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O uso da mão de obra infantil é cada vez maior no mundo, segundo artigo ‘Enfeite de Natal, trabalho infantil’

 

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Trabalho infantil é usado na produção de enfeites de Natal – A rede de advocacia Marcha Global contra o Trabalho Infantil resgatou 14 crianças, de 8 a 14 anos, de uma empresa em Nova Deli, na Índia, que trabalhavam na fabricação de enfeites de Natal e presentes para essa época que seriam vendidos nos Estados Unidos e na Europa. Com jornadas diárias de até 15 horas, em espaços pequenos e sem ventilação, eles trabalhavam sob ameaça constante de violência. O resgate foi feito após uma fiscalização surpresa ao local. Matéria no UOL Notícias.

O uso da mão de obra infantil é cada vez maior no mundo, segundo o artigo “Enfeite de Natal, trabalho infantil” [no original Christmas Ornaments, Child Labor], publicado no jornal “New York Times”, pela professora de História Americana Marjorie Elizabeth Wood, da Escola Industrial e de Relações do Trabalho da Universidade Cornell. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), 6 milhões de crianças são traficadas por ano para trabalharem sob a ameaça de agressão física ou restrição física. O trabalho forçado é parte de um problema ainda maior.

Estimativas recentes indicam que há 215 milhões de trabalhadores com idade inferior a 18 anos em todo o mundo, mais de metade trabalha em condições perigosas. Nos Estados Unidos, o Departamento do Trabalho publica uma “lista de bens produzidos por trabalho infantil ou trabalho forçado”, que menciona 134 bens ( incluindo decoração, roupas, eletrônicos, sapatos, joias, acessórios de moda e brinquedos) produzidos em 74 países.

MAIS DEMANDA

Com a temporada de ferias e a maior demanda do consumidor por esses produtos, há escassez de mão de obra. Para lidar com isso, adolescentes e crianças são frequentemente recrutados, ou, como no caso de Nova Deli, traficados para trabalho forçado, cita a professora em seu artigo.

“Pais pobres são muitas vezes levados a vender seus filhos para atravessadores por alguns dólares, depois de serem informados de que os seus filhos vão receber cuidados e uma educação gratuita, e que seus salários serão enviados de volta para a família”, escreve.

No Natal passado, uma investigação em fábricas de brinquedos na China, onde 85% dos brinquedos do mercado americano são produzidos, revelou que cerca de 300 jovens trabalhadores foram recrutados para ajudar com a demanda do feriado.

Outra investigação sigilosa no ano passado em uma fábrica chinesa revelou que crianças a partir dos 14 estavam fazendo carrinhos de brinquedo da Disney, um dos mais vendidos em preparação para a temporada de ferias 2011.

De acordo com o artigo, o trabalho infantil tem aumentando em todo o mundo desde a crise financeira em 2008. Estudo recente da empresa de avaliação de risco Maplecroft mostrou que as cadeias produtivas em 76 países estavam em “risco extremo” de envolver o trabalho infantil, em algum momento – número superior aos 68 países que estavam nas mesmas condições no ano passado.

Entre os países citados no estudo estão os principais parceiros comerciais dos EUA: China, Índia, Brasil, Indonésia e Filipinas. Bangladesh. Nesse último, um incêndio que ocorreu recentemente em uma confecção de roupas matou 112 trabalhadores. “Muitos dos mortos eram mulheres jovens, entre elas algumas com 12 anos de idade”, cita a professora.

LIÇÕES DO PASSADO

A autora do artigo informa que a própria história de combate ao trabalho infantil doméstico no início do século 20 aponta o caminho para uma solução global para o problema atual.

“Assim como hoje, brinquedos e quinquilharias foram feitas muitas vezes por crianças pobres em fábricas e cortiços, mas na própria América. Em 1912, Lewis Hine fotografou crianças de cortiços da cidade de Nova York costurando bonecas e exibiu essa imagens ao lado de fotografias de crianças de classe média, brincando com as mesmas bonecas no Central Parque. As fotografias levaram a Assembleia Legislativa do Estado a proibir no ano seguinte a fabricação de bonecas e roupas de criança, entre outros itens, em cortiços”, informa a autora.

Ainda no início do século 20, em outras ocasiões, outras iniciativas já chamaram a atenção para a questão do trabalho infantil durante a o Natal. “A revista Life capturou com ironia, em um cartum de 1913, o contraste de uma criança trabalhando, fazendo um brinquedo de pelúcia, com uma criança privilegiada que mais tarde iria brincar com ele. E, em um livro popular de 1914, chamado Children in Boundage”, o autor escreveu que as crianças dos cortiços foram “perdendo seus corpos e almas para dar um pouco de alegria para as restantes.'”

“WHITE LABEL”

Defensores das crianças também defenderam boicotes aos produtos fabricados com trabalho infantil, segundo cita o artigo da professora. “Florence Kelley introduziu o “White Label” (Selo Branco, em inglês), dado a empresas que se recusaram a vender produtos que empregaram trabalho infantil”. Na época de Natal, eles orientavam os consumidores a comprarem apenas em lojas reconhecidas como “White Label”.

“O movimento chamou a atenção do consumidor e ajudou a impulsionar a abolição efetiva do trabalho infantil mais industrial nos Estados Unidos em 1938”, diz a professora no artigo.

“Hoje, os interesses comerciais conseguiram frustrar os esforços sérios para diminuir o problema do trabalho infantil no exterior. Apesar de muitas empresas e associações comerciais terem políticas oficiais contra o trabalho infantil, eles não estão clamando por proibições de importar produtos frutos de trabalho infantil”, afirma o artigo. Alguns lobistas, diz, tem até “sucesso lobby contra tal legislação”.

A autora cita a Lei de Repressão do Trabalho Infantil, que proibiria a importação de produtos fabricados por crianças com menos de 15 anos de idade, que não conseguiu ser aprovada desde que o senador Tom Harkin, democrata de Iowa, a lançou em 1992.

“O que nós precisamos agora é um movimento ‘White Label’ para a economia global do século 21. Entre outros, Shima Baradaran, professora de Direito na Universidade Brigham Young, tem defendido o comércio justo com rotulagem de combate ao trabalho infantil. Comércio justo, ela aponta, é um dos mercados de mais rápido crescimento no mundo, e os consumidores seriam menos propensos a comprar os produtos de trabalho infantil se outras opções foram dadas a conhecer a eles”, escreve.

De acordo com o texto, o Departamento do Trabalho dos EUA já realiza uma extensa pesquisa sobre as fontes de commodities nos mercados globais. “Esta informação poderia formar a base de uma campanha de sensibilização sobre os produtos livres de trabalho infantil. Para trazer esta campanha totalmente para a era digital, as organizações sem fins lucrativos devem patrocinar o projeto de um aplicativo que permite aos consumidores determinar se os produtos são livres ou não de trabalho infantil. [Já existe um aplicativo localizador ‘Feira’ que ajuda os consumidores a localizarem lojas próximas que vendem produtos de comércio justo. Uma aplicação específica para mercadorias livres de trabalho infantil poderia servir a um propósito similar]”, escreve a professora

“Através das escolhas que fazem no mercado, os consumidores têm o poder de inverter a tendência do trabalho infantil global. E, como o maior mercado consumidor do mundo para mercadorias fabricadas com mão de obra infantil é o norte-americano, são eles que devem liderar esse caminho. Na época de dar, e com Ano Novo se aproximando, não há melhor tempo para encontrar uma forma de resolver a questão”, finaliza a autora.

EcoDebate, 26/12/2012


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