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Artigo

Da ‘corrida do ouro’ ao mar de lama, artigo de Montserrat Martins

 

 

[EcoDebate] Maior que a da Petrobrás ou do BNDES é a “caixa-preta” da mineração, área que movimenta quase 10% do PIB nacional. O minério brasileiro é cobiçado internacionalmente, a ponto de chineses e japoneses financiarem a construção de ferrovias cuja maior utilidade é o escoamento dos minérios até os portos de onde são levados para os asiáticos e o mundo todo.

Essa caixa preta remonta aos tempos do Brasil Colônia mas tem capítulos importantes mais recentes, incluindo a privatização da Vale a preço de banana como mostra o livro “O Brasil privatizado”. Um grande empresário gaúcho que morou no Pará revelou também que um dos interesses ocultos em Belo Monte é que naquela região se encontram ricas reservas minerais.

Remonta a 1690 o primeiro “ciclo do ouro” no Brasil, que em 1760 representava a metade do ouro encontrado no mundo e que demandou naquela época a escravização de um milhão de africanos para trabalhar nessa atividade. Na década de 1730 os diamantes passaram a ser encontrados nas Minas Gerais e por muitas décadas, depois, eles foram abundantes na Chapada Diamantina, na Bahia.

Já na transição do século XX para o século XXI o mundo passou a demandar cada vez mais minério de ferro (do qual somos o segundo produtor mundial), manganês e mais recentemente tantalita e nióbio (do qual o Brasil é o maior produtor mundial). Estes são utilizados na indústria eletrônica, tendo o nióbio capacidade de se converter num supercondutor, sendo resistente à corrosão, utilizado ainda em superligas de ferro, níquel e cobalto para produção de componentes de motores, de turbinas a gás, de foguetes e de turbocompressores.

A tragédia em Minas, com vítimas fatais e um mar de lama (dessa vez não só em sentido figurado, mas concreto), que já destruiu cidades e ameaça outras, chama atenção agora para a falta de pudor dos grandes negócios da mineração, negligente com os interesses das pessoas, da sociedade, do país.

A linda Poços de Caldas, uma das cidades com mais qualidade de vida no país, tem no entanto um dos maiores índices de câncer desde a instalação de fábricas de alumínio. A poluição do ar, da água, dos solos, decorrentes da mineração, nunca despertou até hoje a atenção das mídias.

Poucas pessoas tem conhecimento do submundo desses negócios altamente lucrativos e com pouquíssimos cuidados com a saúde das pessoas e do ambiente, como a tragédia agora evidenciou. Que as vidas humanas não sejam em vão e tragam luzes sobre essa área bilionária e obscura.

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é médico psiquiatra, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e presidente do IGS – Instituto Gaúcho da Sustentabilidade.

 

in EcoDebate, 16/11/2015

[cite]


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3 thoughts on “Da ‘corrida do ouro’ ao mar de lama, artigo de Montserrat Martins

  • É verdade, não se enfrenta esta questão porque este setor banca todos os partidos…

    Abs

    RNaime

  • Millos Stringuini

    Montserrat,

    Essas “catástrofes anunciadas” estão todas licenciadas operacionalmente (LO) pelos órgãos ambientais. Isso prova que o Sistema de Licenciamento adotado no Brasil é insuficiente para evitar a geração de passivos ambientais e minimizar riscos e perigos.
    A Gestão ambiental integrada através de Contratos de Gestão Ambiental é a única saída para um gerenciamento ambiental responsável. Infelizmente, o Brasil não aprende e não apreende com experiências consagradas em outros países. Insistimos nesse Legalismo Fiscalismo Cartorial, onde poucos acham que conhecem tudo sobre meio ambiente. Abraço Millos

  • José de Castro Silva

    O governo já se manifestou e já achou um punhado de culpados. Estabeleceu multas milionárias e impôs sanções aos culpados. Esperaremos que as novas leis sejam mais coercitivas, punitivas e que inviabilizem o setor.
    Onde estavam os órgãos governamentais (FEAM e todos os órgãos ambientais de Minas Gerais). Onde estava o IBAMA e outros órgãos federais – DNPM..?
    Precisava que muitas vidas se perdessem, que muitos sonhos se desfizessem que muitos danos ambientais ocorressem para que se cumprissem as leis já existentes?

    Ou estas empresas existem somente para bancar as contas de políticos e campanhas eleitorais? Por que nada se fez de prevenção antes que a tragédia acontecesse? Esta é a grande pergunta.

    Os mortos não falam, mas certamente não estariam calados se tais planos de contingência, de emergência existissem.
    A omissão dos órgãos estaduais é muito maior do que todos imaginam O Governo e seus representantes buscam culpados e sobrevoam a área todos os dias para aparecer na mídia.

    A Dona Dilma apareceu uma semana depois e não falou coisa com coisa. Apenas falou em multar os culpados e lamentou os fatos. Temos uma Presidenta à altura das nossas necessidades….. .

    O Governador do Estado dá um sobrevoos e dá uma satisfação ao eleitorado. Onde estavam os órgãos ambientais do Estado, responsáveis pela fiscalização, que sabe multar e punir pequenos produtores…

    Estamos a pouco quilômetros do local do acidente e sabemos que ali falta tudo, muito mais do que se fala…

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