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desmatamento: Inpe refaz contas e contesta governador

‘Há sim um crescimento do desmatamento’, diz diretor do instituto

SÃO PAULO. Provocado pelas críticas do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) refez as contas que revelaram o aumento da devastação na Amazônia. A nova análise confirmou todos os dados, afirmou ontem o diretor do Inpe, Gilberto Câmara. Em oito meses, de agosto de 2007 a março deste ano, foram desmatados 4.730 km² de áreas de floresta contra 4.970 km² em 12 meses (de agosto de 2006 a julho de 2007). Por Soraya Aggege , do O Globo, 20/05/2008.

Na conta estão incluídas apenas as grandes áreas de desmatamento, pois o levantamento é preliminar, feito pelos satélites sistema Deter.

— Já refizemos todas as análises e temos convicção de que os dados estão cientificamente corretos. Entendemos que haja um descontentamento político, mas não cabe ao Inpe atender a nenhum interesse além do científico.

Assim, podemos dizer que, se o governo federal quer conter o desmatamento, agiu corretamente em suas medidas — disse Gilberto Câmara.

Os dados do Inpe provocaram as medidas do governo federal antidesmatamento, como a Operação Arco de Fogo, que reúne Polícia Federal e Ibama, e a resolução do Conselho Monetário Nacional que, a partir de 1º de julho, obriga o sistema financeiro a exigir a regularidade ambiental como condição para o crédito rural.

Anualmente, o levantamento sobre desmatamento é esmiuçado para áreas menores, pelo sistema Prodes. Por esse sistema, foram desmatados 11.200 km² no último levantamento, entre agosto de 2006 e julho de 2007. Segundo Câmara, dados preliminares do Deter revelam que, após três anos consecutivos de queda, em 2008 a devastação tem crescido, e no período entre agosto de 2007 e julho de 2008 deverá ser maior que esses 11.200 km².

O sistema Deter usa imagens de satélites de resolução espacial moderada, mas produzindo relatórios quase em tempo real.

Mede apenas áreas maiores que 25 hectares, seja de cortes rasos na floresta ou degradação progressiva. Já o Prodes tem alta resolução espacial, captando a partir de 6,25 hectares os cortes rasos na floresta, mas com baixa resolução temporal. Por isso, o Prodes é feito anualmente, enquanto o Deter serve para alertar e dirigir a fiscalização, quase em tempo real.

Na contagem final, a diferença é que o Deter capta menos que a metade do que já foi desmatado.

Como o Deter já captou 4.730 km² de desmatamento entre agosto de 2007 e março deste ano, o Inpe consegue estimar o aumento real do desmatamento, que só será totalmente contabilizado ao fim de um ano.

— Há sim um crescimento do desmatamento, uma tendência de aumento — disse Câmara.

O governo de Mato Grosso enviou relatório ao Inpe, dia 25 de março, contestando as análises.

O relatório aponta 662 pontos, em 51 municípios, com 854 fotos de campo, sobrepostas a imagens dos satélites. Para o governo, “89,98% dos dados do Inpe” estariam errados. O instituto analisou o relatório e concluiu que apenas 3,4% do confirmado pelos satélites não eram desmatamento, dentro da margem de erro das análises, de 4%.

— Vamos continuar contestando os dados do sistema Deter.

Só o sistema Prodes pode dizer se houve aumento do desmatamento.

Pediremos nova avaliação — disse o secretário-adjunto de Meio Ambiente de Mato Grosso, Salatiel de Araújo.