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Artigo

Decrescimento Populacional: As vantagens da fecundidade abaixo do nível de reposição, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

“All our environmental problems become easier to solve with fewer people,
and harder – and ultimately impossible – to solve with ever more people”
David Attenborough

 

As vantagens da fecundidade abaixo do nível de reposição

[EcoDebate] A taxa de fecundidade total (TFT) mede o número médio de filhos por mulher. Num quadro de baixa mortalidade, quando esta taxa fica acima de 2,1 filhos por mulher (no longo prazo), significa que há crescimento da população. Se a TFT é igual a 2,1 filhos por mulher (número considerado nível de reposição) a população se estabiliza. Em um período de tempo longo, se a TFT fica abaixo do nível de reposição (2,1 filhos) significa que a população vai diminuir, considerando uma população fechada ou com baixo nível de migração.

O gráfico abaixo, com dados da Divisão de População da ONU, mostra que a TFT estava próxima de 5 filhos por mulher entre 1950 e 1970, sendo 4,92 filhos por mulher na década de 1950 e 4,98 filhos na década de 1960. Portanto, a TFT subiu ligeiramente (0,06 filho) no período. Mas a partir daí a transição da fecundidade teve início e, diminuindo 0,81 filho por mulher. Entre a década de 1980 e 1970 o declínio foi de 0,64 filho por mulher. O mesmo ocorreu na década seguinte. Entre a década 2001-10 e a década de 1990 o declínio foi de 0,28 filho. Na atual década, 2011-20 em relação à década anterior o declínio foi de 0,11 filho. Nas próximas décadas o declínio deve ser ainda menor.

A TFT global ficou em 4,16 filho por mulher na década de 1970, em 3,52 filho na década de 1980, em 2,88 filho na década de 1990, em 2,60 filho na primeira década do século, em 2,50 na atual década e deve continuar caindo ligeiramente até chegar a 2,26 filho na década 2041-50. Ou seja, a taxa de fecundidade mundial deve se manter acima de 2,1 filhos, pelo menos, até 2050, pois o ritmo de queda da TFT tem sido bem reduzido.

 

variação da taxa de fecundidade total por década no mundo

 

Considerando a transição da fecundidade nos 10 países mais populosos do mundo, conforme o gráfico abaixo, observa-se uma heterogeneidade muito grande. Entre os 10 países, os EUA (com população de 237 milhões de habitantes em 2018) era o país com a menor TFT no século passado, ficando abaixo do nível de reposição a partir de 1970. Mas a partir da década de 1990 a China (1,42 bilhão de habitantes em 2018) passou a apresentar a menor TFT entre os maiores países. O Brasil (210 milhões de hab em 2018) atingiu a TFT abaixo do nível de reposição em 2005, ficando inclusive abaixo da taxa americana. O outro grande país, a Indonésia (267 milhões de hab em 2018) também apresentou uma rápida queda da fecundidade, mas que se mantém pouco acima do nível de reposição. Bangladesh (166 milhões de hab em 2018) saiu de quase 7 filhos por mulher na década de 1970 para quase o nível de reposição atualmente. A Índia (1,35 bilhão de hab em 2018), que caminha para ser o país mais populoso do mundo na próxima década, ainda mantém uma TFT pouco acima do nível de reposição. Estes 6 países já possuem uma TFT abaixo da média mundial de 2,47 filhos por mulher, no quinquênio 2015-20. Porém, Paquistão (201 milhões), Nigéria (196 milhões), Etiópia (108 milhões) e República Democrática do Congo (84 milhões) apresentam TFT bem acima da taxa de reposição e muito acima da média mundial.

 

taxa de fecundidade total no mundo

 

Países como Nigéria, Paquistão, Etiópia e RD do Congo terão grande dificuldade para lidar com o rápido crescimento populacional. Artigo de Nicola Davis (The Guardian, 26/12/2018) mostra que a queda da fecundidade abaixo do nível de reposição é fundamental para o decrescimento futuro da população e contribui para a sustentabilidade ambiental. Ele apresenta o ponto de vista da demógrafa Sarah Harper, da Universidade de Oxford, disse que longe de acionar o alarme e pânico, os países não devem se preocupar com o decrescimento populacional.

A ideia de que uma nação precisa de muita gente para defender seu território e expandir sua economia é realmente um pensamento antigo. Harper apontou que a inteligência artificial, a migração e uma velhice saudável, significavam que os países não precisavam mais de populações em crescimento para se manterem. Em termos ambientais, um filho a menos reduz a pegada de carbono dos pais em 58 toneladas de CO2 por ano.

Quanto a lidar com uma sociedade envelhecida, mais bebês não ajudariam muito, já que as crianças também precisavam ser cuidadas e não entrariam no mercado de trabalho durante anos. Harper considera que o medo do envelhecimento populacional também precisava ser reconsiderado, até porque a tecnologia para apoiar os dependentes está avançando, enquanto as pessoas permanecem em boa saúde por mais tempo. A demógrafa diz: “É muito mais fácil permitir que os idosos permaneçam ativos e saudáveis e no mercado de trabalho, do que dizer às mulheres: “ah, você tem que ter filhos”.

De fato, empoderar a população e, especialmente, as mulheres pode fazer mais para mudar a economia de um país do que incentivar o pronatalismo, disse Harper. Por fim, ela afirma que em vez de incentivar o aumento da fecundidade para se contrapor ao decrescimento populacional, o melhor é equilibrar a oferta e demanda da população via imigração.

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

Referências:

ALVES, JED. Decrescimento demoeconômico ou pronatalismo antropocêntrico e ecocida? Ecodebate, 20/05/2015
http://www.ecodebate.com.br/2015/05/20/decrescimento-demoeconomico-ou-pronatalismo-antropocentrico-e-ecocida-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. A estabilização da queda da fecundidade mundial, Ecodebate, 29/10/2014
http://www.ecodebate.com.br/2014/10/29/a-estabilizacao-da-queda-da-fecundidade-mundial-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Sobrecarga da Terra: superpopulação e superconsumo, Ecodebate, 01/08/2018
https://www.ecodebate.com.br/2018/08/01/sobrecarga-da-terra-superpopulacao-e-superconsumo-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

Nicola Davis. Falling total fertility rate should be welcomed, population expert says, The Guardian, 26/12/2018
https://www.theguardian.com/world/2018/dec/26/falling-total-fertility-rate-should-be-welcomed-population-expert-says

 

Nota da Redação: Sobre o mesmo tema leia, também:

Os 40 países com maior decrescimento populacional entre 2020 e 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Famílias de filho único, decrescimento populacional e regeneração dos ecossistemas, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A queda da fecundidade na China e o decrescimento populacional, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A contribuição do decrescimento populacional para o meio ambiente no século XXI, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Países com decrescimento populacional, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O decrescimento econômico e populacional: uma realidade provável? artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O decrescimento demoeconômico e o trilema da sustentabilidade, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 15/05/2019

[cite]

 

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