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Repensar a economia futura: a Economia Circular, artigo de Alexandra Leitão

 

 

Repensar a economia futura: a Economia Circular, artigo de Alexandra Leitão

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Introdução

A economia mundial tem sido construída, desde os primórdios da industrialização, com base num modelo linear de consumo de recursos que segue um padrão “extrair-produzir-descartar”, que se encontra nos dias de hoje sob ameaça devido à forma e velocidade insustentável como são usados os recursos naturais, cada vez mais escassos. Até determinado momento, poder-se-á dizer que este foi um modelo bem-sucedido, uma vez que providenciou produtos em larga escala, a um custo cada vez mais baixo, devido ao acelerado avanço tecnológico, satisfazendo as necessidades que a Humanidade criou, particularmente, nas economias desenvolvidas.

Como nenhuma atividade produtiva ou de consumo pode ocorrer sem que a Natureza tenha de fornecer a matéria e a energia necessárias, não funcionando o sistema económico sem o recurso ao ecossistema natural, este crescimento ilimitado rompeu com o equilíbrio entre a atividade produtiva e o meio natural, afetando profundamente a dinâmica dos sistemas ecológicos. De acordo com a World Wide Fund for Nature (WWF), a Terra leva um ano e seis meses para regenerar o que usamos num ano (WWF, 2012).

A viragem do milénio marcou o ponto em que os preços reais de recursos naturais começaram a subir, apagando o valor de quedas de preços reais de um século. Esta tendência positiva foi interrompida apenas pela forte recessão global em 2009, e desde então tem-se registado grande volatilidade dos preços da matérias-primas (African Development Bank, OECD, UNDP, 2016).

Muitas empresas começaram já a notar que este sistema linear aumenta sua exposição a riscos, com rutura e/ou interrupção no abastecimento de recursos, juntamente com o aumento e crescente volatilidade do preço das commodities, afetando a sua competitividade.

Se não forem tomadas medidas, os preços elevados e volatilidade vieram para ficar, com o crescimento exponencial da população mundial e os custos de extração de recursos a continuarem a subir. Com os cinco mil milhões de novos consumidores de classe média que se esperam em 2050, mais três mil milhões que atualmente, oriundos sobretudo dos países emergentes (Kharas, 2010), é fundamental uma mudança de paradigma na economia. A alternativa é a Economia Circular.

A Economia Circular, embora não seja um conceito novo, tem ganho importância nos anos recentes na agenda política internacional.

Isto torna-se evidente, por exemplo, na atual política da União Europeia (Comissão Europeia, 2014, 2015) ou com a publicação em 2009 da Lei para a Promoção da Economia Circular na China (Su, Heshmati, Geng & Yu, 2013).

2. Economia Circular

A Economia Circular (EC) é um modelo para uma nova economia sustentável, intimamente ligado à inovação, design e ecoeficiência, solução para os atuais desafios dos negócios face à imprevisibilidade económica, crescente procura de recursos naturais no mundo e crescimento exponencial da população.

A EC pode ser a maior revolução na economia global nas próximas décadas. Representa uma rutura radical com os antigos modelos de produção e de consumo lineares “extrair-produzir-descartar” – um padrão do tipo do berço ao túmulo (Cradle-to-Grave) –, que desperdiçam grandes quantidades de materiais incorporados e energia, ao separar crescimento do uso de recursos naturais e impacto ambiental. Em contraste com o modelo linear, a EC trata-se de uma abordagem do tipo do berço ao berço, na qual o termo resíduo não existe. A EC visa erradicar sistematicamente resíduos nos processos de fabrico, ao longo dos ciclos de vida e uso de produtos e seus componentes, ganhando deste modo, além de vantagem competitiva face aos acentuados aumentos de volatilidade na economia global, a redução de dependências de recursos naturais. Deste modo, componentes escassos e ciclos de uso e reutilização de produtos ajudam a definir o conceito de uma EC.

