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Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça: População de negros e brancos quase se iguala, mas desigualdades continuam

A diferença entre o número de brancos e negros na população brasileira diminuiu entre os anos de 1996 e 2006, segundo o estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgado no dia 9/9 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Se em 1996 o total de brancos correspondia a 55,2% (85.261.961) da população e o de negros a 44,7% (68.929.113), em 2006, o total passou a ser de 49,7% (93.096.286) de brancos, frente a 49,5% (92.689.972) de negros. Por Ivan Richard e Mariana Jungmann, Repórteres da Agência Brasil.

A representante do Fundo das Nações Unidas para as Mulheres (Unifem) Maria Inês Barbosa acredita que o crescimento da população negra não tem a ver apenas com o crescimento demográfico do país e, sim, com a melhoria na auto-estima dessa parcela da população.

“Desde a década de 80, houve uma reafirmação da identidade negra. Isso provocou uma mudança entre as pessoas que antes se consideravam pardas e, agora, se assumem negras”, afirmou. A esse fenômeno, ela deu o nome de “queda do embranquecimento [da população]”.

Maria Inês acrescenta que “é importante, em sociedades marcadas por desigualdades de raça, gênero e classe, ter dados que possam impulsionar políticas públicas para superar as desigualdades”.

Se no total da população há equilíbrio entre negros e brancos, as desigualdades em relação à educação ainda permanecem.

Brancos e negros estão próximos quando analisada a inclusão no ensino fundamental. Há dois anos, 95,7% das crianças brancas cursavam os primeiros anos da escola. Já entre as negras, esse índice era de 94,2%. Entrentato, na análise sobre a inclusão no ensino médio, as diferenças se ampliam. São 58,4% de brancos e 37,4% de negros. O pesquisador do Ipea, Jorge Abrahão, afirma que o crescimento econômico não provoca diminuição da desigualdade entre negros e brancos.

“As desigualdades não diminuem tão rapidamente quanto o crescimento do país porque as políticas públicas fazem recorte por renda e não por gênero ou raça”, disse.

“Fora isso, a renda pode aumentar, mas se está relacionada a fatores como escolaridade, e esse conjunto da população não alcança esse fatores, ele não atinge a renda”, completou Abrahão.

O levantamento divulgado pelo Ipea teve como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 1993 a 2007. O trabalho traça um perfil sobre diferentes temáticas relacionadas às desigualdades de sexo e de raça. São abordados temas como população, chefia de família, educação, saúde, previdência e assistência social, mercado de trabalho, trabalho doméstico remunerado, habitação e saneamento, acesso a bens duráveis e exclusão digital, pobreza, distribuição e desigualdade de renda e uso do tempo.

Negros entram mais cedo no mercado de trabalho

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que os negros entram mais cedo e deixam o mercado de trabalho mais tarde do que os brancos, tanto homens quanto mulheres. O estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça revela que entre a população negra com 60 anos ou mais, 34,7% encontravam-se ocupados ou em busca de trabalho em 2006, comparados a 29,3% da população branca na mesma faixa etária.

De acordo com o Ipea, o dado pode ser explicado pelas formas mais precárias de trabalho vividas pelos negros. Isso faz com que essa parcela da população não tenha garantia de proteção social na velhice, impedindo que um número maior de trabalhadores negros tenha acesso à aposentadoria.

Em relação à renda, a pesquisa mostra que os negros recebem menos do que os brancos em todas as regiões do país. Em 1996, os brancos tinham renda média de R$ 1.044,2, enquanto a dos negros era de R$ 483. Em 2006, apesar da diferença de renda entre brancos e negros ter diminuído, os brancos ainda aparecem com renda maior ((R$ 986,5) em relação aos negros (R$ 502).

O levantamento mostra também que as mulheres e os negros são a maioria dos desempregados ou dos que estão à procura de emprego. As mulheres respondem por 11% do total de desempregados, enquanto negros totalizam 7,1% – os homens são 6,4% e os brancos 5,7%.

A pesquisa revela ainda que as mulheres vêm aumentando sua participação no mercado de trabalho nos últimos anos. Se, em 1996, 46% da população feminina estava ocupada ou à procura de emprego, em 2006, o percentual subiu para 52,6%. O índice ainda é “significativamente” inferior ao dos homens, de 72,9% no mesmo ano.

Segundo o Ipea, o aumento da escolaridade feminina, a queda da fecundidade, as novas oportunidades oferecidas pelo mercado e as mudanças nos padrões culturais são as principais causas do aumento da participação feminina no mercado de trabalho.

A pesquisa não levou em conta o trabalho realizado predominantemente pelas mulheres, como os afazeres domésticos, que não são contabilizados do ponto de vista econômico quando não realizados de forma remunerada.

De acordo com o estudo, do ponto de vista regional, chama a atenção a maior participação no mercado de trabalho das mulheres da Região Sul, onde também são verificadas as maiores taxas de ocupação da população feminina.

O levantamento divulgado pelo Ipea teve como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 1993 a 2007. O trabalho traça um perfil sobre diferentes temáticas relacionadas às desigualdades de sexo e de raça. São abordados temas como população, chefia de família, educação, saúde, previdência e assistência social, mercado de trabalho, trabalho doméstico remunerado, habitação e saneamento, acesso a bens duráveis e exclusão digital, pobreza, distribuição e desigualdade de renda e uso do tempo

[EcoDebate, 11/09/2008]