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Transposição do Rio São Francisco: má gestão dos recursos hídricos leva Nordeste brasileiro à exaustão

 

Transposição do Rio São Francisco: má gestão dos recursos hídricos leva Nordeste brasileiro à exaustão. Entrevista especial com João Suassuna

“É preciso saber que percentual de água o São Francisco pode dispor para depois avaliarmos que tipo de projeto vamos realizar, inclusive para saber se vamos resolver todo ou parte do problema hídrico e de abastecimento da região”, adverte o engenheiro agrônomo.

Foto: Divulgação/Ministério da Integração Nacional / Fickr

 

“Depois de analisar e acompanhar a atual situação do Rio São Francisco, diria que o Estado deveria ter apostado na revitalização do rio: precisávamos primeiro ter água de boa qualidade e em volume no Rio São Francisco para futuramente discutir se seria preciso uma transposição”, diz João Suassuna à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por telefone.

Segundo ele, mesmo se a transposição tivesse sido concluída, dada a atual situação de seca no Nordeste brasileiro – quadro que se repete há cinco anos – “hoje não seria possível retirar água do São Francisco para abastecer 12 milhões de pessoas”, frisa.

Apesar dessa situação, Suassuna defende a conclusão da obra “porque do contrário” ela “será um elefante branco, ou seja, seria assumir um atestado de incompetência gastar 8,2 bilhões de reais num projeto e deixá-lo se transformar num elefante branco”. Entretanto, alerta, “depois da conclusão, teremos um problema grave: de onde retirar água para satisfazer as necessidades de 12 milhões de pessoas que estão sedentas no Nordeste”.

Na entrevista a seguir, João Suassuna apresenta um panorama da exaustão hídrica das represas nordestinas e também comenta a proposta do governo interino de Michel Temer de investir 10 bilhões de reais na revitalização do Rio São Francisco nos próximos dez anos. Trata-se de “uma ação louvável”, diz, mas “se o governo Temer pretende gastar 10 bilhões na revitalização do São Francisco, ele tem que olhar para a região e entendê-la de uma forma sistêmica, porque, do contrário, não acredito numa revitalização”, adverte.

Suassuna também comenta brevemente os casos de corrupção envolvendo a transposição do Rio São Francisco e frisa que, por enquanto, segundo informações do Tribunal de Contas da União – TCU, “200 milhões de reais estão envolvidos em superfaturamento nessas obras, o que não foi esclarecido ainda diante da opinião pública. Sabemos que várias das empreiteiras envolvidas na Lava Jato atuam na obra de transposição do Rio São Francisco e há necessidade de que essas informações sejam muito bem esclarecidas diante da sociedade, para que ela perceba o que está acontecendo e possa, depois, julgar esse projeto da transposição do rio. É dinheiro público que está envolvido na ‘jogada’ e não podemos deixar essa situação ser conduzida da forma como está sendo; a população tem que se manifestar”.

João Suassuna (foto abaixo) é engenheiro agrônomo, pesquisador da fundação Joaquim Nabuco, no Recife, e especialista em convivência com o semiárido.

Confira a entrevista.

Foto: Fundação Joaquim Nabuco

 

IHU On-Line – Qual é a situação do Rio São Francisco hoje? Recentemente o senhor informou que a represa de Sobradinho, uma das principais da região, está funcionando com 25% da sua capacidade. O que isso significa em termos de abastecimento da população?

João Suassuna – Depois analisar e acompanhar aatual situação do Rio São Francisco, diria que o Estado deveria ter apostado na revitalização do rio: precisávamos primeiro ter água de boa qualidade e em volume no Rio São Francisco para futuramente discutir se seria preciso uma transposição. O que está acontecendo hoje? O rio está seco, o Nordeste está precisando de água, e se a transposição tivesse sido concluída, hoje não seria possível retirar água do São Francisco para abastecer 12 milhões de pessoas.

Gostaria de fazer uma observação sobre a situação da bacia do Rio São Francisco: há cinco anos ocorrem secassucessivas no Nordeste, porque as chuvas foram abaixo da média. Além disso, há um problema muito sério de uso excessivo das águas de subsolo na bacia do São Francisco. Essas águas abastecem a vazão de base, a qual tem uma importância muito grande no regime volumétrico do Rio. Para se ter uma ideia, existe um aquífero na Bacia, chamadoUrucuia, o qual é o mais importante no que diz respeito à gestão da vazão e da quantidade de água que corre no seu leito através desses aquíferos e chega a Sobradinho.

