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Artigo

Reserva do Barreiras – Já, artigo de Carlos Augusto de Medeiros Filho

 

[EcoDebate] As águas superficiais e subterrâneas da região da bacia do rio Maxaranguape estão sendo anunciadas como soluções para os déficits dos abastecimentos hídricos das cidades de São Gonçalo, Extremoz e Natal. A adutora de São Gonçalo utilizará as águas superficiais do rio Maxaranguape, enquanto que estudos hidrogeológicos estão em desenvolvimento para o aproveitamento do manancial subterrâneo do Aquífero Barreiras daquela região.

 


Fonte: Papio.net

 

A opção de utilização da bacia hidrogeológica de Maxaranguape para o abastecimento da Grande Natal decorre da forte taxa de crescimento da demanda de água e, especialmente, devido à deterioração da qualidade das águas subterrâneas de Natal pela contaminação de nitrato (Medeiros Filho, 2017).

Em Natal, o desastre da contaminação por nitrato das águas superficiais e subterrâneas é um exemplar de sinistro ambiental que avança constante e silenciosamente e sem expectativa clara de solução (Medeiros Filho, 2016). O jornal Tribuna do Norte de 17 de março de 2013, por exemplo, reportava que “do total de 131 poços perfurados pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) em Natal, mais de 30 estavam contaminados por nitrato”.

Com o crescimento urbano acelerado, a partir principalmente da década de 80, a qualidade da água disponível ao natalense foi perdendo a qualidade com as constantes notícias de contaminação da água fornecida à população. Cabral et al. (2009) afirmam que apesar da importância que as águas subterrâneas representam para o abastecimento da cidade de Natal, sua qualidade, a cada dia, se dete­riora em decorrência das crescentes atividades urbanas. Righetto & Rocha (2005) relatam que dentre as ativi­dades mais impactantes, destaca-se a infiltração no solo de águas servi­das das fossas e sumidouros, pois cerca de 70% dos esgotos domésticos produzidos são lançados no subsolo.

Uma lição simples e objetiva da história do Aquífero Barreiras em Natal é que esse desastre ambiental não pode ser repetido. É fundamental assegurar que em uma área com característica hidrogeológica similar, não se deva permitir que processos contaminantes, antropogênicos, se instalem. Em termos práticos é garantir a preservação ambiental, com criação de um tipo de Reserva Hidrogeólogica em setores onde o Barreiras tenha recursos e qualidade hídricas significativas (Medeiros Filho, 2015).

Melo et al (2013) relatam que o Aquífero Barreiras na bacia do rio Maxaranguape corresponde a um sistema aquífero livre com nível d’água pouco profundo e, assim, vulnerável ao processo de contaminação e com riscos potenciais de contaminação devido atividades agrícolas, industriais e urbanas com a disposição local de efluentes domésticos.

Dessa forma, a “Solução Maxaranguape” só poderá ser viável se, de imediato, for criada uma espécie de “Reserva Hidrogeológica do Aquífero Barreiras da Bacia do Rio Maxaranguape”. Ao contrário, o desastre ocorrido em Natal vai se repetir. A proposta é urgente e indispensável e deve, evidentemente, ter sua área de abrangência definida após pesquisas hidrogeológicas e hidrogeoquímicas.

A Reserva Hidrogeológica do Aquífero Barreiras da Bacia do Rio Maxaranguape, fundamental para o fornecimento hídrico atual e futuro da sociedade, deve ser radicalmente preservada e estar imune a atuações antropogênicas. Se na lei brasileira de recursos hídricos não existir a figura de “Reserva Hidrogeológica” ela deve ser elaborada e instituída, não devendo ser esse motivo para não se discutir e impedir o desenvolvimento da proposta, pois é como diz, com ironia, um humilde pescador da praia de Caraúbas: “Só se inventa coisa que não existe”.

Referências Bibliográficas

Cabral, N. T.; Righetto, A. M.; Queiroz, M. A. 2009. Comportamento do nitrato em poços do aquífero Dunas / Barreiras nas explotações Dunas e Planalto, Natal, RN, Brasil. Eng Sanit Ambient | v.14 n.3 | jul/set 2009 | 299-306.

Medeiros Filho,C.A. 2015. Reservas Hidrogeológicas – Uma Proposta Indispensável; in EcoDebate 04/02/2015.

Medeiros Filho, C.A. 2016. Desastres lentos e graduais; in EcoDebate, 08/08/2016.

Medeiros Filho, C.A. 2017. Nitrato x Urbanização; in EcoDebate, 05/05/2017.

Melo, J.G.; Morais, S.D.O.; Silva, R.A.; Vasconcelos, M.B. 2013. Avaliação dos recursos hídricos do Aquífero Barreiras na bacia do rio Maxaranguape-RN. Águas Subterrâneas (2013) 27(1): 53-64.

Righetto, A.M.; Rocha, M. Exploração sustentada do aquífero Dunas/Barreiras na Cidade de Natal, RN. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 10, n. 2, p. 27-38, 2005.

Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 30 anos em Pesquisa Mineral.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/06/2017

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