de mais de quatro doses para mulheres e cinco doses para homens em um mesmo momento. Ou seja, se em uma festa um homem consumir mais que cinco latinhas de cerveja ou cinco taças de vinho, por exemplo, este consumo é considerado abusivo – ainda que isso ocorra apenas uma vez no mês.

No Brasil, o índice de pessoas que ultrapassam esta barreira é de 19%, no total. Os homens jovens e as mulheres em geral são os grupos que mais preocupam. Entre eles, o consumo abusivo de álcool chega a 30% na faixa que vai de 18 a 44 anos. Entre as mulheres, apesar de o índice ainda ser bem menor, o consumo subiu de 8,1% da população feminina em 2006, para 10,5% em 2008 – aumento de cerca de 20%.

A saúde delas também foi observada pelo estudo, quanto à realização de exames preventivos. O Vigitel constatou que 71% das mulheres com 50 anos ou mais fizeram mamografia nos últimos três anos e 80,9% das que têm entre 25 e 29 anos fizeram exames de prevenção do câncer do colo de útero. O percentual de mulheres que passaram por esses procedimentos aumentou, quando o nível de escolaridade também subiu. Em ambos os casos, os índices ultrapassam os 89% em mulheres com 12 anos ou mais de escolaridade. A mamografia é recomendada para mulheres entre 50 e 69 anos pelo menos uma vez a cada dois anos.

O Vigitel registrou ainda uma queda no tabagismo, que passou a atingir 15,2% da população em 2008. Em 1989, os índices eram superiores a 34%. Além disso, caiu de 2% para 1,5% nas pessoas que admitem dirigir após consumo abusivo de álcool. Otaliba Neto credita que retrações se devem à legislação restritiva que surgiu nos últimos anos, proibindo propagandas e restringindo o uso dessas substâncias.

O diagnóstico médico prévio de hipertensão arterial também teve um aumento, segundo constatou o estudo. Os números subiram de 21,6% dos entrevistados em 2006, para 23,1% em 2008.

Obesidade está mais relacionada ao consumo de carboidratos do que ao de gorduras, diz especialista

O aumento da obesidade e do sobrepeso na população brasileira está mais relacionado ao consumo excessivo de carboidratos, como arroz, massas e batata, do que à ingestão inadequada de gordura. A afirmação é do estudioso sobre alimentação Leandro Zanutto, que há dez anos pesquisa engenharia biomédica para investigar as respostas orgânicas que os alimentos provocam.

Segundo Zanutto, a pirâmide alimentar sugerida pelo Ministério da Saúde brasileiro propõe cerca de 70% de consumo de carboidratos e apenas 30% de proteínas, que são oferecidas pelas carnes, peixes, frango e soja, e de gorduras. “A alimentação do brasileiro é riquíssima em carboidrato, a cesta básica inclui uma latinha de atum que não dá nem para o consumo diário de proteína para uma pessoa. E entre carboidrato, proteína e gordura, o carboidrato é o que a pessoa menos precisa em termos nutricionais. Não em termos energéticos, em termos nutricionais”, explica Zannuto.

Para ele, a diminuição na ingestão de carnes com gordura, observada pelo ministério por meio da pesquisa Vigitel, feita em todas as capitais com pessoas adultas, não é um fator que vá necessariamente ajudar na queda da obesidade – doença que já atinge 13% da população. “A queda no consumo de carnes gordurosas pode ser considerado um avanço sim, porque essa gordura não vai trazer benefícios diretos para o organismo, e esse consumo excessivo pode ser prejudicial porque a gordura poderá colar no interior das artérias. Mas não é de todo ruim o consumo de gorduras com as carnes, porque alguns tipos de gorduras estimulam a sensação de saciedade, fazendo com que a pessoa coma menos”, explica Zanutto.

O pesquisador ressalta ainda que o consumo de gordura não está diretamente ligado à obesidade. “Acharam um vilão para a obesidade e tentam associar isso à gordura, sendo que comer gordura não te faz mais gordo, não necessariamente vai aumentar seu colesterol. O consumo de carboidrato com toda certeza está mais relacionado ao excesso de peso e obesidade.”

Após se desligar como pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Zanutto se dedica a uma empresa privada de pesquisas na área de longevidade saudável. Ele ressalta que a alimentação deve ser voltada para o equilíbrio hormonal. Para isso, é necessário adotar uma dieta em que as proporções de carboidratos, proteínas e gorduras sejam mais equilibradas, e lembrar que frutas e hortaliças também são carboidratos.

As velhas dietas que levam em consideração os valores calóricos dos alimentos são “vazias”, na opinião de Zanutto. “Tudo no seu corpo funciona de acordo com os hormônios. Eles são a chave para o funcionamento do organismo. Então, se eles estiverem desequilibrados, todo o resto vai estar também”, explica.

“Ninguém engorda por excesso de caloria. Se fosse assim não teriam pessoas que se entopem de comer porcarias e não engordam. A gente engorda por um desequilíbrio hormonal”, completa.

O consumo de leite também é criticado pelo pesquisador. De acordo com o Ministério da Saúde, o leite é uma boa fonte de cálcio, mas o consumo de leite integral por 56% da população preocupa em função da gordura presente nele. Mas, Zanutto alega que o cálcio deve ser procurado em outros alimentos e o leite deve ser ingerido apenas fermentado, na forma de iogurtes ou queijos bem curados. “Sou contra o consumo de leite. O ser humano não foi feito para tomar leite, ainda mais de outra espécie. Nem o bezerro toma leite da própria mãe depois que cresce. São mais do que conhecidos os efeitos alérgicos do leite”, alega.

Para finalizar, Zanutto também critica a comum substituição do açúcar pelo adoçante. Segundo ele, nenhum dos dois faz bem, mas o aspartame – uma das substâncias que dá o efeito adocicado na maior parte dos adoçantes – é muito mais prejudicial à saúde. Assim, segundo o pesquisador, o ideal é que as pessoas deixem de usar os dois e passem a consumir os alimentos naturalmente doces, como as frutas. “A maioria das frutas já é adoçada naturalmente, mas o paladar já está tão viciado pelo açúcar dos produtos industrializados que as pessoas não sentem o gosto”, explica.

Matéria de Mariana Jungmann, da Agência Brasil.

[EcoDebate, 09/04/2009]

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