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Metais pesados e suas toxidades, artigo de Roberto Naime

 

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Mercúrio

Metais pesados e suas toxidades, artigo de Roberto Naime

Os metais pesados diferem de outros agentes tóxicos porque não são sintetizados nem destruídos pelo homem

[EcoDebate] A primeira lembrança que se materializa quando se fala em metais é a visão da tabela periódica dos elementos químicos, inicialmente desenvolvida pelo russo Gregor Mendeleiev.

Metais integram a tabela periódica dos elementos químicos e talvez sejam os agentes tóxicos mais conhecidos pelo homem. Já em antigas eras, grandes quantidades de chumbo eram obtidas de minérios, como subproduto da fusão da prata e este provavelmente tenha sido o início da utilização desse metal pelo homem.

Os metais pesados diferem de outros agentes tóxicos porque não são sintetizados nem destruídos pelo homem. Constituem elementos naturais. No entanto, a atividade industrial diminui significativamente a permanência desses metais nos minérios, bem como a produção de novos compostos, além de alterar a distribuição desses elementos no planeta.

A presença de metais muitas vezes está associada a fatores geológicos como tectônica de placas e evolução de plataformas estáveis e zonas de subducção continental.

Todas as formas de vida são afetadas pela presença de metais dependendo da dose e da forma química. Muitos metais são essenciais para o crescimento de todos os tipos de organismos, desde as bactérias até mesmo o ser humano, mas são requeridos em baixas concentrações e podem danificar sistemas biológicos se ocorrer demasiada exposição.

Os efeitos tóxicos dos metais sempre foram considerados como eventos de curto prazo, agudos e evidentes, como ocorre com a anúria, que é a supressão de urina, e a diarreia sanguinolenta, decorrentes da ingestão de mercúrio.

Atualmente, ocorrências a médio e longo prazo são observadas, e as relações causa-efeito são pouco evidentes e quase sempre subclínicas. Geralmente esses efeitos são difíceis de serem distinguidos e perdem em especificidade, pois podem ser provocados por outras substâncias tóxicas ou por interações entre esses agentes químicos.

A manifestação dos efeitos tóxicos está associada à dose, e pode se distribuir por todo o organismo, afetando vários órgãos, alterando os processos bioquímicos, as organelas e membranas celulares.

Pessoas idosas e crianças são mais susceptíveis às substâncias tóxicas. As principais fontes de exposição aos metais tóxicos são os alimentos, com elevados índices de absorção gastrointestinal.

Em adição aos critérios de prevenção usados em saúde ocupacional e de monitoramento ambiental, o bio-monitoramento tem sido utilizada como indicador biológico de exposição, e toda substância ou seu produto de bio-transformação, ou qualquer alteração bioquímica observada nos fluídos biológicos, tecidos ou ar exalado, que mostre a intensidade da exposição ou a intensidade dos seus efeitos.

Tem ocorrido a contaminação de adultos e crianças em lotes e vivendas residenciais, com metais pesados, principalmente por chumbo e mercúrio. Contudo, a maioria da população não tem informações precisas sobre os riscos e as consequências da contaminação por esses metais para a saúde humana.

O arsênico é um metal de ocorrência natural, sólido, cristalino, de cor cinza-prateada. Exposto ao ar perde o brilho e resulta em sólido amorfo de cor preta. Este metal é utilizado como agente de fusão para metais pesados, em processos de soldagens e na produção de cristais de silício e germânio.

O arsênico é usado na fabricação de munição, ligas e placas de chumbo de baterias elétricas. Na forma de arsenito é usado como herbicida e como arsenato, é usado nos inseticidas.

No homem produz efeitos nos sistemas respiratório, cardiovascular, nervoso e hematopoiético. No sistema respiratório ocorre irritação com danos nas mucosas nasais, laringe e brônquios.

Exposições prolongadas podem provocar perfuração do septo nasal e rouquidão característica e, a longo prazo, insuficiência pulmonar, traqueobronquite e tosse crônica.

No sistema cardiovascular são observadas lesões vasculares periféricas e alterações no eletrocardiograma. No sistema nervoso, as alterações observadas são sensoriais e polineuropatias, e no sistema hematopoiético observa-se leucopenia, que é a redução do número de leucócitos no sangue para níveis inferiores aos considerados normais e efeitos cutâneos e hepáticos.

Tem sido observada também a relação carcinogênica do arsênico com o câncer de pele e brônquios.

O chumbo é utilizado há mais de 4 mil anos sob várias formas, principalmente por ser uma fonte de prata. Antigamente, as minas de prata eram de galena que é minério de chumbo, um metal dúctil, maleável, de cor prateada ou cinza-azulada, resistente à corrosão.