Sobre a gestão das empresas, esta separação torna-a mais ágil, adaptável e alinhada com os consumidores, que são cada vez mais exigentes na relação economia-ambiente.

Com um excedente de população e com o capital de recursos naturais e os sistemas ecológicos que fornecem serviços vitais de suporte de vida em declínio e relativamente caros, a próxima Revolução Industrial, tal como a primeira será uma resposta às mudanças nos padrões da escassez. Ela irá criar alguma agitação, mas mais importante, irá criar oportunidades. Os negócios devem adaptar-se a esta nova realidade. Empresas inovadoras já o estão a fazer. Com isso lucram e ganham decisiva vantagem competitiva. Tal como a máquina a vapor alimentou a Revolução Industrial no final do século XVIII, o digital alimenta a Revolução Circular, pois as tecnologias digitais permitem novos níveis de automação e coordenação em toda a cadeia de fornecimento (Lacy, 2015).

A definição mais conhecida de Economia Circular foi introduzida pela Ellen MacArthur Foundation, como “uma economia industrial que é restauradora ou regenerativa pela intenção e design” (EMF, 2012, p.14).

São múltiplos os contributos para o desenvolvimento e aperfeiçoamento do conceito e suas aplicações ao sistema económico e processos industriais, por várias escolas de pensamento, que partilham a ideia de um circuito fechado:

2.1. Economia em circuito fechado e do desempenho (performance economy)

É atribuído ao arquiteto suíço Walter R. Stahel o termo Cradle-to-Cradle (do berço ao berço) e a visão de uma economia em circuito fechado e seus impactos na competitividade económica, criação de emprego, poupança de recursos e prevenção de resíduos. Stahel teve bastante influência no desenvolvimento da área da sustentabilidade industrial, sobretudo depois de ser reconhecido em 1982 pelo seu artigo The Product-Life Factor com a atribuição de um prémio pelo prestigiado U.S. Mitchell Prize. Esta foi a primeira publicação onde é referida a definição do circuito fechado da economia que é hoje conhecida como EC (Stahel, 1982, 2010).

Stahel enfatiza a importância da venda de serviços (desempenho/utilização), em vez de produtos, numa economia circular, uma ideia contida na noção de economia do desempenho.

2.2. Cradle-to-Cradle (C2C)

O químico alemão Michael Braungart juntamente com o arquiteto americano William McDonough, continuaram a desenvolver o conceito do Cradle-to-Cradle. O livro que publicaram em 2002, Cradle to Cradle: Remaking the way we make things é um manifesto onde detalham como conseguir o modelo de Cradle-to-Cradle (C2C). Esta filosofia centrada no design para a eficácia em termos de produtos e redução dos impactos negativos através da eficiência, considera que os materiais envolvidos em processos industriais podem ser nutrientes em futuros processos. Existem duas categorias principais de nutrientes: técnicos e biológicos.

A conceção C2C considera os processos seguros e produtivos do “metabolismo biológico” da Natureza como um modelo para o desenvolvimento de um fluxo de “metabolismo técnico” de materiais industriais. Os componentes dos produtos que são seguros para a saúde humana e para o ambiente podem ser projetados para a recuperação contínua e reutilização como nutrientes biológicos e técnicos dentro desses metabolismos, eliminando assim o conceito de resíduo. Assim, os produtos de hoje são recursos de amanhã, i.e., “resíduo é igual a alimento”, formando um ciclo virtuoso que promove a prosperidade num mundo de recursos finitos. Maximiza o uso das energias renováveis e gere o uso da água para maximizar a qualidade, promover ecossistemas saudáveis ​​e respeitar os impactos locais (Braungart & McDonough, 2002).

O modelo foi implementado por diversas (poucas) empresas, um pouco por todo o mundo, principalmente na União Europeia, China e Estados Unidos.

2.3. Biomimética

Janine Benyus, no seu livro Biomimicry: Innovation Inspired by Nature (2002) desenvolve a tese básica de que os seres humanos devem conscientemente imitar o génio da Natureza nos seus projetos e processos para resolver problemas humanos, ou seja, “inovação inspirada na Natureza”.