Metade da vazão de Sobradinho é proveniente do aquífero Urucuia. É em cima desse aquífero que hoje está se expandindo a cultura da soja, que está sendo irrigada com pivô central. Mas o problema é que quando se irriga com pivô central, está se secando os aquíferos, e ao secar os aquíferos, se interfere nas vazões de base.

A represa de Sobradinho, quando foi construída, tinha a finalidade de regularizar a vazão de 2.060 metros cúbicos por segundo do rio São Francisco. Com a retirada dessas águas do subsolo, essa vazão média está caindo e está atualmente em 1.850 metros cúbicos, quer dizer, a tendência é cair mais ainda. Somada a essa retirada de água exacerbada do subsolo e somados esses anos de seca, a represa de Sobradinho está atuando com 25% da sua capacidade, com a perspectiva de entrar em volume morto no próximo mês de novembro, segundo laudos já apresentados por técnicos. Ou seja, teremos um problema muito sério porque a população que vive na margem do São Francisco não terá água para beber e para irrigar as suas culturas.

“A questão é: que sujeitos humanos a medicina consente em produzir?”

IHU On-Line – Qual é a atual situação das obras de transposição do Rio São Francisco iniciadas no governo Lula?

João Suassuna – Até o final da gestão Dilma, essas obras estavam cerca de 80% concluídas. A gestão Temer está dando sinais de que quer investir não na conclusão da obra de transposição, mas na revitalização do rio, e já se fala em alocar 10 bilhões de reais para isso. É uma ação louvável, não resta dúvida, mas acho que devem concluir esse projeto da transposição, porque do contrário essa obra será um elefante branco, ou seja, seria assumir um atestado de incompetência gastar 8,2 bilhões de reais num projeto e deixá-lo se transformar num elefante branco. Então, acho que a transposição deve ser concluída. Contudo, depois da conclusão, teremos um problema grave: de onde tirar água para satisfazer as necessidades de 12 milhões de pessoas que estão sedentas no Nordeste. O São Francisco não vai ter essa água.

Por isso, defendo que os hidrólogos têm de sair a campo novamente para identificar quais são as reais necessidades de água para beber. Tem de se encontrar um volume que seja capaz de atender às necessidades dos nordestinos. Esse trabalho precisa ser feito também na bacia do Rio São Francisco para saber que volume de água o rio tem para oferecer no sentido de atender às necessidades da população. Os hidrólogos tinham uma ideia de qual era esse volume antigamente, mas o cenário hidrológico mudou e, além disso, há muitas cisternas instaladas na área rural. Então, essa nova equação ainda não foi feita. Identificado esse volume, vamos ter que partir para a identificação de uma instituição que garanta a distribuição da água e que não sofra ingerências políticas para abrir e fechar essas torneiras.

Você pode me perguntar que instituição é essa. De fato, é difícil encontrar uma instituição que não sofra ingerências políticas, mas quem sabe a polícia federal tenha que intervir para garantir a distribuição da água, porque às vezes a situação chega a um ponto que vira caso de polícia.

IHU On-Line – Por que considera que é mais importante concluir a transposição do rio ao invés de iniciar um novo projeto que visa à revitalização? Dada a atual crise, será possível investir nesses dois projetos?

João Suassuna – Porque só faltam 20% para concluir a obra. O meu receio é que depois do dinheiro que foi gasto, essa obra vire um elefante branco. Não podemos deixar que o São Francisco entre no hall da lista negra. Se der para começar a revitalização e concluir a obra, seria o mais viável.

A transposição serviria para resolver um problema emergencial que está ocorrendo em Campina Grande, porque o principal reservatório que abastece a cidade e outros 18 municípios está funcionando com 7% de sua capacidade. Então há a previsão de a represa que abastece Campina Grande entrar em volume morto. Se isso acontecer, veja o problema que vamos ter: 450 mil pessoas, que é a população dessa região, ficarão sem água, mas elas têm que ser abastecidas de alguma forma, ou seja, precisa chegar água para essas pessoas terem o que beber.

Mas com a atual situação do Nordeste, com todas as represas numa situação de exaustão, essa água virá de onde? A única solução será a água do São Francisco. Por isso defendo a conclusão do projeto, para que a transposição possa resolver, de forma emergencial, esse problema que está acontecendo hoje em Campina Grande. Se não colocar esse projeto a funcionar, Campina Grande não terá água para dar de beber ao seu povo. Fala-se em implementar outros sistemas, como os de adução de engate rápido, e isso é possível, mas vamos tirar a água de onde? É nisso que temos de pensar.

