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Comunidade do Rio de Janeiro constrói rede biosustentável de esgoto

 

Comunidade do Rio de Janeiro constrói rede biosustentável de esgoto

As 28 casas da comunidade Vale Encantado estão ligadas a um sistema biosustentável construído pelos próprios moradores

ONU Brasil

Inspirado em um modelo centenário da China, o biossistema capta todo o esgoto bruto da comunidade em um tanque de concreto, onde os resíduos são decompostos por uma série de bactérias.
Inspirado em um modelo centenário da China, o biossistema capta todo o esgoto bruto da comunidade em um tanque de concreto, onde os resíduos são decompostos por uma série de bactérias. Foto: © Arquivo pessoal/Otávio Barros.

Inspirado em um modelo centenário da China, o biossistema capta todo o esgoto bruto da comunidade em um tanque de concreto, onde os resíduos são decompostos por uma série de bactérias, em um processo similar à digestão humana. Essa reação inicial inclusive gera gás, que pode ser aproveitado pelos moradores locais para cozinhar.

Depois disso, a água segue para outro tanque, no qual plantas consomem os nutrientes restantes, deixando a água até 80% limpa de resíduos. Em vez de correr para os córregos, o sistema leva a água até uma área de terra, onde árvores e o restante na flora local consomem o líquido já tratado.

Em vez de correr para os córregos, o sistema leva a água até uma área de terra, onde árvores e o restante na flora local consomem o líquido já tratado.
Em vez de correr para os córregos, o sistema leva a água até uma área de terra, onde árvores e o restante na flora local consomem o líquido já tratado. Foto: © Arquivo pessoal/Otávio Barros.

 

Otávio recorda que os esforços para montar o sistema foram ininterruptos: em 2011, enquanto trabalhava na  Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), ele conheceu o então estudante de engenharia ambiental Leonardo Adler, que se tornou um grande parceiro do projeto. Juntos, eles angariaram os recursos para um primeiro biossistema de tratamento da água, em 2015, que ligava cinco casas da comunidade. O atual projeto, que atende a todos os 100 moradores do Vale Encantado, contou com verbas de ONGs internacionais e instituições brasileiras.

Assim, cerca de quinze anos depois do questionamento da turista, a água da cascata finalmente está fora de perigo e Otávio orgulha-se em indicar o local para banho.

O morador do Vale Encantado, Otávio Barros, durante uma das fases de implementação do projeto.
O morador do Vale Encantado, Otávio Barros, durante uma das fases de implementação do projeto. Foto: © Arquivo pessoal/Otávio Barros.

 

Agenda 2030 – O novo sistema do Vale Encantado está alinhado à Agenda 2030 acordada pelos países integrantes da Organização das Nações Unidas. Especificamente, ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número seis, sobre água potável e saneamento, destacando que até 2030 é preciso “melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos”.

A oficial nacional para o Brasil do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), Rayne Michelli Ferretti Moraes, ressalta que este ODS não é apenas fundamental, como está intimamente conectado a outras metas da ONU. “É um ODS que tem um rebatimento direto na saúde, na educação, na redução das desigualdades, na redução da fome. Isso significa que ao caminhar na direção do cumprimento das metas do ODS 6, você favorece o cumprimento das metas de outros ODS.”

Iniciativas locais – A complexidade do tema também implica em uma grande dificuldade de alcançar as metas estabelecidas até o final da década. “O desafio do saneamento é muito grande, não só no Brasil, como em vários outros países”, explica Rayne, lembrando que o problema afeta bilhões ao redor do mundo.

É neste contexto que iniciativas comunitárias, mesmo que com um escopo limitado, se tornam ferramentas importantes para ampliar o acesso ao saneamento básico, principalmente em regiões pequenas ou isoladas. Exemplos como o do Vale Encantado mostram que às vezes é possível resolver localmente a questão, quando há apoio de organizações dispostas a ajudar.

“Todas as iniciativas da sociedade civil, do setor privado, de organizações do terceiro setor e de organismos internacionais são muito bem-vindas, para somar os esforços e potencializar o comprimento das metas de desenvolvimento sustentável”, afirma Rayne. “Iniciativas como essas, por mais que sejam em um nível local, em um nível de uma comunidade, e envolvam um número mais restrito de domicílios, são certamente importantes.”

Soluções – Embora  as iniciativas locais sejam importantes, elas estão longe de ser a única resposta possível à questão da falta de saneamento, que requer um leque de soluções.

“É importante trabalhar com empresas, concessionárias e prestadoras de serviço. É importante trabalhar com os governos, na parte de regulamentação, na parte de gestão, bem como com a população em geral”, conclui Rayne.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

 

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