O modelo natural foi sempre uma inspiração ao longo de toda a história evolutiva da Humanidade. Exemplos recentes de design biomimético estão bem documentados. Por exemplo, os pássaros e morcegos desempenharam um papel central na construção do avião, um dos mais triunfantes feitos da engenharia humana (Dickinson, 1999).

A Biomimética baseia-se em três princípios fundamentais (Benyus, 2002):

A Natureza como modelo: estudo dos modelos da Natureza e imitar esses modelos, formas, processos, sistemas e estratégias para resolver problemas humanos.

A Natureza como medida: usar um padrão ecológico para julgar a sustentabilidade das nossas inovações.

A Natureza como o mentor: ver e valorizar a Natureza não com base no que podemos extrair do mundo natural, mas no que podemos aprender com ele.

Já no longínquo século XVI, Nicolau Copérnico, famoso astrónomo e matemático disse: “A sabedoria da Natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil”. Uma reflexão sobre esta frase conduz-nos à influência que a Natureza pode ter na resolução dos problemas ligados à sustentabilidade.

No metabolismo da biosfera ou biológico, a matéria descartada pelo Homem, saudável para a Natureza, é reaproveitada, reciclada e absorvida permanentemente por ela, dando continuidade aos seus ciclos de nutrientes no processo natural de nascer, viver e morrer.

No metabolismo da tecnosfera, isto é, o que se produz pela intervenção humana, os materiais, depois de serem utilizados e descartados, voltam a ser matéria-prima para novos produtos.

2.4. Ecologia Industrial

Ecologia Industrial (EI) é o estudo dos fluxos de materiais e de energia através de sistemas industriais (Graedel & Allenby, 1995). Concentrando-se nas ligações entre operadores no âmbito do “ecossistema industrial”, esta abordagem visa analisar o sistema industrial de modo integrado, com a criação de processos de circuito fechado em que os resíduos de um servem de input noutros, onde a otimização dos processos não se limita à componente puramente económica, mas abrangendo também as áreas dos recursos naturais e o próprio ecossistema. Neste contexto, a analogia entre sistemas industriais e ecossistemas permite “fechar os ciclos de materiais” e energia com a formação de uma eco rede que imita os ciclos biológicos fechados. Deste modo, o objeto de estudo é a inter-relação entre empresas, entre os seus produtos e processos à escala local e regional, de modo a estabelecer o seu total uso/reuso, para que o sistema não descarte nenhum resíduo, ou seja, que se atinja o resíduo-zero. Sob esta ótica, o sistema industrial pode ser descrito como um conjunto que interage com o meio físico e social em que está inserido, através de materiais, energia, serviços e informações, com ênfase na restauração do capital natural e no bem-estar social (Takase, Kondo & Washizu, 2005).

O Ecoparque Industrial (EPI) é uma das ferramentas da EI.

Lowe (2001) define EPI como uma comunidade de empresas fornecedoras de bens e serviços situada num determinado local ou região, cujo objetivo é melhorar o desempenho económico das empresas participantes, ao aperfeiçoar a gestão dos recursos, através de trocas de materiais, energia, água e produtos com a consequente redução dos impactos ambientais, como a procura por recursos naturais, redução de poluição e gestão de desperdícios. O intercâmbio e reaproveitamento de materiais é condição essencial para a implementação de EPI.

2.5. Capitalismo Natural

Capital natural refere-se aos stocks mundiais de bens naturais, incluindo solo, ar, água e todos os seres vivos.

No seu livro Natural Capitalism: Creating the Next Industrial Revolution, Hawken, Lovins & Lovins (2016) descrevem uma economia global em que negócios e interesses ambientais se sobrepõem, reconhecendo as interdependências que existem entre a produção e uso de capital produzido e os fluxos de capital natural.