Os principais usos estão relacionados às indústrias extrativa, petrolífera, de baterias, tintas e corantes, cerâmica, cabos, tubulações e munições.

O chumbo pode ser incorporado ao cristal na fabricação de copos, jarras e outros utensílios, favorecendo o seu brilho e durabilidade.

Compostos de chumbo são absorvidos por via respiratória e cutânea. Os chumbos tetraetila e tetrametila também são absorvidos através da pele intacta, por serem lipossolúveis, que quer dizer solubilidade nas moléculas de gordura.

O sistema nervoso, a medula óssea e os rins são considerados órgãos críticos para o chumbo, que interfere nos processos genéticos ou cromossômicos e produz alterações na estabilidade da cromatina em cobaias, inibindo reparos de óxido desoxirribonucléico (DNA) e agindo como promotor do câncer.

A relação chumbo e das síndromes associadas ao sistema nervoso central depende do tempo e da especificidade das manifestações. Ocorrem várias síndromes relevantes.

O cádmio é encontrado na natureza quase sempre junto com o zinco na maioria dos minérios e solos. É um metal que pode ser dissolvido por soluções ácidas e pelo nitrato de amônio.
Quando queimado ou aquecido, produz o óxido de cádmio, pó branco e amorfo ou na forma de cristais de cor vermelha ou marrom.

É obtido como subproduto da refinação do zinco e de outros minérios. A galvanoplastia que é o processo eletrolítico que consiste em recobrir um metal com outro, é um dos processos industriais que mais utiliza o cádmio.

O homem se expõe na fabricação de ligas, varetas para soldagens, baterias de Níquel e Cádmio, varetas de reatores, fabricação de tubos para TV, pigmentos, esmaltes e tinturas têxteis, fotografia, litografia e pirotecnia, estabilizador plástico, fabricação de semicondutores, células solares, contadores de cintilação, retificadores e lasers.

O cádmio existente na atmosfera é precipitado e depositado no solo agrícola. Rejeitos não-ferrosos e artigos que contêm cádmio contribuem para a poluição ambiental.

Outras formas de contaminação do solo são através dos resíduos da fabricação de cimento, da queima de combustíveis fósseis e lixo urbano e de sedimentos de esgotos.

Na agricultura, uma fonte direta de contaminação pelo cádmio é a utilização de fertilizantes fosfatados. Sabe-se que a captação de cádmio pelas plantas é maior quanto menor for o pH do solo. Nesse aspecto, as chuvas ácidas representam um fator determinante no aumento da concentração do metal nos produtos agrícolas.

A água é outra fonte de contaminação e deve ser considerada não somente pelo seu consumo como água potável, mas também pelo seu uso na fabricação de bebidas e no preparo de alimentos. Sabe-se que a água potável possui baixos teores de cádmio (cerca de 1 mg/l).

O cádmio é um elemento de vida biológica longa e de lenta excreção pelo organismo humano. O órgão alvo primário nas exposições ao cádmio, no longo prazo é o rim. Os efeitos tóxicos provocados compreendem principalmente distúrbios gastrointestinais, após a ingestão do agente químico. A inalação de doses elevadas produz intoxicação aguda, caracterizada por pneumonite e edema pulmonar.

A progressiva utilização do mercúrio para fins industriais e o emprego de compostos mercuriais durante décadas na agricultura resultaram no aumento significativo da contaminação ambiental, especialmente da água e dos alimentos.

Uma das razões que contribuem para o agravamento dessa contaminação é a característica singular do ciclo do Mercúrio no meio ambiente. A bio-transformação por bactérias do mercúrio inorgânico em metil-mercúrio é o processo responsável pelos elevados níveis do metal no ambiente.

O mercúrio é um líquido inodoro e de coloração prateada. Os compostos mercúricos apresentam uma ampla variedade de cores. Mercúrio é teratogênico, ou seja, é responsável pela má formação de fetos e grande parte de nascituros com cegueira.

Nos processos de extração, o mercúrio é liberado no ambiente principalmente a partir do sulfeto de mercúrio. O mercúrio e seus compostos são encontrados na produção de cloro e soda cáustica, e em equipamentos elétricos e eletrônicos, aparelhos de controle, tintas, amálgamas dentárias, fungicidas, lâmpadas de mercúrio, laboratórios químicos, preparações farmacêuticas, detonadores, óleos lubrificantes, catalisadores e na extração de ouro, particularmente em garimpos.

O trato respiratório é a via mais importante de introdução do mercúrio. Esse metal demonstra afinidade por tecidos como células da pele, cabelo, glândulas sudoríparas, glândulas salivares, tireoide, trato gastrointestinal, fígado, pulmões, pâncreas, rins, testículos, próstata e cérebro.

