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Enxurradas, qual o caminho a seguir pelas águas das chuvas? artigo de Patrícia Shimabuku

 

enxurrada
Itaoca, SP, janeiro de 2012, após temporal que devastou a pequena cidade do Vale do Ribeira. Foto: EBC

 

[EcoDebate] Na escola, aprendemos que os elementos químicos renovam-se no meio ambiente, sendo retirados e devolvidos à natureza, de forma contínua, constituindo os ciclos biogeoquímicos. Dentre os inúmeros ciclos estudados, a seguir, faremos considerações sobre o ciclo hidrológico ou o ciclo da água.

O elemento água dentro do ciclo hidrológico sofre mudanças de lugar e de estado físico em cada etapa do ciclo, passando pelos três estados de agregação da matéria: líquido (córregos, rios, lagos e mares), gasoso (vapores de água na atmosfera) e sólido (gelo). Sucintamente, a água disponível absorve energia térmica (radiação solar ou ar quente junto á superfície terrestre), mudando do estado físico líquido para o gasoso, através do fenômeno físico, a evaporação. As vegetações e os animais, também, contribuem neste processo, através do fenômeno da evapotranspiração. À medida que, a água evapora, o ar atmosférico torna-se saturado, em consequência da umidade, formando assim, as nuvens. Quando o ar saturado de umidade arrefece, a água condensa-se e retornando à superfície na forma de precipitação (chuva). Com isso, a água poderá ter três caminhos, a infiltração no solo (umidificando o solo e/ou recarregando os aquíferos, taxa de 80%), escoamento superficial (contribuindo para formação de corpos hídricos, taxa de 15%) ou já retornar ao estado gasoso.

Toda e qualquer ação antrópica transformará o ambiente, entretanto, esta transformação deverá ser planejada tecnicamente e socialmente com visão estratégica. A urbanização é uma conquista do homem, não é ela a “vilã” ou a “protagonista” dos passivos e das degradações ambientais vivenciados, mas sim, o modelo de ocupação, construção e adensamento urbano interligado a ineficácia do sistema de drenagem vigente. Conectados a estes problemas, a engenharia empregada nos projetos de asfaltamento e arruamento das cidades finalizam o processo de alteração do ciclo hidrológico.

Nas cidades, com a urbanização o ciclo da água é alterado. Essa alteração transforma o meio ambiente urbano e o rural/natural, relevando-se através de inundações, enchentes, deslizamentos de encostas, destruição de nascentes e assoreamentos de córregos. As taxas de infiltração são reduzidas (em torno de 0 a 10%) em contrapartida, as taxas de escoamento superficial são acrescidas significamente (em torno de 90%).

O acréscimo do escoamento superficial pela impermeabilização do sítio urbano (manta asfáltica) é claramente observado pelas enxurradas durante em períodos de precipitação pluviométrica de grande intensidade, cujas consequências poderão ser vivenciadas, através dos transtornos causados pelas inundações e enchentes localizadas nas partes mais baixas da cidade ou através dos deslizamentos de encostas com ocupações irregulares e desmatamento, abalando e promovendo a destruição da infraestrutura da cidade.

Na tentativa de amenizar o escoamento superficial, estas águas são canalizadas através de ductos para os córregos do entorno, que muitas vezes, sem os devidos estudos técnicos e de impacto de vizinhança, bem como os estudos de reconhecimento das peculiaridades, fragilidades e características ecológicas e geomorfológicas do meio ambiente local.

A engenharia e a arquitetura natural dos corpos hídricos não foram projetadas para este “ciclo hidrológico antrópico”, desta forma, obrigatoriamente, os profissionais técnicos, a gestão pública municipal, bem como os órgãos e as entidades ambientais e jurídicas deverão de maneira responsável, democrática e participativa decidir o melhor projeto urbanístico sustentável e ambientalmente seguro para a região em questão. As mudanças climáticas e (essencialmente) os cálculos estimativos de precipitações deverão ser considerados na elaboração do projeto, evitando assim, o sepultamento de nascentes, solapamento de margens e assoreamento dos córregos.

Outro ponto a ser considerado é a população, assim, como o poder público tem suas responsabilidades, ela também possui, como por exemplo, não destinar lixo de forma irregular em vias públicas, evitando assim, o entupimento das galerias, bem como zelo e cuidado com as árvores e áreas verdes urbanas, favorecendo a infiltração hídrica, microclima e reduzindo as ilhas de calor. Sem falar, que estas medidas também farão parte dos programas de prevenção de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.

Paralelamente a todas estas informações compartilhadas, a nossa cidade, possui inúmeros córregos urbanos com seus divisores de água, cujos entornos foram impermeabilizados, intensificando o processo de escoamento superficial hídrico. Além do mais, as águas destes córregos contribuem para a formação das inúmeras cachoeiras e vertem para a região de APA, Unidade de Conservação e recarga do Sistema Aquífero Guarani. E por fim, cabe as seguintes reflexões: Porque não realizamos os devidos (e obrigatórios por lei) estudos técnicos pertinentes para os ajustes necessários do ciclo hidrológico ao meio urbano? Porque os conceitos que englobam a urbanidades, ecologia política e social, bem como os olhares geográficos e sanitários são desconsiderados?

Patrícia Shimabuku é Farmacêutica Industrial, Docente de Educação Profissional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC unidade de Botucatu-SP no Programa Aprendizagem Serviços Administrativos, Vendas e Supermercados para as Unidades Curriculares de Formação Cidadã e Projetos, integrante do Grupo Ecoeficiência Senac Botucatu, Co-criadora do Programa de Educação Ambiental Vivencial da AAVA (Associação dos Amigos do Vale do Aracatu), Colunista sobre Meio Ambiente, Saneamento Básico e Promoção de Saúde do Jornal Diário de Botucatu (versão impressa) e do Jornal Digital Notícias Botucatu.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 09/03/2017

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