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Artigo

Não há riscos econômicos no leilão do Campo de Libra. Só há riscos ambientais. Por Flávio Tavares

 

 

Campo de Libra. Mapa ANP/Presalt.com
Campo de Libra. Mapa ANP/Presalt.com

 

O doce pré-sal

“Não há riscos econômicos no leilão do Campo de Libra. A Petrobras já preparou tudo em minuciosas prospecções primárias e cálculos matemáticos. Só há riscos ambientais, ainda insolúveis, pois ninguém nunca extraiu petróleo a tal profundidade. O desafio brutal está aí, em ameaça à vida do oceano e do planeta, mas o leilão nem viu. O$ leiloeiro$ $ó pen$aram no dinheiro. Se um vazamento de óleo (da caldeira de um hospital) se espalha agora pelo lago de Brasília, junto ao Palácio da Alvorada, o que pensar de Libra?”, escreve Flávio Tavares, jornalista, em artigo publicado no jornal Zero Hora, 20-10-2013.

Segundo ele, “Exército e Força Nacional vão “garantir o leilão” que entregará nosso petróleo ao alheio. Nos anos 1950, a luta de “o petróleo é nosso” (que criou a Petrobras) era “subversão comunista” e levava à prisão. No doce pré-sal atual, regredimos aos anos amargos?”

Eis o artigo.

A quem pertence o petróleo do nosso pré-sal? Faço-me esta pergunta com angústia pelas manhãs, ao me levantar e abrir a janela. Da minha casa, no litoral da região dos Lagos, no Estado do Rio de Janeiro, diviso as águas que, lá longe, cobrem o Campo de Libra na imensidão do nosso mar territorial. Ali, na chamada Bacia Santista, entre sete e 10 mil metros de profundidade, abaixo das capas de sal, há milhões de anos se esconde o maior campo petrolífero do planeta. A Petrobras pesquisou e demarcou a área de extração 1.500 quilômetros quadrados, com reservas entre 12 e 14 bilhões de barris de óleo, mais do que o total extraído até hoje no Brasil, em 60 anos. Ou mais do que todas as reservas do México, grande produtor mundial.

Tudo isto, toda a riqueza de todo o Campo de Libra vai a leilão agora, disputada por 11 empresas estrangeiras, além da própria Petrobras. A melhor oferta leva o antecipado peru de Natal. Empresas da China, Japão, Índia, Malásia e Colômbia disputam com a anglo-holandesa Shell, a francesa Total, a portuguesa Petrogal e a espanhola Repsol.

Não há riscos econômicos. A Petrobras já preparou tudo em minuciosas prospecções primárias e cálculos matemáticos. Só há riscos ambientais, ainda insolúveis, pois ninguém nunca extraiu petróleo a tal profundidade. O desafio brutal está aí, em ameaça à vida do oceano e do planeta, mas o leilão nem viu. O$ leiloeiro$ $ó pen$aram no dinheiro.

Se um vazamento de óleo (da caldeira de um hospital) se espalha agora pelo lago de Brasília, junto ao Palácio da Alvorada, o que pensar de Libra?

É justo leiloar a riqueza de toda a nação? Ou entregar um patrimônio nobre e único da natureza à cobiça, cuja única pátria é o lucro?

O petróleo é riqueza não renovável. Não se planta hoje e se colhe amanhã. Ao contrário: o que se extrai, se esvai. Os previdentes, como os Estados Unidos, importam 60% do consumo para não tocar nas “reservas estratégicas” do Texas, patrimônio do futuro. Os outros, como nós, esbanjam eufóricos…

O vencedor do leilão pagará a concessão da área à União com a metade do petróleo extraído. Para compensar danos e despesas com obras públicas, pagará 15% de “royalties”, divididos por igual entre União, Estados e municípios. Dos 5% do governo federal, um terço irá para a Saúde e dois terços para a Educação. Os 10% dos Estados e municípios (sem destino específico) ficam para a farra dos políticos e só resta rezar pelos governadores e prefeitos…

O petróleo é o elemento mais cobiçado da sociedade moderna. Só a água está acima, como necessidade permanente e imprescindível. Mas nem a água, ligada à vida do planeta, gera tanta disputa ou mobiliza tanto poder. Estão aí as guerras e matanças que o petróleo engendrou!

Em tudo do cotidiano, lá está ele, não só nos carros e na poluição do ar. Há petróleo na roupa que vestimos, no asfalto das ruas, nas mil variedades de plásticos e poliésteres – da prótese médica à estrutura de um edifício. Até o sabor dos alimentos industrializados se dá a partir do petróleo.

Na greve de protesto da Petrobras, os engenheiros argumentam que o leilão “é ilegal”, pois a lei diz que as áreas estratégicas são da empresa. “Área estratégica” é a de baixo risco e alta produtividade, caso exato de Libra, sem riscos e tudo já demarcado no maior campo do mundo!