A exposição a elevadas concentrações desse metal pode provocar febre, calafrios, dispneia e cefaleia, durante algumas horas. Sintomas adicionais envolvem diarreia, cãibras abdominais e diminuição da visão. Casos severos progridem para edema pulmonar, dispneia e cianose. As complicações incluem enfisema e morte, raramente ocorrendo falência renal aguda.

Podem ser destacados também o envolvimento da cavidade oral com gengivite, salivação e estomatite, tremor e alterações psicológicas. A síndrome é caracterizada pelo eretismo que é insônia, perda de apetite, perda da memória, timidez excessiva e instabilidade emocional. Além desses sintomas, pode ocorrer disfunção renal.

O cromo é obtido do minério cromita, metal de cor cinza que reage com os ácidos clorídrico e sulfúrico. Além dos compostos bivalentes, trivalentes e hexavalentes, o cromo metálico e ligas também são encontrados no ambiente de trabalho. Entre as inúmeras atividades industriais, destacam-se: galvanoplastia, soldagens, produção de ligas ferrocromo, curtumes, produção de cromatos, di-cromatos, pigmentos e vernizes.

A absorção de cromo por via cutânea depende do tipo de composto, de sua concentração e do tempo de contato. O cromo absorvido permanece por longo tempo retido na junção dermo epidérmica e no estrato superior da mesoderme.

A maior parte do cromo é eliminada através da urina, sendo excretada após as primeiras horas de exposição. Os compostos de cromo produzem efeitos cutâneos, nasais, bronco pulmonares, renais, gastrointestinais e carcinogênicos. Consta que o cromo mais deletério é a modalidade hexa-valente.

Os cutâneos são caracterizados por irritação no dorso das mãos e dos dedos, podendo transformar-se em úlceras. As lesões nasais iniciam-se com um quadro irritativo inflamatório, supuração e formação crostosa. Em níveis bronco pulmonares e gastrointestinais produzem irritação bronquial, alteração da função respiratória e úlceras gastroduodenais.

O manganês é um metal cinza semelhante ao ferro, porém mais duro e quebradiço. Os óxidos, carbonatos e silicatos de manganês são os mais abundantes na natureza e caracterizam-se por serem insolúveis na água.

O composto ciclopentadienila-tricarbonila de manganês é bem solúvel na gasolina, óleo e álcool etílico, sendo geralmente utilizado como agente antidetonante em substituição ao chumbo tetraetila.

Entre as principais aplicações industriais do manganês, estão pilhas secas, ligas não-ferrosas com cobre e níquel, esmalte porcelanizado, fertilizantes, fungicidas, rações, eletrodos para solda, magnetos, catalisadores, vidros, tintas, cerâmicas, materiais elétricos e produtos farmacêuticos. As exposições mais significativas ocorrem através dos fumos e poeiras de manganês.

O trato respiratório é a principal via de introdução e absorção desse metal nas exposições ocupacionais. Os sintomas dos danos provocados pelo manganês no sistema nervoso central são subclínico como astenia, distúrbios do sono, dores musculares, excitabilidade mental e movimentos desajeitados.

Pré-clínicos como transtorno da marcha, dificuldade na fala, reflexos exagerados e tremor, e estágios clínicos como psicose maníaco-depressiva e a clássica síndrome que lembra o parkinsonismo. Além dos efeitos neurotóxicos, há maior incidência de bronquite aguda, asma brônquica e pneumonia.

Não ocorre produzir sensacionalismos baratos ou gerar comoções e exasperações. Ou perturbar a opinião pública. Mas quando se pede responsabilidade com as questões socioambientais, existem motivações técnicas ou científicas relevantes. E desta vez nem é o suprassumo da criatividade humana. Nem se falou em glifosato.

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

Referências:
http://www.mundodoquimico.hpg.com.br/
http://praticasescrita.blogspot.com.br/p/meio-ambiente.html

 

Nota da redação: Em relação ao tema “Metais Tóxicos/Metais Pesados” sugerimos que leia, também:

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/12/2018

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3 thoughts on “Metais pesados e suas toxidades, artigo de Roberto Naime

  • Meu caro Dr. Roberto, parabéns pelo artigo.
    Muita coisa sobre os metais pesados eu não conhecia.
    Quero apenas chamar atenção para um dado que deve ter saído por engano.
    A água potável não permite concentração de cádmio acima de 0,0005 mg/L.

  • Também errei ao digitar. A concentração máxima de água potável permitida na água potável é de 0,005 mg/L (Portaria de Consolidação nº 05/2017, Anexo XX, Anexo 7).

  • Obrigado Paulo Afonso…
    Grande abs…
    RNaime

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