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Artigo

TEIb e hábitos culturais, artigo de Bruno Peron Loureiro

 

[EcoDebate] Os governos latino-americanos finalmente reconhecem que faltam políticas para aparelhar eficaz e suficientemente os Estados em comparação com a estrutura galopante de instituições privadas (e que tendem a concentrar capital e investimentos) para acompanhar as mudanças atuais de produção, circulação e consumo culturais.

A preocupação que surge, porém, é de que países externos à América Latina administrem as indústrias comunicacionais, parte das quais eles mesmos criaram, e deixem-nos, portanto, com poucas iniciativas próprias. Este processo tem ocorrido através do “ibero-americanismo” e da fundação de organismos multilaterais com sede na Espanha.

Os intercâmbios culturais têm sido mais intensos devido aos novos suportes digitais e ocorrem entre os níveis local, nacional e global. Desde este diagnóstico, organismos sediados fora da América Latina, mas com atuação forte em nossa região, possuem entendimento preciso destes processos e, portanto, elaboram políticas e projetos aos novos hábitos culturais que, por vezes, ultrapassam o cenário sobre o qual os governos projetam suas ações.

Dentro deste contexto, criou-se, há quase vinte anos, a Televisão Educativa e Cultural Ibero-Americana (TEIb) como um Programa de cooperação das Cúpulas Ibero-Americanas de Chefes de Estado e de Governo. A TEIb surgiu da II Cúpula Ibero-Americana em Madri, Espanha, entre 23 e 24 de julho de 1992, onde se reuniram presidentes de vários países deste âmbito de cooperação. O embrião deste Programa provém do projeto “Comunicação para a Cooperação” e apresentou-se à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no ano anterior a fim de ofertar um serviço público de televisão.

O Programa continua ativo e aberto às transformações de época quase duas décadas depois de sua fundação. Enfoca os cidadãos de países ibero-americanos – destarte se distancia do afã de rendimentos que norteia os atores geralmente envolvidos em empreendimentos deste gênero – e almeja a promoção de identidades próprias nos âmbitos da ciência, cultura e educação através da coprodução, difusão e intercâmbio de conteúdos audiovisuais. Este Programa é ciente, por conseguinte, do papel dos meios de comunicação – principalmente a televisão – no desenho da cidadania.

Qualquer organismo que associe a “cidadania” ao seu conteúdo programático tende a ponderar, minimamente que seja, sobre os desafios de educar as pessoas para usufruir responsavelmente dos benefícios da televisão, a internet e os aparelhos de convergência digital (celulares, computadores portáteis, iPods, tablets) sem o risco de que sejamos digeridos pela tecnologia.

A TEIb dispõe de infraestrutura avançada e parcerias internacionais para transmissão de seu conteúdo, que também interessa a agentes privados. Sua programação alcança quatro continentes (América, Europa, Ásia e África) em vários suportes (televisão analógica, televisão por satélite, televisão por assinatura, internet, rádio). Paraguai aderiu-se recentemente ao Programa.

Organismos com sede na Espanha têm feito pelos países latino-americanos o que é papel de nossos Estados e instituições civis, apesar de que agentes privados também estão aptos a patrocinar o interesse “público”, como o que diz respeito ao coletivo, o compartilhamento e o encontro tolerante entre as pessoas por mais distintas que elas sejam.

Ainda, a TEIb foi um dos patrocinadores da criação do “Canal Ler” de televisão na internet, que visa a fomentar a leitura nos países ibero-americanos através dos novos formatos digitais. Esta iniciativa demonstra que o Programa está bem sintonizado com as mudanças dos meios digitais. Surgem os adeptos do livro eletrônico e a dispensa do papel.

Como melhorar o nível de cidadania das pessoas através dos novos hábitos culturais digitalizados, mediatizados e tecnologizados? Quem poderá assumir a dianteira nesta tarefa premente sem se dominar por intenções privadas? A resposta indicará um caminho para a transformação educativa que faremos e pela qual passaremos nos próximos anos.

Colaboração de Bruno Peron Loureiro, mestre em Estudos Latino-americanos, para o EcoDebate, 03/01/2012

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