Os princípios que sustentam o capitalismo natural são:

Aumentar substancialmente a produtividade dos recursos naturais: através de mudanças radicais na conceção, produção e tecnologia, os recursos naturais poderem ser utilizados durante muito mais tempo do que atualmente.

Reinvestir em capital natural, pois com as crescentes necessidades humanas e pressões sobre o capital natural, a necessidade de restaurar e regenerar recursos aumenta.

Mudança para modelos de produção e materiais de inspiração biológica, uma vez que o capitalismo natural procura eliminar o conceito de resíduo através de um circuito fechado dos sistemas de produção, onde cada resíduo ou é devolvido ao ecossistema como nutriente ou se torna input de outro processo produtivo.

Mudança para um modelo de negócio baseado na provisão de serviços em vez da tradicional venda de produtos, o que contribui para a otimização da eficiência e para o consumo sustentável de recursos.

2.6. O Design Regenerativo

O campo emergente do desenvolvimento regenerativo e design marca uma evolução significativa no conceito e aplicação da sustentabilidade. Práticas de design sustentável focam principalmente a minimização dos danos ao meio ambiente e à saúde humana, usando os recursos de forma mais eficiente. O termo “regenerativo” descreve processos que restauram, renovam ou revitalizam as suas próprias fontes de energia e materiais, criando sistemas sustentáveis ​​que integrem as necessidades da sociedade com a integridade da Natureza.

Os defensores de uma abordagem regenerativa para o ambiente construído acreditam na necessidade de uma abordagem de sistemas muito mais profundamente integrados em quase todas as atividades humanas e inspiram-se na auto-cura e capacidades de auto-organização dos sistemas vivos naturais.

No livro Regenerative Design for Sustainable Development de Lyle (1996) o design regenerativo para o desenvolvimento sustentável não é mais do que um manual de instruções para o planeta Terra que integra os princípios do design ecológico com realidades práticas, com ênfase em práticas regenerativas comprovadas pelo uso da água, uso da terra, uso de energia e design de construção.

Aborda a questão dos rios e oceanos como sumidouro das atividades industriais e humanas e a destruição da atmosfera com o lançamento dos mais variados gases poluentes que originam o efeito de estufa e as chuvas ácidas, os ciclos de produção com base num fluxo unidirecional de materiais e energia que nos conduzem à beira de um colapso ambiental. É hora de uma mudança, e neste livro Lyle oferece-nos um plano para implementar essa mudança, com abordagens práticas, realistas para reverter este curso mortal. Compromete-se a unidade de arte e ciência, design e planeamento, o Homem e a Natureza.

Também, os pensamentos de Lyle sobre cidades sustentáveis ​​são altamente construtivos, nos tempos atuais de stress urbano generalizado e perturbação regional. Considerando que o maior objetivo do desenvolvimento sustentável é satisfazer as necessidades humanas fundamentais hoje, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem as suas, o objetivo final do projeto de regeneração é reconstruir sistemas com eficácia absoluta, que permita a co-evolução do ser humano juntamente com outras espécies, prosperando (Lyle, 1996).

3. A Economia Circular na União Europeia

A Comissão Europeia adotou um ambicioso Pacote de Economia Circular, que inclui a revisão das propostas legislativas relativas aos resíduos para estimular a transição da Europa para uma EC que irá impulsionar a competitividade global, promover o crescimento económico sustentável e gerar novos empregos (Comissão Europeia, 2015).

O Pacote de Economia Circular consiste num Plano de Ação da UE para a EC que estabelece um programa concreto e ambicioso de ação, com medidas que abrangem todo o ciclo: da produção e do consumo à gestão de resíduos e ao mercado de matérias-primas secundárias. As ações propostas irão contribuir para “fechar o ciclo” de vida dos produtos através de uma maior reciclagem e reutilização, com benefícios tanto para o meio ambiente como para a economia.

As propostas legislativas revistas sobre resíduos definem metas claras para a redução de resíduos e estabelecem um caminho ambicioso e credível de longo prazo para a gestão e reciclagem de resíduos.