Os hospitais de Campina Grande estão sendo abastecidos por caminhões-pipa; isso é uma loucura. Se a transposição tivesse sido concluída, já estaria chegando água para resolver esse problema. Mas para que a água chegue não podemos descuidar desse trabalho que lhe falei anteriormente: temos de saber que volumes de água o São Franciscopode nos fornecer.

IHU On-Line – Como está avaliando o novo programa de revitalização do Rio São Francisco, anunciado pelo governo interino, chamado de Novo Chico, que pretende gastar 10 bilhões até 2026, e atuar em três frentes: recuperação das nascentes e áreas degradadas, modernização de agricultura irrigada e programa de aquicultura; conclusão de 124 projetos de saneamento; e gestão e fiscalização ambiental com recuperação de unidades de conservação?

João Suassuna – É uma proposta interessante; não resta dúvida. Todas as lagoas do São Francisco estão com problemas sérios porque o rio não está tendo volumes suficientes para reabastecer as lagoas. E quando as lagoas secam, os peixes somem. Temos que olhar para tudo isso de modo sistêmico e entender que a gota de esgoto que cai no Rio das Velhas vai poluir outras regiões, porque moramos num vaso fechado que é o planeta Terra. Essa proposta de revitalização é importante, mas como eu já disse anteriormente, temos de saber também que volumes de água o Rio São Francisco vai poder fornecer. Precisamos avaliar isso porque é a partir desse número que será possível planejar a irrigação que está sendo feita no Rio São Francisco, planejar que quantidade de água será lançada das represas do São Francisco etc.

IHU On-Line – É possível fazer esse cálculo rapidamente?

João Suassuna – Esse é um trabalho que demora, mas que precisa ser começado. Não podemos ficar de mãos atadas, ver o Nordeste seco, sem uma gota d’água e sem saber o que fazer.

“Se o governo Temer pretende gastar 10 bilhões na revitalização do São Francisco, ele tem que olhar para a região e entendê-la de uma forma sistêmica, porque, do contrário, não acredito numa revitalização”

IHU On-Line – Como o senhor avalia a nova proposta para o São Francisco à luz do projeto anterior de transposição do governo Lula? Em que aspectos essas propostas se diferenciam?

João Suassuna – Se a obra de transposição não tivesse sido feita, a situação seria outra. Inclusive, o Lula fez questão de enaltecer um diferencial ao dizer que sua proposta era diferente da de Fernando Henrique Cardoso. A proposta deFHC, ele dizia, apenas visava à transposição das águas, mas o Lula dizia que queria mais, queria investir narevitalização do rio. Eu fiquei muito animado naquela época, porque ele inclusive deu início a essa proposta ao criar uma subsecretaria só para mexer com a revitalização do São Francisco, mas a vontade foi diminuindo de tal modo que começaram a investir muito mais na transposição do que na revitalização, chegando ao ponto de que em uma determinada época o orçamento da transposição era de 1 bilhão de reais e o da revitalização era de 100 milhões. A partir daí não pude mais acreditar num projeto de revitalização em que se aplicava 10% do que estava sendo investido num projeto de transposição. Já nessa época eu comecei a não acreditar no projeto de revitalização do rio São Francisco do governo Lula, com essa divisão de recursos.

Estamos numa situação emergencial no Nordeste, e se você me perguntasse se esse projeto resolveria a situação do Rio, eu diria sinceramente: resolveria se chegássemos a detectar qual é o volume de água que o São Francisco pode dispor. É preciso saber que percentual de água o São Francisco pode dispor para depois avaliarmos que tipo de projeto vamos realizar, inclusive para saber se vamos resolver todo ou parte do problema hídrico e de abastecimento da região. Depois de voltarmos à situação de chuvas e os reservatórios estarem abastecidos, temos de fazer um trabalho de gestão dos recursos hídricos, porque do contrário voltaremos à estaca zero.

Para não dizer que não foi feito nada, houve uma ação de tratamento de saneamento em algumas regiões, mas ficou somente nisso. A revitalização de uma bacia é uma coisa muito maior porque tem que resolver a questão de reflorestamento das matas ciliares, cuidar dos vazamentos sanitários, olhar a parte de dragagem dos rios que já estão assoreados, cuidar da fauna, mas nada disso foi feito.

