Câncer no Cérebro, artigo de Efraim Rodrigues
[EcoDebate] Ronald A. Fisher foi um estatístico internacionalmente respeitado. Seu método de Análise de Variância, com 100 anos de idade, continua sendo um padrão experimental. Ronald Fisher, no entanto, publicou vários artigos mostrando que o fumo não causa câncer. Ele era consultor remunerado da indústria do tabaco.
Meu querido orientador em Harvard, Otto Solbrig, hoje aposentado, publicou seu primeiro artigo cientifico, em 1945, sobre os benefícios dos inseticidas organoclorados. Na época não se sabia sobre seus efeitos cancerígenos (do inseticida, não dele).
Interesses pessoais e desconhecimento fazem com que estejamos sempre sujeitos aos efeitos das novas tecnologias. Por centenas de anos temos repetido o enredo de descobrir, usar e só depois atentar para as conseqüências negativas, quando então limitamos o uso.
Coloque o telefone celular em sua lista de tecnologias potencialmente nocivas. O Professor sueco Lennart Hardell publicou um artigo chamado Uso de telefones celulares e tumores cerebrais: risco maior associado ao uso por mais de dez anos. Telefone celular é um emissor de radiação que colamos em nosso cérebro. Testes iniciais e já considerados ultrapassados apontaram para um limite de 1,6 W/kg. Porém, o mesmo celular usado por crianças (com menos kg) poderá facilmente atingir este limite.
Nesta semana, enquanto nossos parlamentares prepararam o cenário para perdoar R$ 10bi de multas em desmatamentos fingindo não ouvir as universidades (voltaremos a este tema quando o Senado for votar isto), seus colegas norte americanos preparavam o cenário para submeter a indústria de equipamentos sem fio à pesquisa científica. O Deputado Dennis J. Kucinich está propondo legislação para que o governo invista recursos para que pesquisadores isentos, não remunerados pelos próprios interessados, digam quando e como telefones celulares causam câncer. Os telefones também deverão passar imediatamente a trazer a radiação que emitem.
Uma prova que tem coelho neste mato é a preocupação da própria indústria. Assim como os produtores de cigarro contrataram o melhor estatístico, também a CTIA suspendeu sua feira anual em São Francisco, depois que esta cidade independentemente passou a exigir que os celulares exibam a quantidade de radiação emitida. A coisa é tão séria que há até um manual da CTIA sobre como responder perguntas embaraçosas. Veja em http://www.mast-victims.org/resources/docs/CTIA-cellphone-health-manual.pdf
Seguindo o principio da precaução, economia e da sanidade mental, passei meu plano para pré-pago. Quanto maior a distância deste emissor de microondas ficarei mais rico, saudável e em paz.
Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), colunista do Portal EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA. Publica o blogue Ambiente por Inteiro.
EcoDebate, 12/03/2012
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