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A tragédia em Capitólio, qual seria a melhor solução?

 

Local onde uma rocha das encostas do cânion do Capitólio, em Minas Gerais, desabou sobre barcos de turistas
Local onde uma rocha das encostas do cânion do Capitólio, em Minas Gerais, desabou sobre barcos de turistas. Foto: Divulgação/CBMMG/ABr

A tragédia em Capitólio, qual seria a melhor solução? artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos

Como afirmamos em artigo anterior, os desmoronamentos e tombamentos de rochas, em pequenos ou grandes blocos, são comuns nos cânions de todo o mundo. Constituem o processo natural de evolução desses paredões rochosos.

Um olhar atento sobre os belos paredões dos cânions de Capitólio-MG nos mostrará milhares de “cicatrizes” associadas a desprendimentos de blocos. Portanto é indispensável compreender que estamos diante de uma feição geológica ativa, em evolução constante, e que tem um calendário de eventos que, como todo calendário geológico, não “bate” com o calendário das percepções humanas.

Nessa condição, a melhor (e única) solução para que não ocorram novas tragédias, garantindo assim a continuidade de uma atividade turística sustentável e educativa, está na implementação de um Plano de Gestão de Riscos adaptado às características da área dos cânions, a qual mereceria, por sua beleza e significado geológico, ser alçada à condição de um Geoparque, ou seja, em conceito adotado pela UNESCO, uma área geográfica onde os locais e paisagens de significado geológico internacional são gerenciados no âmbito de um conceito de proteção, educação e desenvolvimento sustentável.

Pretender executar medidas de estabilização nos paredões do cânion seria inviável técnica e financeiramente, pois seriam milhares de locais a serem tratados. De outra parte, por óbvio que as chuvas contribuem com o risco de desmoronamentos, mas desmoronamentos em paredões rochosos ocorrem mesmo sem chuvas. Ou seja, adotar como procedimento de segurança a não permissão de passeios em ocasiões de chuvas mais intensas, evidentemente não seria suficiente, além de gerar uma falsa noção de segurança em dias de estiagem.

O mais correto é sem dúvida a adoção de um Plano de Gestão de Riscos que implique na demarcação de uma faixa de segurança (com largura proporcional à altura do paredão, mas algo como uns 40 metros a partir da linha de contato água/paredão) sinalizada por uma linha de bóias, além da qual barcos e banhistas não poderiam avançar. E deixemos a Geologia em paz evoluindo segundo seus processos naturais.

A implantação dessas recomendações envolve várias instituições, mas convém destacar duas instâncias que obrigatoriamente devem liderar essas ações, a Prefeitura Municipal de Capitólio, responsável legalmente pela elaboração e aplicação de um PMRR – Plano Municipal de Redução de Riscos, e a FURNAS Centrais Elétricas, interveniente pela geração e administração do lago e responsável pelas interferências desse lago nas condições de estabilidade dos paredões rochosos do cânion.

Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)

  • Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas
  • Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para elaboração e uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”
  • Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente

Articulista do EcoDebate

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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2 thoughts on “A tragédia em Capitólio, qual seria a melhor solução?

  • SIMONE RAQUEL CALDEIRA

    Excelente reportagem. Exatamente o que estávamos discutindo ontem em nosso grupo aqui da área de Infra estrutura do IFMT – Campus Cuiabá.

  • Jose Marcio Rodrigues

    Tudo em seu artigo parece tão obvio! É lamentável que seja tão difícil se fazer entender! Não desanime.

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