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Água mineral natural engarrafada e seus impactos ambientais, por Henrique Cortez

 

água engarrafada

 

[EcoDebate] A indústria da água engarrafada é uma das atividades que mais crescem no mundo, mesmo diante de uma grande crise financeira global. O competente marketing da indústria fixou no inconsciente das pessoas o mito de que a água engarrafada é mais segura e saudável.

Mas, se ignorarmos o mito, veremos que consumir água engarrafada, onde a água da rede é tratada e potável, é injustificável.

No Brasil, é um mercado de 7 bilhões de litros ao ano, com um crescimento anual de 10%. Em termos mundiais, em 2007, foram consumidos 206 bilhões de litros de água engarrafada, com um faturamento de US$ 100 bilhões.

Não existe consumo sem impacto ambiental e com a água engarrafada não é diferente. O consumo responsável e o consumismo alienado podem ser diferenciados pelo impacto do consumo e pela sua sustentabilidade. A água engarrafada é, essencialmente, ambientalmente insustentável.

Bem, o mito, já incorporado ao inconsciente coletivo, diz que a água mineral natural é mais segura e saudável do que a água tratada de torneira. Será?

A água tratada de torneira é captada em águas superficiais, recebendo tratamento de filtragem e adição de cloro, o que a faz potável. O tratamento, no entanto, não elimina eventuais contaminações por metais pesados e agrotóxicos, por exemplo.

Ao longo do sistema de distribuição pode ser contaminada pela má qualidade das adutoras/tubulação ou nas caixas d’água.

A água mineral natural é captada em fontes subterrâneas e não recebe qualquer tipo de filtragem ou tratamento. Em geral contem mais sais minerais do que a água tratada.

Em termos reais, esta é a única vantagem da água mineral sobre a tratada.

As fontes subterrâneas e os aquíferos também podem e freqüentemente são contaminados por metais pesados e agrotóxicos. Além disto, não recebendo tratamento e adição de cloro, a água mineral natural pode ser contaminada por bactérias.

A potabilidade da água tratada distribuída pelas concessionárias é rigorosamente acompanhada pelos órgãos ambientais. O mesmo já não é verdade em relação às centenas de engarrafadoras.

Não são raras as notícias de que fontes e engarrafadoras de água mineral são interditadas em razão da contaminação por bactérias.

Existem muitos problemas de qualidade, tais como cor e sabor, na água tratada, mas pelo simples fato de que ela é tratada já a faz mais segura do que a natural engarrafada.

Isto sem falar que, em termos preço, água engarrafada é, pelo menos, 100 vezes mais cara, por litro, que a água tratada que chega às nossas casas.

Em outra perspectiva, a água engarrafada possui impactos ambientais muito maiores do que a tratada.

Um estudo [Energy implications of bottled water] publicado na revista Environmental Research Letters, 4 No 1 (January-March 2009), estimou que, em 2007, nos EUA, foram consumidos 33 bilhões de litros (110 litros per capita) de água engarrafada, com um consumo de energia, para produção, distribuição e estocagem, quantificado como algo entre 32 e 54 milhões de barris de petróleo (o volume pode variar dependendo do processo de distribuição e distância entre os centros produtores e consumidores). Engarrafar estes 33 bilhões de litros de água consumiu 1 milhão de toneladas de PET, que, por sua vez, equivale a pouco mais de 15 milhões de barris de petróleo. O estudo conclui que a ‘pegada’ energética da água engarrafada é 2 mil vezes maior do que a água tratada de torneira.

O consumo global de água engarrafada em 2013 foi de 266 bilhões de litros, 7% maior que em 2012. Os impactos, portanto, foram, pelo menos, 8 vezes maiores do que em 2007.

O outro impacto óbvio, mas desprezado pelos consumidores, é a própria garrafa PET como resíduo.

No Brasil, pouco mais de 55% das garrafas PET são destinadas à reciclagem, o que significa dizer que bilhões de garrafas irão entupir nossos rios e mananciais, ou sobrecarregar os aterros sanitários.

É evidente que, em muitas situações, a água engarrafada é a mais segura ao nosso alcance. Mas como exceção e não como regra de consumo.

Enfim, a água engarrafada não é, de fato, mais segura ou saudável, é muito mais cara do que a água tratada e seus impactos ambientais são significativos.

Então, consumir por que?

Henrique Cortez, editor do Portal EcoDebate

 

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Publicado no Portal EcoDebate, 27/04/2015

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3 thoughts on “Água mineral natural engarrafada e seus impactos ambientais, por Henrique Cortez

  • Evandro Camara

    Excelente matéria. Há muitos estados no Brasil onde há preferência pela água mineral em galão de 20 litros, quando um simples filtro resolve. Aumentamos nossos gastos com água mineral, sem haver, entretanto, maior garantia de qualidade. Bom alerta.

  • É um assunto extremamente delicado de abordar, porque envolve múltiplos interesses.

    Mas as dimensões referidas são extremamente sensatas e adequadas.

    Parabéns Henrique.

    RNaime

  • “A indústria da água engarrafada é uma das atividades que mais crescem no mundo, mesmo diante de uma grande crise financeira global.”. O consumo de água engarrafada cresce no mundo desenvolvido, não porque é mais saudável que a água de rede, mas sim porque é mais saudável do que os refrigerantes ou refrescos artificiais. Como consequência natural, está crescendo o consumo de água engarrafada com sabor a frutos variados.

    “No Brasil, pouco mais de 55% das garrafas PET são destinadas à reciclagem, o que significa dizer que bilhões de garrafas irão entupir nossos rios e mananciais, ou sobrecarregar os aterros sanitários.”… Uma questão de Educação e Cultura!

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