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Notícia

desmatamento: Maggi insiste contra medida do BC que condiciona crédito a licença

Governador do MT critica decisão e pede apoio ao ministro da Agricultura

CUIABÁ. Um pouco antes de o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, sair do Palácio do Planalto dizendo ter ouvido do presidente Lula a garantia de que todas as medidas contra o desmatamento serão mantidas, o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), aliado político de Lula, reforçou ontem a pressão contra uma das mais importantes medidas de combate à devastação da Amazônia anunciadas pelo governo este ano. Por Anselmo Carvalho Pinto Especial para O GLOBO, 20/05/2008.

Maggi aproveitou um evento com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, em Cuiabá (MT), para pedir apoio na luta contra a resolução do Banco Central que condiciona a liberação de crédito oficial na Amazônia apenas a agricultores e pecuaristas cujas propriedades possuam licença ambiental. A norma, criada após a divulgação do aumento do desmatamento na Amazônia, em janeiro, entrará em vigor a partir do dia 1o de julho.

O Mato Grosso é um dos estados com maiores aumentos na taxa de desmatamento, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A pressão de Maggi contra o chamado “crédito verde” ajudou a derrubar Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente.

— O Estado e a Sema (Secretaria Estadual de Meio Ambiente) não têm a mínima condição de licenciar todas as propriedades do bioma amazônico neste prazo. Seriam necessários dois anos para inspecionar as fazendas — disse Maggi, durante assinatura de convênios do programa Territórios da Cidadania, ao lado de Stephanes.

67 municípios atingidos em MT

Em Mato Grosso, a resolução do Banco Central atinge propriedades em 67 dos 137 municípios. Segundo dados do governo estadual, essas cidades são responsáveis por 80% da produção de alimentos do estado. O Ministério Público Federal já notificou a superintendência do Banco do Brasil em Mato Grosso sobre a restrição ao financiamento.

— A resolução vai acabar com a atividade econômica de muitas cidades — afirmou o governador, que contesta os números do Inpe sobre o desmatamento no estado.

Para Maggi, ao em vez de ser punido por causa do desmatamento, Mato Grosso deveria ser elogiado. Ele citou números dos últimos 20 anos.

Segundo Maggi, desde 1988, em apenas três anos (1990, 91 e 92), a área desmatada esteve abaixo de seis mil quilômetros quadrados por ano: — Há dois anos, nossa média (de desmatamento) está abaixo de três mil quilômetros quadrados. Estamos vivendo um momento histórico. E estamos sendo punidos.

Pelo que Reinhold Stephanes disse em seu discurso, Maggi terá um aliado na briga contra a resolução. O ministro criticou a restrição e afirmou que, mesmo antes da saída de Marina Silva do Meio Ambiente, o governo federal já discutia a impossibilidade de seu cumprimento. Stephanes citou casos de municípios de Mato Grosso que têm apenas 4% de seu território no bioma amazônico e, mesmo assim, estão enquadrados na resolução do Banco Central.

Maggi voltou a criticar o novo ministro Carlos Minc. Na semana passada, Minc havia dito que, se pudesse, o governador do Mato Grosso “plantaria soja até nos Andes”.

— Fui criticado pela ex-ministra (Marina Silva) e agora vejo que o novo ministro tem preconceito com o governador de Mato Grosso.