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Artigo

Análise de sistemas, modelagem e simulação, artigo de Roberto Naime

 

artigo

 

[EcoDebate] Para teoria dos sistemas, o todo o sistema é o produto de partes interativas, sempre relacionando o funcionamento dessas partes em relação ao conjunto e buscando a finalidade comum implícita.

HOEFLICH (2007) exemplifica. Quando se vai desenvolver um pneu, que é parte do automóvel, tem que estudar o conjunto do dirigível. Como se faz hoje em monopostos de competição.

Então se pode esboçar uma definição para o que seja um sistema: Um sistema é um conjunto de partes ou componentes, interativos entre si e com objetivo geral comum, e para isto cada parte exerce sua funcionalidade da melhor forma possível, mesmo que desconheça o objetivo do conjunto (JONES, 1970).

Por isso o transgênico pode cumprir da melhor forma possível sua funcionalidade atual e a emergência gerada por sua multifatorialidade produzir em intervalo de tempo compatível com a evolução da vida, uma consequência não prevista. Assim como pode não produzir. A financeirização do mundo determina a busca do sobre natural e não do planejamento racional, como tudo poderia ser realizado.

HOEFLICH (2007) assevera que um corolário dessa definição é a noção de limite de sistema, que é uma abstração que é aplicada pelos estudiosos para separar um determinado sistema de seu particular interesse, dos demais que compõem o universo.

Como a natureza é em geral um enorme complexo de componentes interativos, e esta abrangência nem sempre é de interesse de uma determinada situação, a ideia de estabelecer limites permite a apreciação de conjuntos menores de componentes interativos, facilitando o rendimento do seu funcionamento.

Do conceito de limites deriva-se um outro muito importante para o estudo dos sistemas, o de hierarquia. Enquanto o conceito de limite está relacionado aos objetivos de alcançar, o conceito de hierarquia decore do fato de existirem na natureza sistemas dentro de sistemas, numa ordem decrescente, onde um determinado sistema passa a ser um subsistema numa escala hierárquica mais alta e contem outro subsistema numa escala mais baixa.

Num quartel militar se sabe bem o que é hierarquia. É isto que acontece num sistema. Por isso quando obras de engenharia alteram geobiossistemas e estabelecem outras hierarquias relacionais entre os indivíduos.

As modernas técnicas de avaliação dos ambientes utilizam as classificações disponíveis.

A associação destes elementos e o uso das técnicas de sensoriamento remoto e tratamento digital de imagens de satélite, dentro de um contexto multidisciplinar, permitiu a transferência e a evolução de conceitos.

Hoje, é disseminada a concepção do conceito de “paisagem” como expressão do agenciamento dinâmico e superficial dos conjuntos territoriais. Ou seja, não é mais apenas o solo a face mais visível do meio físico, e sim a paisagem integradora do solo com os demais fatores, a expressão conjunta das interações compreendidas ou ainda difusas.

Este agrupamento, capaz de expressar homogeneidades ou realçar diferenciações espaciais e temporais no meio terrestre, origina a conceituação de “geobiossistemas” como unidades territoriais, geográficas ou cartográficas de mesma paisagem, definidas por características estatísticas do meio natural físico, químico ou biológico, hierarquizadas por um mesmo sistema de relações.

Em termos didáticos, você poderia imaginar sistemas em camadas hierárquicas. A noção de hierarquia tem aplicação geral na análise de sistemas. A explicação do funcionamento do sistema é encontrada a um ou dois níveis hierárquicos inferiores. A análise de sistemas apresenta neste ponto interface com o reducionismo, caracterizando a complementaridade dos dois enfoques.

Resta esclarecer alguns problemas de terminologia que frequentemente confundem os não iniciados na teoria de sistemas. Enfoque sistêmico é geralmente confundido com sistemas de qualquer natureza, que por sua vez são interpretados como sistemas de gerenciamento e até como sistemas de produção.

