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Formação continuada nas escolas do campo: realidade brasileira, por Débora Barros Andrade e Giovanna Freire de Oliveira Lima

 

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[EcoDebate] O argumento que utilizaremos como ponto de partida para o desenvolvimento do texto é: “a formação para os professores do campo abrange o campo da realidade docente no Brasil?”.

De acordo com as repercussões de não satisfação sobre o tipo de formação oferecida ás escolas do campo, é perceptível que geralmente, as formações oferecidas a esses grupo foge à realidade desses sujeitos. Realidade essa que não é valorizada de acordo com a riqueza e particularidade das comunidades e suas culturas. Sendo assim, vemos a dificuldade de atuação nas escolas do campo, pois os professores não foram preparados para atuar com as especificidades que essas escolas possuem, principalmente, aos que se deparam com a atuação em classe multisseriada.

Classe essa renegada pelo tempo e desacreditada, pois para muitos a seriação nas comunidades ainda seria um dos meios para a escolarização dos sujeitos que ali vivem, porém, “pelo seu caráter «urbanocêntrico», ele agrava a precarização delas e das contradições no seu interior e no campo, promovendo e intensificando o fracasso escolar e a exclusão, contribuindo, assim, decisivamente tanto para (re) produzir uma identidade alienada, quanto reforçar essa estrutura social conservadora e desigual”.( Correa, p. 163, 2005)

Atualmente, nos deparamos com um tipo de ensino ofertado a esses sujeitos totalmente nos princípios urbanocêntricos, tendo toda sua organização didático pedagógica copiada das escolas urbanas para as áreas do campo. São itens refletidos na prática pedagógica desse professor que por sua vez recebe uma formação continuada baseada em ações voltadas para o ensino urbano, fugindo assim totalmente da realidade desse sujeito.

A formação continuada visa focar um atendimento para suprir as reais necessidade em sala de aula, porém, vemos que o contexto onde ocorre e como ocorre essa ação posta em jogo, não é trabalhada nem seguida.

A necessidade de uma formação continuada voltadas aos professores que atuam nas escolas do campo deve possuir como ponto de partida a contextualização da realidade onde este professor atua. O reconhecimento e valorização do contexto interfere e influencia em sua prática pedagógica visto que a qualidade da atuação em sala de aula depende da interferência de fatores que somatizem o seu fazer visando a melhoria, o aperfeiçoamento e o alcance no processo de ensino aprendizagem.

Muitas vezes, esses fatores não são levados em consideração por não serem dados o devido valor histórico. Valor negado há tempos por políticas públicas que não atendiam as expectativas de um povo negado socialmente com sonhos frustrados e valores longe de serem reconhecidos.

Hoje, para atuar o professor se firma em saberes que entrecruzam seu caminho com os saberes da experiência e saberes da tradição. Nesse cenário, vão em busca da ressignificação de outras estratégias e de outros saberes e fazeres para que haja de tal maneira a articulação com a prática, já que muitas vezes, a formação continuada não supre as necessidades desse professor, principalmente para aqueles que atuam em classes multisseriadas nas mais diversas comunidades e contextos que o mundo das escolas do campo apresentam e se configuram no dia a dia.

A formação ofertada aos professores do campo deve ultrapassar os muros da escola e favorecer a articulação entre a comunidade e sua vivência de acordo com os hábitos e costumes da realidade inserida. Na maioria das vezes, esse professor não foi preparado para atuar com um ensino tão diferenciado e único que só existe nas escolas do campo. O ensino, geralmente é oferecido através de classes multisseriadas por não conseguir quantitativo suficiente para formar turmas regulares. Sendo assim, quando ele se depara com tal segmento, muitas vezes acaba desistindo de atuar.

Por conta das particulares que envolve as escolas do campo, o crescimento de reivindicações sobre a demanda de formação para esses professores estão entre as mais solicitadas nas políticas públicas e nas propostas de currículos dos cursos de formação do campo. Porém, sabemos que “dizer apenas que o Estado, como gestor das diferentes demandas da sociedade, nunca se responsabilizou em atender a essa demanda por formação docente no nível que ela exige” (Ghedin,2012,p.13)

As experiências em Educação do Campo ultrapassam os limites de conexão com o mundo a partir das diversas experiências formativas que demonstram o valor e a riqueza em produções onde o professor se apresenta como mediador do conhecimento , atendendo a perspectiva de uma proposta educativa dialógica, onde ele integra-se ao grupo deixando de ser o sujeito principal do processo.

Pensar a diversificação das práticas pedagógicas, onde a organização do espaço escolar faz parte do processo formativo, quer seja inicial ou contínuo, é de suma importância para que seja perceptível qual a concepção de educação do Campo está sendo dialogada para se propor alterações onde o papel do educador também seja considerado no processo formativo. Durante esse processo, é perceptível que a resistência do educador não permite a transformação e as outras possibilidades no fazer docente.

*¹ Débora Barros Andrade
Doutoranda em Ciências da Educação pela Unisal
Mestre  em  Ciências da Educação pela Unisal
Bióloga com registro na classe CRBio08ª nº 105.263/08-D
Especialista em Educação Ambiental-Uniter/Ibpex.
Especialista em Docência do Ensino Superior -Uniaméricas-Ceará.
Especialista em Gestão Escolar – Progestão-Bahia;
Técnica em Secretária Escolar / IFBA-Jacobina.
Licenciada em Biologia FTC
Licenciando em Química -ISEED FAVED.
Professora do Ensino Fundamental II,  e Superior da  Rede Pública e Privada.
Orientadora de Trabalho de Conclusão de Curso-TCC
Supervisora de Estágio Supervisionado
Palestrante.

*² Giovanna Freire de Oliveira Lima
Formadora da educação do Campo e Indigena SEMED/AM.
Coordenadora de formação Educação do Campo e Indigena SEMED/AM.
Mestra em Ciências da Educação UNISAL.
Doutoranda em Ciências da Educação UNISAL.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 16/02/2017

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