Agora, Exército e Força Nacional vão “garantir o leilão” que entregará nosso petróleo ao alheio. Nos anos 1950, a luta de “o petróleo é nosso” (que criou a Petrobras) era “subversão comunista” e levava à prisão. No doce pré-sal atual, regredimos aos anos amargos?

(Ecodebate, 21/10/2013) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]


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4 thoughts on “Não há riscos econômicos no leilão do Campo de Libra. Só há riscos ambientais. Por Flávio Tavares

  • marcelo de oliveira fonseca

    Incrível como passa governo e sai governo, nossos governantes insistem em vender o patrimônio do país para salvar seus interesses pessoais e sua fome de se manter no poder a qualquer custo.

    Não interessa a legenda ou a ideologia quando o interesse de se manter no poder aparece. Todos os partidos políticos são todos iguais e estão vendendo a “pátria brasileira”.

    Nossos filhos verão o resultado deste governo de esquerda que se diz dos trabalhadores e que está doando a maior riqueza do país para as multinacionais para fechar o “caixa deste ano” que está no vermelho devido ao populismo barato e a incompetência para governar.

    Vamos vender nossa casa, a única que temos para pagar a conta do supermercado deste mês. E no mês que vem estaremos sem a casa e com a conta do supermercado para pagar de novo ……

    Quero ver como os marqueteiros de plantão vão fazer nesta campanha eleitoral em que a dita “esquerda” está utilizando os mesmos métodos neoliberais anteriores para tentar se manter no poder.

    Quero ver como deixarão de ser pedra e virarão vidraça e beberão do seu próprio veneno pois serão os maiores privatizadores de plantão do meu Brasil na próxima eleição.

    Mas isto não importa. Sabe por quê ?

    Somos um país de ignorantes !!!

    Enquanto na nossa “democracia”, a maoiria ignorante vota por ter recebido camisas, bolsas famílias, e outros favores pessoais e não no melhor representante, no mais capaz e competente não vejo como sair desta.

    É a ditadura dos ignorantes.

  • Novamente o Exercito Brasileiro se prestando a um serviço aviltante. Gostaria mesmo de saber que tipo de lavagem cerebral sofre os militares para se dispor à lutar contra interesses nacionais? Gostaria de saber como conseguem olhar na face de seus filhos, sobrinhos e desconhecidos, sabendo que estão protegendo a venda da riqueza do país para o estrangeiro, que bem sabemos, estão nem aí para nós. Só pensam em “descer o Aço”, sei lá, provavelmente descarregando nos civis as mazelas humanas sofridas nos quartéis… Este alienados paus mandados me envergonham profundamente e desde sempre, seja no tempo da ditadura oficial, seja no tempo da ditadura de uma ex-guerrilheira… sinto enfim, vergonha alheia total por eles…

  • Rasputin Karamazov

    Não é intrigante o fato de o PT, eterna oposição antes da escalada ao poder, ter se vendido aos interesses do capital estrangeiro, isto é, da privatização e do comprometimento ao pagamento da dívida pública, tão facilmente… a razão de não o ser é conhecida: o fato é que essas grandes empresas desempenham papéis de protagonistas em nossa economia e, por consequência, em nossa política. Observa-se, desde séculos passados e em diversas nações, principalmente as desenvolvidas, como que a política andou de mãos dadas com a economia, mais especificamente com a economia das grandes empresas multinacionais.
    Outro ponto importante a ser considerado mas que não é tocado é que a Petrobras nunca foi, de fato, nossa. Desde a sua criação o capital estrangeiro esteve ali, batendo à porta. O que se queria, além da criação da empresa em si, era que todas as atividades relacionadas ao petroleo (extração, processamento, distribuição) fossem feitas por “NOSSA” empresa. Mas isso nunca aconteceu.. “forças misteriosas”, parafraseando Jânio, impediram que isso acontecesse.

  • Rasputin Karamazov

    O que precisamos e devemos é lutar por nossas revindicações, visto que a mudança não vem de cima, naturalmente, mas do povo nas ruas… a história nos prova!
    Precisamos de um governo comprometido com o desenvolvimento interno, e não comprometido com as demandas do mercado internacional. Nossa política econômica e, portanto, inevitavelmente social, hoje é voltada para esses interesses externos, altamente influenciada pela corrente neoliberal que se espalhou em princípios de 90.
    Precisamos que os economistas, que tanto interferem em nossas vidas de maneira, as vezes, despercebida, sejam capazes de se opor ao vilanismo que nos é imposto pelo FMI, BID, AID e OMC, organismos internacionais financeiros que direcionam nossa política econômica para esses interesses vis e que consomem grande parte de nosso orçamento anual em consequencia de nossa dívida pubica, que não foi feita pelo povo, mas é paga por ele.
    Resumindo-se, a globalização nada mais é do que a privatização dos lucros e a socialização das perdas…

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