Se o governo Temer pretende gastar 10 bilhões na revitalização do São Francisco, ele tem que olhar para a região e entendê-la de uma forma sistêmica, porque, do contrário, não acredito numa revitalização.


Mapa da transposição do Rio São Francisco. Fonte: Portal EcoDebate

IHU On-Line – Como a discussão política tem repercutido na região em que está sendo realizada a transposição do Rio São Francisco neste momento de crise e de risco de abastecimento de água, dado que várias empreiteiras e políticos estão sendo denunciados na Lava Jato por conta da corrupção envolvendo essas grandes obras, por exemplo?

João Suassuna – Tenho acompanhado essas questões e inclusive já estão divulgando informações sobre a má administração dos recursos públicos nas obras da transposição. O Tribunal de contas da União já chegou à conclusão de que 200 milhões de reais estão envolvidos em superfaturamento nessas obras, o que não foi esclarecido ainda diante da opinião pública. Sabemos que várias das empreiteiras envolvidas na Lava Jato atuam na obra detransposição do Rio São Francisco e há necessidade de que essas informações sejam muito bem esclarecidas diante da sociedade, para que ela perceba o que está acontecendo e possa, depois, julgar esse projeto da transposição do rio. É dinheiro público que está envolvido na “jogada” e não podemos deixar essa situação ser conduzida da forma como está sendo; a população tem que se manifestar.

Se você fizer uma pesquisa hoje na região setentrional do Nordeste, 99% das pessoas dirão que são favoráveis à obra, porque ainda não a receberam. O resto do Nordeste é contra a obra porque não vai participar do recebimento dessas águas. De outro lado, parte da população que era favorável ao projeto, já está achando que ele não vai sair por causa das “falcatruas” que são feitas em torno da má administração do dinheiro público e porque vários dos canais da transposição estão rachando e ninguém está ligando para isso. Tudo isso está fazendo a opinião do nordestino mudar em relação ao projeto. Isso é lamentável de dizer? Sim, mas ninguém mais acredita nesse projeto.

O problema maior do Nordeste é a falta de gestão dos recursos hídricos, porque os principais açudes do Nordeste estão em uma situação lamentável em termos de volume de água por conta de uma má gestão desses volumes. Quando se constrói uma represa de grande porte, essa represa regulariza o rio que foi represado num volume de regularização. Para você ter uma ideia, se utilizarmos o volume dessa represa em volumes maiores do que a da regularização, a represa seca, mesmo se tiver enormes volumes de água.

O que acontece hoje no Nordeste é que os volumes de regularização dessas represas estão sendo menores do que o volume de água que está sendo retirado dela. Isso leva à exaustação e foi assim que acabaram com açudes em várias regiões. Diante dessa situação, a solução apresentada é trazer água do Rio São Francisco, mas essa água vem de uma parte do rio que também já está praticamente seca. Quando essa água chegar à represa, ela vai continuar sendo mal gerida e, portanto, a água do São Francisco nessas represas também vai acabar. Essa é a triste situação hídrica do Nordeste brasileiro.

Por Patricia Fachin

 

(EcoDebate, 25/07/2016) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

 

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9 thoughts on “Transposição do Rio São Francisco: má gestão dos recursos hídricos leva Nordeste brasileiro à exaustão

  • O agronomo Joao Suassuna vem estudando a transposicao ha muito tempo.
    De critico feroz dos primeiros tempos, passou a defensor da conclusao do projeto para evitar o colapso de abastecimento em grandes cidades, como Campina Grande, na Paraiba.
    Nesse ponto, ele esta absolutamente correto. Sem a transposicao e com o aumento pela demanda de agua, o Nordeste Setentrional entraria em crise de abastecimento.
    Por outro lado, ele se engana que a agua sera retirada de um ponto em que o Sao Francisco nao a possui.
    A transposicao retirara agua de dois pontos, ambos a jusante de Sobradinho, cuja vazao esta, atualmente, em 1.860 m3/s.
    Portanto, ha agua bastante para se realizar a transposicao.
    Quando o atual ciclo hidrico se inverter e Sobradinho estiver com volumes expressivos, a transposicao podera ser feita inclusive com volumes maiores, visto que as adutoras suportam a vazao total de 127 m3/s.
    De qualquer modo, a transposicao nao e impositiva. Se estivermos em periodo mais seco que o atual, a vazao de transposicao podera ser reduzida ao minimo para nao afetar a vazao do rio.

