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Não fale com pessoas estranhas… artigo de Montserrat Martins

 

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[EcoDebate] Em meio a polêmica na rádio, sobre um golpista que pedia dinheiro a mulheres pela internet, a conclusão de um delegado foi: “não fale com pessoas estranhas na internet”. Se as pessoas seguissem seu conselho, o delegado acabava com a internet, pois a graça dela é justamente que ali se fala com várias pessoas estranhas, sobre todos tipos de assuntos. Achei que o conselho seria “não dê dinheiro a pessoas estranhas”, que tinha a ver com o golpe em questão, mas a ideia do delegado me remeteu aos primeiros conselhos que se ouve na infância, “não fale com estranhos”.

Golpes existem onde houver ingenuidade, boa fé ou vulnerabilidade emocional. Em momento ou contexto assim, a pessoa se torna vítima potencial de estelionatários. Pessoas em vulnerabilidade emocional devem se precaver, mesmo. Mas o conselho genérico de “não falar com estranhos” tem um outro sentido mais amplo, metafórico, que afeta o tipo de vida que levamos no século XXI. É possível viver, hoje, sem falar “com estranhos”?

A xenofobia na Europa tem a ver com isso, o medo dos diferentes de nós. As brigas de trânsito também, pois como dizia Sartre “o inferno são os outros”. Quer dizer, a culpa sempre é dos outros, apesar de Caetano Veloso nos lembrar que “de perto ninguém é normal” e de séculos de psicanálise na nossa cultura, sobre o “estranho” que habita no nosso inconsciente. Eu por exemplo sou um cara estranho, porque converso com quem não conheço e isso é de família: meu saudoso avô entrava no elevador e perguntava “moça, esse elevador vai para São Leopoldo?”. Brincando assim, ele transformava pessoas desconhecidas em futuras amizades.

Evitar desconhecidos continua válido para crianças, é óbvio, e bem razoável para adolescentes, embora com estes já seja mais difícil protegê-los de golpes, a não ser por uma relação de confiança com os pais, detectando ameaças que a inexperiência juvenil não tenha identificado. Mas o conselho do delegado era para pessoas adultas, alvos do golpe em questão. Muita exposição nas redes sociais envolve riscos, cada um precisa estabelecer suas “configurações de privacidade”.

Precisamos combater os golpes, os estelionatários, mas acho que o delegado não vai conseguir acabar com a cultura da internet, onde milhares de estranhos entre si se unem no “Fora Renan e Feliciano”, entre outras boas causas que aparecem ali.

O “não falar com estranhos”, num debate entre adultos, é que soou estranho.

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

 

EcoDebate, 25/03/2013


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