Os elementos-chave da proposta resíduos revista incluem:

Um alvo comum da UE para reutilização e reciclagem de 65% dos resíduos urbanos até 2030;

Um alvo comum da UE para reutilização e reciclagem de 75% dos resíduos de embalagens em 2030;

Um objetivo vinculativo para reduzir a deposição em aterro a um máximo de 10% de todos os resíduos até 2030;

A proibição de deposição em aterro de resíduos recolhidos separadamente;

Promoção de instrumentos económicos para desencorajar a deposição em aterro;

Medidas concretas para promover a reutilização e estimular a simbiose industrial, em que o resíduo de uma indústria se torna a matéria-prima de outra indústria.

Esta transição será apoiada financeiramente pelos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento (ESIF), que incluem € 5,5 mil milhões para a gestão de resíduos. Além disso, será prestado apoio por € 650 milhões, de acordo com o Programa Horizonte 2020 (o programa de financiamento da UE para investigação e inovação) e os investimentos na economia circular a nível nacional.

Em Portugal, muito há ainda a fazer. Embora nos últimos anos tenha sido feito um investimento considerável na modernização dos equipamentos de triagem e no reforço das redes de recolha seletiva, Portugal encontra-se bastante aquém da meta estabelecida para a reciclagem, estando esta situada apenas em apenas 36%. Também, o destino “aterro” continua a constituir o tratamento final de cerca de 34% dos resíduos urbanos produzidos. É necessário um esforço considerável para o cumprimento das metas (Agência Portuguesa do Ambiente, 2016).

Figura 1 – Economia Circular (Fonte: Comissão Europeia, 2014)

Figura 1 – Economia Circular (Fonte: Comissão Europeia, 2014)

4. Case studies

Apresentamos, muito sumariamente, alguns casos de sucesso de empresas ou grupos de empresas parceiras, de diversos setores de atividade, que se distinguem na Europa, tipicamente em países do Norte (EMF, 2015).

Kalundborg Symbiosis

Na Dinamarca, Kalundborg Symbiosis é o primeiro exemplo mundial de bom funcionamento de um parque de simbiose industrial. Nele, as empresas, públicas e privadas, compram e vendem resíduos umas às outras num ciclo fechado de produção industrial, tal que resíduos de uma empresa se tornam matérias-primas de outra empresa. São negociados vários produtos derivados, como, por exemplo, vapor, cinza, gás, calor, lama e outros que podem ser transportados fisicamente de uma empresa para outra.

Este parque tornou-se um exemplo de poupança eficaz de recursos e reciclagem de materiais na produção industrial. Os benefícios ambientais são uma prioridade. Contudo, a principal motivação no estabelecimento das relações simbióticas prende-se com o benefício económico das empresas participantes.

Textiles Recycling Valley

O Conselho Regional do Norte da França está a promover a iniciativa Textiles Recycling Valley. Em 2013, foi assinada uma convenção entre parceiros para o desenvolvimento de um plano que pretende mudar as atividades das empresas parceiras de um fluxo linear de materiais têxteis para um modelo mais circular. Estima-se que em França apenas 25% do volume de vestuário, roupa de casa e calçado descartados anualmente está a ser recolhido. Com esta iniciativa, o objetivo é aumentar essa percentagem para 50% e reutilização e reciclagem de 95% dessa quantidade até 2019, com utilizações das fibras quer na indústria têxtil quer em outras indústrias. Além disso, pretende-se evitar a produção de resíduos incentivando as empresas envolvidas a repensar o final de vida dos respetivos produtos desde a fase de design. Em última instância, pretende-se fomentar a inovação, criar negócios lucrativos e emprego no setor de reciclagem dos têxteis.

Mud Jeans

Na Holanda, a empresa Mud Jeans (2008) é pioneira de um modelo de aluguer de calças de ganga.