  • Não é só isso…

    Mas há 40 anos já se sabia que as perdas por evatranspiração, eram maiores que os ganhos…desde quando trabalhei no projeto Jaíba…

    Abs…

    RNaime

  • Roberto, boa noite.
    Nao entendi seu comentario.
    Perdas maiores que os ganhos?
    Nesse caso, a agua ja teria acabado.

  • Paulo Afonso,
    Ainda continuo crítico. O Problema é que o Governo Federal costuma realizar seus projetos sem considerar a opinião técnica. As coisas são impostas goela abaixo! Esse projeto tinha tudo para dar errado. E vai dar errado se não forem tomadas as medidas que os técnicos têm sugerido. Note que na minha entrevista alerto para a necessidade de se fazer novo estudo de necessidades hídricas no Semiárido, para se começar a pensar de que fonte hídrica será possível se retirar água para satisfazer essa nova demanda. O São Francisco está debilitado hidrologicamente falando, e não vai poder resolver o abastecimento do povo nordestino em sua totalidade. Você fala em uma vazão de 1860 m3/s. Mas a defluência de Sobradinho, atualmente, é de 800 m3/s, o que irá obrigar as autoridades a diminuir essa vazão para 500 m3/s, pois já há laudos técnicos que fazem previsão de que a represa entrará em volume morto no mês de novembro. Portanto, Paulo, sou favorável à conclusão do projeto, desde que se faça esse estudo de novas demandas hídricas, e que se coloque uma instituição que não sofra ingerências políticas, para gerir a abertura e o fechamento das torneiras dessa transposição. Na minha avaliação, transformar esse projeto em um elefante branco, após serem aplicados R$ 8,2 bilhões, seria assinar um atestado de muita incompetência.

  • Marcelo Ribeiro

    Se não acabar com a farra das outorgas no escuro, o uso desmesurado dos aquíferos do Oeste da Bahia, a irrigação irracional, perdas significativas no abastecimento humano, além, é óbvio, da recuperação ambiental de toda a bacia sanfraciscana, especialmente seus contribuintes na reigão do Alto, aliviar a pressão absurda para geração de energia elétrica da calha principal, vai ser um grande monumento à incompetência e ao descalabro essa malfadada e irresponsável transposição.

  • Marcos Antonio Frolini

    Sem tirar uma virgula de sua entrevista Paulo Afonso e amigo Marcelão Ribeiro, temos que lembrar, que os 800m3 atuais, com possibilidade concreta de ser reduzida ainda mais, terminará pela perda de quase toda parte baixa , na foz do São Francisco, onde a cunha salina avança implacável, terminando por colocar a pá de cal em vários municípios ribeirinhos de Alagoas e Sergipe. Infelizmente quando políticos tomam conta de áreas que deveriam ser de absoluto domínio de técnicos verdadeiros, o fim sempre é pior possível… Concordo também com o ponto de vista esposado, no que refere a continuação das obras, afinal, foi muito dinheiro empregado e se for para perdê-lo, teremos o chapéu de palhaço à cabeça, porém sabemos que a revitalização não acontece num passe de mágica, sendo necessários vários anos para obter-se os primeiros resultados, período este que certamente quase tudo o que foi feito, sem uso será perdido ou danificado seriamente e talvez aqueles 12 milhões de almas não tenham este tempo possível de espera…

  • Ricardo Ramalho

    Além dos aspectos comentados virão questões graves como a distribuição da água e a gestão do complexo hídrico, com a necessidade de mais recursos financeiros e a montagem de uma estrutura que opere com competência esse complexo, com implicações político-sociais e conflitos de interesses mais diversos que, naturalmente, advirão com a chegada das águas a uma região de extrema escassez hídrica. Em Alagoas, temos o Canal do Sertão que já percorre mais de 100 km com água do São Francisco, cujo maior usuário, depois de 30 anos de construção, é o Sol!!

  • Grande estudioso e militante das causas do semiárido, João Suassuna. Que esta obra é desnecessária e tecnicamente inviável, sabíamos já, desde antes da Caravana contra a Transposição e pelo Semi-árido de 2007, pois desde 2000 já ouvíamos os cientistas como Aldo Rebouças, José do Patrocínio Tomaz Albuquerque, Manoel Bomfim Ribeiro, João Suassuna, João Abner Guimarães Jr.

