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Franceses estão mais insensíveis à pobreza, revela estudo. Discurso da extrema-direita consolida preconceitos

 

Acampamento de ciganos em Paris
Acampamento de ciganos em Paris . Foto de Charlie Dupiot
Por Taíssa Stivanin, da RFI

A associação francesa ATD Quart de Monde divulgou uma pesquisa inédita nesta terça-feira (7) mostrando que a população francesa está cada vez mais insensível à miséria e à situação dos mais pobres na França. A ideia é reforçada pelo avanço dos partidos de extrema-direita nos últimos anos, de acordo com o diretor da associação, Christophe Géroudet.

Mais de oito milhões de franceses vivem abaixo da linha da pobreza e recebem menos de € 900 mensais, o  equivalente a R$ 2700,00 -um valor irrisório levando em conta o preço do aluguel de um apartamento de 15 m2 na capital, que pode chegar facilmente a € 700,00. Mas a população parece cada vez mais indiferente à precariedade, segundo o estudo da associação ATD Quart de Monde, que também lançou nesta terça-feira a segunda edição do livro “En finir avec les idées fausses sur les pauvres et la pauvreté” (Para acabar com as falsas ideias sobre os pobres e a pobreza).

A pesquisa revela que os franceses estão mais críticos em relação aos benefícios sociais implantados pelo governo para ajudar a população mais carente, como o RSA, um auxílio de cerca de € 500,00 para as famílias em situação de precariedade. Cerca de 65% dos mil entrevistados acreditam que a luta contra a pobreza “custa caro para a classes média”, obrigada a pagar impostos mais altos para garantir a assistência aos mais necessitados. Segundo a associação, essa afirmação é falsa, já que os 43% de imposto de renda pagos pelos franceses são revertidos para a Saúde, Educação e Previdência Social, que beneficiam toda a população.

Além disso, os entrevistados também acreditam, por exemplo, que as ajudas do governo “desencorajam as pessoas a procurarem um emprego”. 50% dos franceses ouvidos também acham que os pobres têm filhos para “ganhar mais ajuda do governo.” Para o diretor da associação, Christophe Géroudet, a crise econômica atual contribui para essa visão.

“Acho que a crise e o contexto político tenso fazem com que exista esse comportamento, de colocar uma parte da população contra a outra e jogar a culpa nos mais pobres, que se tornam bodes expiatórios. Nós encorajamos o acesso a esse tipo de ajuda, mas também à cidadania. Na França, a situação em relação à moradia é catastrófica. As famílias mais pobres não ganham um salário suficientemente alto para pagar um aluguel na França.”

Discurso da extrema-direita consolida preconceitos

Para o representante da associação, essa visão do “pobre folgado” é resultado da insegurança e da propagação de discursos discriminatórios da extrema-direita, entre outras razões. “Mas o que vemos, e isso nos estimula, é que com bons argumentos, conseguimos mudar a opinião das pessoas. O que é importante é compreender a realidade das famílias pobres. Muitos dizem, por exemplo: ‘é muito fácil receber essas ajudas, e o Estado ajuda demais!’ Mas a realidade é que 68% das pessoas não reinvindicam seu direito ao RSA. Percebemos que elas não recorrem à ajuda porque têm medo de serem estigmatizadas e taxadas de assistidas.”

Jean-Christophe Sorrot, um dos autores do livro lançado pela ATD Quart de Monde, afirma que os políticos de extrema-direita se apropriam de ideias discriminatórias já existentes para criar um discurso que reforce essa tendência. “Isso humilha profundamente as pessoas visadas por esse discurso e impede que a gente se coloque as questões pertinentes sobre como sair da crise, acabar com os empregos precários, melhorar o desempenho escolar dos alunos, a moradia, enfim, achar uma solução para a precariedade, que não para de crescer. E esse discurso da extrema-direita pode gerar escolhas políticas errôneas, que vão piorar a situação.”

Matéria da RFI, reproduzida pelo Portal EcoDebate, 13/10/2014


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