As calças são fabricadas com 30% de materiais reciclados e 70% de algodão orgânico. O algodão tem estado sujeito perturbações na oferta e a oscilações significativas de preços. Dada a vulnerabilidade da sua cadeia de fornecimento, a empresa prosseguiu com uma utilização mais eficaz da matéria-prima já adquirida.

Em alternativa à compra convencional de calças de ganga, os consumidores podem optar pelo seu aluguer mensal, pelo período de um ano. Decorrido esse período, o consumidor pode: (i) trocar o seu par de calças de ganga por um novo par, continuando o período de aluguer por mais um ano, (ii) pagar um montante adicional e usar as calças pelo período que desejar, (iii) devolver as calças de ganga, cessando a relação com a empresa.

Depois de a empresa reaver as calças de ganga, estas são avaliadas. Os seus materiais continuam a circular através de um dos seguintes circuitos fechados. Se o produto se encontrar em boas condições, é limpo e reutilizado. Em alternativa, pode ser necessário o seu conserto. Se este não for possível, os materiais seguem para reciclagem.

A empresa acredita na EC, que assegura o fornecimento de matéria-prima e proporciona novas oportunidades de negócio.

5. Conclusão

Este novo paradigma de sustentabilidade estimula novas práticas de gestão e descortina novas oportunidades adicionando valor à organização e aos clientes, em harmonia com o meio ambiente.

A EC baseia-se na filosofia win-win em que uma economia saudável e um ambiente saudável podem coexistir. Ela incorpora diversas estratégias para alcançar uma maior eficiência através de economias de sistemas integrados. Parcerias entre empresas para atender necessidades de serviço comum, transporte e infraestruturas são encorajadas. Esta política estimula novas práticas de gestão e descortina novas oportunidades adicionando valor às organizações através da otimização do uso de energia, materiais e recursos da comunidade (Park, Sarkis & Wu, 2010).

Fazer a mudança para a EC é crucial para a competitividade no século XXI, o que requer uma necessidade premente de novas habilidades das pessoas, muito especial, de disciplinas criativas de design, publicidade e digital e não apenas dentro da ciência, engenharia, e tecnologia. A um nível superior, o pensamento sistémico ajudará a construir as estruturas corretas e orientar a mudança de comportamento.

Apesar de o conceito estar presente na literatura é urgente a maioria das organizações espalhadas pelo mundo passarem à sua implementação prática.

Referências

Agência Portuguesa do Ambiente (2016). Resíduos Urbanos. Relatório Anual 2015. Disponível em: https://www.apambiente.pt/_cms/view/page_doc.php?id=1441

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Braungart, M., & McDonough, W. (2002). Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things. New York: North Point Press.

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Dickinson, M. H. (1999). Bionics: biological insight into mechanical design. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 96(25), 14208–14209. doi: 10.1073/pnas.96.25.14208

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Kharas, H. (2010). The Emerging Middle Class in Developing Countries. OECD Development Centre, Working Paper No 285.

Lacy, P. (2015). Gaining an Edge from the Circle: Growth, Innovation and Customer Value through the Circular Economy. Accenture Strategy.

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Stahel, W. R. (1982). The product-life factor. In S. G. Orr (Ed.), An inquiry into the nature of sustainable societies. The role of the private sector. HARC Houston, TX: The Mitchell Prizes 1982.

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Takase, K., Kondo, Y., & Washizu, A. (2005). An Analysis of Sustainable Consumption by the Waste Input-Output Model. Journal of Industrial Ecology, 9(1-2), 201-219.

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Alexandra Leitão é Professora Auxiliar na Católica Porto Business School, onde foi Diretora das Licenciaturas em Economia e Gestão de 2011 a 2013. Doutorada em Economia, com especialização em Economia do Ambiente, pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. Mestre em Finanças, pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Licenciada em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Tem interesses de investigação e publicações em Economia do Ambiente e dos Recursos Naturais, com comunicações em diversas conferências internacionais. Publicou na Ecological Economics. Referee em revistas científicas internacionais.

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 09/03/2017

 

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