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A fome vem ai e não é culpa do lockdown: Fora Bolsocaro!

 

A fome vem ai e não é culpa do lockdown: Fora Bolsocaro! artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O Brasil está passando por uma crise sanitária inigualável, conjuntamente com uma enorme crise econômica, com aumento da pobreza e da fome

“De pé ó vítimas da fome; De pé famélicos da terra”
A Internacional

[EcoDebate] O Brasil está passando por uma crise sanitária inigualável, conjuntamente com uma enorme crise econômica, com aumento da pobreza e da fome. O Governo Federal cometeu todos os erros possíveis e o país chegou a 12 milhões de pessoas infectadas e deve alcançar 300 mil vidas perdidas no dia 25 de março de 2021.

A semana de 14 a 20 de março foi a mais triste e letal de toda a pandemia, com mais de meio milhão de casos e quase 16 mil mortes. A média móvel de casos chegou a 73,6 mil casos diários e a média de mortes chegou a 2.259 óbitos diários no dia 21 de março, conforme os gráficos abaixo. O ano de 2021 sendo mais letal do que o ano passado e o sofrimento do povo brasileiro está passando de todos os limites suportáveis.

casos e mortes por covid 19 no brasil

Junto à emergência sanitária o Brasil vive as emergências do desemprego e da insegurança alimentar. Ao contrário do que diz a “Curva de Phillips”, a baixa atividade econômica e a ociosidade da estrutura produtiva não derrubou a inflação. O IPCA, calculado pelo IBGE, subiu 5,2% nos últimos 12 meses e o preço dos alimentos subiu 15% no mesmo período. O Brasil vive um cenário terrível marcado pela estagflação (estagnação + inflação). Assim, depois de 6 anos de juros em baixa, o Banco Central do Brasil elevou a taxa de juros básica, no dia 17/03, sinalizando novo ciclo de alta e dificultando a retomada das atividades econômicas.

A letargia das políticas públicas tem elevado o preço da comida e agravado a carestia. O preço dos alimentos sobe em todo o mundo e não somente no Brasil. O gráfico abaixo, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), mostra o Índice de Preços de Alimentos (FFPI), em termos real e nominal. O FFPI, em termos reais, estava acima de 90 pontos entre 1961 e 1985, caiu para uma média abaixo de 80 pontos entre 1986 e 2005 e apresentou uma grande subida durante o superciclo das commodities atingindo 120 pontos em 2011. Este grande aumento está correlacionado com grandes mobilizações sociais e revoltas populares. O aumento do preço dos alimentos foi o rastilho que deflagrou a Guerra da Síria e a Primavera Árabe, além de conflitos em outras partes do mundo. Entre 2015 e 2019 o FFPI caiu para menos de 100 pontos. Mas a partir do segundo semestre de 2020 o Índice voltou a subir e atingiu quase 120 pontos em fevereiro de 2021.

fao food price index

Estudos do New England Complex Systems Institute (NECSI) mostram que existe uma alta correlação entre o aumento do preço dos alimentos e os protestos populares, indicando que o Brasil pode viver uma situação de grande anomia social em 2021. Isto é agravado pelo fato de que a inflação sentida pelas famílias brasileiras mais pobres foi de 6,75%, bem maior do que para as famílias mais abastadas. Sendo que os pobres gastam cerca de 25% de seu orçamento com alimentos, enquanto os mais ricos gastam menos de 10% nessa categoria. Se o descasamento entre oferta e demanda da comida ocorreu no mundo todo, no Brasil este problema foi agravado pela desvalorização do real. Isto encareceu todos os produtos, principalmente os essenciais.

As pesquisas estão indicando que aumenta o número de brasileiros que identificam a alta dos alimentos aos erros do presidente da República. Por isto, tem viralizado a campanha “BOLSOCARO”, que tem o potencial de incendiar uma revolta de baixo para cima. Isto é mais grave quando o auxílio emergencial não atende as necessidades da população mais pobre.

brasil na uti fora bolsocaro

Na sexta-feira, dia 19/03, o presidente Jair Bolsonaro reconheceu a gravidade da situação e disse: “O caos vem ai, a fome vai tirar o pessoal de casa”. Mas ao invés de buscar soluções, foi ao STF para derrubar decretos de governadores e prefeitos que tentam estabelecer restrições à circulação de pessoas e garantir o distanciamento social para evitar a transmissão exponencial e descontrolada do novo coronavírus. O presidente busca constantemente o confronto. Por enquanto a correlação de forças não favorecem uma grande reviravolta. Mas o avanço da fome e da carestia pode gerar uma onda de mudança que, como aconteceu recentemente no Paraguai, sacuda o quadro político e crie as condições para uma gestão mais democrática e justa da pandemia e da crise social.

Os países que conseguiram evitar a propagação comunitária descontrolada do coronavírus fizeram uma barreira sanitária, aplicaram testes em massa, rastrearam e monitoraram os infectados e fizeram lockdown nacional ou local de acordo com a necessidade. Taiwan, Vietnã e Nova Zelândia são exemplos de nações que para vencer a pandemia conseguiram uma união entre o Poder Público e a Sociedade Civil.

Mas no Brasil o presidente Bolsonaro atrapalhou o combate ao vírus e agora é alvo da campanha “Fora Bolsocaro”. Bolso vazio e falta de dinheiro para comprar os bens essenciais à sobrevivência pode ser a centelha para explodir o barril de pólvora da insatisfação popular.

José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes:

Referências:

ALVES, JED. A pandemia de Coronavírus e o pandemônio na economia internacional, Ecodebate, 09/03/2020 https://www.ecodebate.com.br/2020/03/09/a-pandemia-de-coronavirus-covid-19-e-o-pandemonio-na-economia-internacional-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Presidente quinta-coluna não combate a pandemia e instala o Necroceno no Brasil, Ecodebate, 08/06/2020
https://www.ecodebate.com.br/2020/06/08/presidente-quinta-coluna-nao-combate-a-pandemia-e-instala-o-necroceno-no-brasil-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Brasil tem mais de uma morte por minuto da covid-19 na primeira quinzena de março, Ecodebate, 15/03/2021
https://www.ecodebate.com.br/2021/03/15/brasil-tem-mais-de-uma-morte-por-minuto-da-covid-19-na-primeira-quinzena-de-marco/

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/03/2021

 

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