    Que era obra superdimensionada sabíamos ouvindo o engenheiro cearense ex-diretor do DNOCS Cássio Borges que mesmo apoiando o projeto de transposição defendeu honestamente uma obra para transpor no máximo 27 metros cúbicos, pois experiente, se preocupava com a operacionalização e manutenção da obra, que já sabíamos economicamente contraindicada, mesmo se houvesse disponibilidade hídrica em Sobradinho, para as dimensões do projeto aprovado. Que todos sabíamos, até escrito está, no projeto do governo Lula, a transposição de águas só funcionaria 40% do tempo, pois em 60% dos anos seria desnecessária. Embora para manter o sistema sem deteriorar teria que mantê-lo funcionando 100% do tempo. É muito sem sentido apoiar terminar uma obra sem sentido para salvar a cara dos responsáveis. Quem pariu Mateus que o embale!

    O prejuízo é a única certeza, prevista lá atrás, pois a manutenção e a distribuição dessa água no Nordeste Setentrional, inexistente em Sobradinho, criando uma nova empresa estatal ou privada, tornará o custo da água impeditivo ao lado do impeditivo custo da energia.

    E por falar em revitalização, deve estar vindo aí mais uma negociata com fins inconfessáveis pois a ANA, a ONS, o MMA, o PMDB, o PSDB, o PT nunca entenderam patavina de revitalização, de ecossistemas, nem nada. Nomeiam cabos eleitorais para administrar pontos sensíveis da economia nacional como as questões ecológicas e da água. Eles promoveram o desequilíbrio ecológico, com apoio da bancada ruralista no Congresso, romperam, com suas políticas neocoloniais de exportação de commodities, regras básicas de gestão compatíveis com o ciclo hidrológico em suas intrincadas redes de interação entre chuva, solo, biodiversidade, clima, etc. Hoje a seca subterrânea promove a miséria, o desabastecimento, a desorganização social, o medo.

    A transposição não é um projeto isolado, é a cara dos desencontros do Brasil oficial com seu povo. Tem a natureza do que a Lava Jato tornou público. está a serviço do destrutivismo do sistema econômico e da corrupção moral e financeira. É um projeto para sangrar o Brasil por longo prazo. A bacia do São Francisco foi desidratada e ignoraram os ciclos climáticos.

  • NOVA MAIS-VALIA EXPLICARIA O MILAGRE BRASILEIRO DE HOJE?

    Fiquei devendo um complemento ao texto anterior pois quedas de sinal da NET me atazanam.
    Estamos diante e uma constatação análoga à mais-valia. O lucro do agronegócio brasileiro não é basicamente fruto de grandes avanços gerenciais e tecnológicos apenas, mas sobretudo da segunda mais-valia que recebem: o não-pagamento pela água que consomem e a consequente responsabilidade pela crise hídrica, o fim dos nossos rios, pois todo desperdício fica imune e nada é fiscalizado nem mesmo cobrado.

    A ANA e os CBHs e outras agências, seguindo o mesmo modelo, não pagam pela água consumida, apenas pela energia elétrica, ainda assim subsidiada. Quem paga preço de mercado em tudo, segundo o princípio capitalista, e de forma suprapartidária, nas últimas décadas isto ficou claro, são os consumidores urbanos sobretudo, a população. No meio rural a escassez da água, devido ao sobreuso e excesso de retiradas de poços artesianos, de poços profundos e dos rios, inviabiliza a vida dos pequenos produtores e da economia familiar, mata a profissão de pescador e mina a vida ribeirinha.
    Foi fixado pela ANA e demais agencias o preço de R$0,01 por mil litros de água mas cada setor tem um índice de desconto, chegando a pagarem apenas 1/40 de R$0,01 por mil litros de água. Ou seja, praticamente nada, é água como mais-valia. No CBH SF, a agencia AGB Peixe Vivo, ou “Peixe Vivo” recebe aprox. 25 milhões por ano, sendo metade pela Transposição do São Francisco, que nem começou ainda e funciona como cala-a-boca do CBH SF. O segundo grande pagador as companhias de água de abastecimento humano que repassam ao consumidor. Uma perversidade. As hidrelétricas não constam no pagamento. Será que devido a água não sair do leito do rio? Os minerodutos não pagam pois foram considerados como rios, pela FIEMG, vão do interior ao mar! O agronegócio e a indústria pagam taxas subsidiadas que chegam a um quarenta avós de R$0,01 por mil litros de água.

Fechado para comentários.