Há confusão também entre o termo sistêmico, que engloba a visão de sistemas ou holística, com a expressão sistemática que é a abordagem organizada de algum processo ou fato. É possível que tal confusão de termos seja decorrência do uso comum do termo sistemas, sem se atentar para os demais componentes conceituais, como limite, objetivos e hierarquia.

Todas essas abordagens estão incluídas na teoria e sistemas, variando apenas o enfoque, ou seja, os objetivos daquele que se propõe a conhecer o sistema. Os modelos produzidos terão uma conotação própria e as disciplinas envolvidas poderão variar da biologia à sociologia. Os conceitos gerais e os mecanismos, entretanto, serão comuns, qualquer que seja o enfoque e os limites estabelecidos para o modelo do sistema a ser elaborado.

No negócio agrícola, as cadeias produtivas e os sistemas produtivos agrícolas são todos sistemas dedicados à produção agrícola e caracterizados pelos mesmos métodos, sendo diferenciados pelos seus limites e componentes internos.

A teoria dos sistemas teria por si só importância menor para a gestão da ciência e tecnologia, não fossem os avanços conseguidos nos últimos anos, que vieram a consolidar a sua aplicação.

O desenvolvimento da construção de modelos matemáticos e a codificação desses modelos em linguagens de computador abriram novas perspectivas de experimentação com os sistemas modelados. Ocorre simular o comportamento dos sistemas, de forma a testar hipóteses o que seria impossível para os métodos experimentais tradicionais (BROCKINGTON, 1979).

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

Referências:

BERTALANFFY, L. von. An outline of general systems theory. British Journal for the Philosophy and Science, Aberdeen, v.1, p. 134-65, 1950.

BERTALANFFY, L. von. General systems theory: a crítical review. In: BEISHON, J.; PETERS, G. H. Systems behavior. London: Open University, 1972.

BROCKINGTON, N. R. Computer modeling in agriculture. Oxford: Clarendon, 1979. 156p.

CASTRO, A. M. G. de; COBBE, R.V.; GOEDERT, W.J. Prospecção de demandas tecnológicas: manual metodológico para o SNPA. Brasília, DF: EMBRAPA-DPD, 1995. 82 p.

CASTRO, A. M. G.; PAEZ, M. L. A.; LIMA, S. M. V.; GOEDERT, W. J.; FREITAS FILHO, A. de; CAMPOS, F. A. de A.; VACONCELOS, J. R. P. Prospecção de demandas tecnologias no Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA). In.: CASTRO, A. M. G.; LIMA, S. M. V.; CAMPOS, F. A de A; VASCONCELOS, J. R. P. Cadeias produtivas e sistemas naturais: prospecção tecnológica. Brasília, DF: EMBRAPA/DPD, 1998.

JOHNSON, B. B.; MARCOVITCH, J. Uses and applications of technology futures in national development: the Brazilian. Experience. Technological Forecasting and Social Change, New York, v.45, p. 1-30, 1994.

JONES, J. G. W. The use of models in agricultural and biological research Institute, 1970. In: SARAVIA, A. Un enfoque de sistemas para el desarrollo agrícola. San Jose, CR: Editorial IICA, 1986. 265 p.

SARAVIA, A. Un enfoque de sistemas para el desarrollo agrícola. San Jose, CR: Editorial IICA, 1986. 265 p.

ZYLBERSZTAJN. D. Políticas agrícolas e comércio mundial: “Agribusiness”: conceito, dimensões e tendências. In: FAGUNDES. H.H. (Org.). Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas. Brasília, DF: IPEA, 1994. (Estudos de Política Agrícola, n. 28).

HOEFLICH, V. A. Agronegócio: enfoque sistêmico na agricultura. In: HOEFLICH, V. A. Cadeia produtiva do negócio florestal. Curitiba: UFPR; Colombo: Embrapa Florestas, 2007. 17. Apostila do Curso de Pós-Graduação em Gestão Florestal.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/10/2018

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