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O principal desafio da Rio+20 será a erradicação da fome do mundo, artigo de Marcus Saussey

 

[EcoDebate] A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável , a Rio +20, terá o seu escopo reduzido, diferentemente do que ocorreu durante a Rio 92, onde durante quinze dias de Conferência, os líderes mundiais aprovaram documentos importantes como: a Convenção do Clima e da Biodiversidade, a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Declaração sobre Florestas e a Agenda 21.

Duas décadas após a realização da Rio 92, apesar da situação do planeta ter se agravado, a Rio +20 não irá abordar grandes desafios planetários como: o aquecimento global, escassez de água, biodiversidade, energias renováveis e dessertificação. Tampouco abordardará questionamentos mais profundos como: Qual é o tipo de progresso que queremos para o futuro de forma a possibilitar que o desenvolvimento seja de fato sustentável?

O capítulo 4 da Agenda 21 enfatiza que a principal deteorização da qualidade ambiental se dá por padrões insustentáveis no que se refere à produção e consumo nos países industrializados. Afirmando ainda que o desenvolvimento sustentável só será alcançado caso haja uma relação harmônica entre os processos de produção eficiente de bens, serviços e mudanças nos padrões de consumo. O sistema econômico intensivo na utilização de recursos naturais escassos poderá culminar em sua própria insustentabilidade, em médio prazo, caso não haja a revisão dos padrões de produção, consumo e descarte de bens.

Vivemos cada vez mais sob os auspícios da transição no que se refere à elaboração de novas formas de desenvolvimento. O grande desafio do século XXI será o de projetarmos e construirmos uma economia, que diferentemente do modelo capitalista, possa assegurar o progresso da humanidade sem destruir os seus sistemas de sustentação e que proporcione uma vida melhor para todos.

O tema “sustentabilidade” é a questão central para que se estabeleça uma cosmovisão ecológica, sendo também um dos principais paradigmas contemporâneos na busca pela harmonia entre o homem, desenvolvimento e meio ambiente.

Tanto o conceito de desenvolvimento sustentável quanto o de sustentabilidade, por não serem sinônimos perfeitos, apresentam ambíguidades e controvésias no que se refere às suas respectivas definições. Entretanto, tais conceitos se tornaram domínio público e vem sendo cada vez mais utilizados por governos e instituições meramente como forma de melhorar a imagem pública dos mesmos face aos mercados.

Uma das metas 8 metas estabelecidas pela ONU para serem cumpridas até 2015 sugere que sejam desenvolvidas políticas e programas ambientais entre as Nações. A crítica que se faz a esta meta reside tanto no fato de não terem sido estabelecidas diretrizes claras e factíveis de como as Nações formulariam suas políticas e programas ambientais uma vez que não possuímos órgãos de fiscalização, monitoramento e controle ambientais planetários. O termo sustentabilidade ambiental foi novamente utilizado como sendo uma espécie de fórmula mágica capaz de vir a contribuir para soluções de problemas existentes ao longo do Globo por séculos.

A Rio +20, programada para acontecer no mês de junho , enfatizará os seguintes temas: erradicação da pobreza e a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável.
Diante dos temas propostos para o debate durante a Conferência o maior desafio será a promoção de acordos internacionais reais que visem a erradicação da fome no mundo considerando os seus numerosos aspectos e causas diversificadas.

A pobreza contribui para o aumento do número de vítimas de subnutrição e fome no mundo. Apesar de todo o avanço tecnológico e científico ocorrido nos últimos séculos, ainda há pessoas vivendo com rendas inferiores a U$ 2.00 por dia per capta . Estas pessoas, em sua maioria, vivem em zonas rurais onde a propriedade da terra está concentrada nas mãos de um número pequeno de indivíduos. Cabe ressaltar que o solo apesar de ser o principal suporte à vida e ao bem estar do homem é visto como sendo meramente uma “commodity” econômica.

Os líderes mundiais não devem subestimar as dimensões da problemática na produção dos alimentos de forma a manter a estabilidade dos preços nos mercados mundiais. Caso isso aconteça: poderemos ter um número ainda maior de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza em um período de tempo mais curto, do que qualquer acontecimento na história.

O mundo precisará investir mais em pesquisas e infra estrutura na área agrícola; tendo ainda como grande desafio a desaceleração do crescimento populacional e a reestruturação da economia hídrica mundial através do uso de grãos e água de forma eficiente. Caso contrário: a escassez de recursos hídricos poderá contribuir para a produção de alimentos insuficientes para alimentar a população mundial.

Os governos precisarão assumir o compromisso de ampliarem suas governanças socioambientais através do estabelecimento de acordos participativos, multilaterais e politicamente livres. A erradicação da pobreza só poderá ser estabelecida de fato caso haja maciços investimentos financeiros e sociais em pesquisa, educação, saúde e pela geração de empregos. Não podemos mais separar os esforços necessários para construir uma economia ambientalmente sustentável dos esforços necessários para satisfazer as necessidades do mundo pobre e faminto.

O mundo precisará estabelecer um modelo de desenvolvimento não somente ecologicamente sadio mas que principalmente propricie o desenvolvimento equitativo de distribuição de renda entre as Nações, uma vez que a desigualdade inviabiliza o desenvolvimento sustentável. A sustentabilidade só poderá ser estabelecida através da prevalência da ética da igualdade entre as Nações

Marcus Saussey – Especialista em gestão ambiental pela USP e diretor da empresa social em educação ambiental Energy Marcon

EcoDebate, 12/03/2012

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3 thoughts on “O principal desafio da Rio+20 será a erradicação da fome do mundo, artigo de Marcus Saussey

  • Muitíssimo pertinente. Parabéns pelo artigo!

  • Concordo plenamente!

  • Este artigo é o que nos cidadãos esperamos verdadeiramente que os coordenadores, chefes de estado, gestores e políticos caiam na real. Infelizmente, os países que mais sofrem com a questão da pobreza extrema, estão atrelado a um processo histórico perverso e cíclico, onde ´paneas medidas paleativas são tomadas para sanar estas mazelas históricas. A questão etnico demográfica, é um problema que perola todas as esferas polícas econômica e ambiental em continentes como africano, alguns países da américa do sul, etc. A questão da reforma agrária devria ser um ponto levado á seprio aqui em nosso país , que quer aprovar código ambiental pra favorer a quem não é de direito, mas sim a transnacionais e a uma agricultura medícre que está á serviço do capitl internacional, volátil e corrupto. Não há fórmula mágica para demasido número de problemas que circundam nosso país, mas há princípios básicos de soliedariedade e ética, não queremos assistencialismo fascista e hipnótico, mas sim, dignidade e fazer os direitos de cidadão, o que nós” deveria ser garantido no artigo 5 de nossa CF”. Parabéns vc author , por nos chamar atenção para um problema de todos e não apenas o egocentrismo do capital.

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